Imagem de Pokémon Sword/Shield
Imagem de Pokémon Sword/Shield

Pokémon Sword/Shield

Nota do Voxel
85

Pokémon Sword e Shield agiganta a fórmula com mudanças bem-vindas

Lembro como se fosse hoje o dia em que ganhei meu primeiro Game Boy Color, um verde kiwi, no Natal de 2000. Fiquei pouco mais de três meses sem sequer encostar no console, já que eu não tinha jogo algum para rodar. Meu primeiro game, Pokémon Yellow, foi um presente inesperado de uma franquia que eu mal conhecia. Quem comprou o presente foi meu pai, uma pessoa desprovida de conhecimento de games e que, felizmente, acabou escolhendo o jogo pela capa.

Pokémon Yellow era a aventura que eu sempre almejei, só que até então não sabia que queria. Depois de centenas de horas mergulhado em Kanto, Pokémon passou a ser parte da minha vida e me fez querer consumir tudo relacionado à franquia. Quase vinte anos depois, Pokémon Sword e Shield chega ao mercado para tentar, enfim, desabrochar o potencial evolutivo da série mais lucrativa do mundo, no console que está mais em evidência atualmente.

Eu preciso ser honesto: a ansiedade ao ver a tela inicial de Pokémon Sword e Shield foi a mesma que tive lá no início dos anos 2000, a mesma de quando experimentei pela primeira vez Gold & Silver e Black & White, ambos favoritos da lista. Depois de pouco mais de 30 horas imerso em Galar, fui finalmente capaz de definir se os novos jogos correspondem às expectativas. Sem mais delongas, confira a nossa análise completa:

Novos ares: de Alola à região de Galar

Pokémon Sword e Shield deixa de lado o cenário paradisíaco do arquipélago de Alola, de Pokémon Sun & Moon, para guiar o jogador à nova região de Galar, baseada no Reino Unido. A atmosfera britânica se traduz em cidades que fusionam arquitetura vitoriana e contemporânea, vastas planícies e temperaturas mais baixas, uma mudança drástica em relação ao clima ensolarado de Alola.

Antes de desembarcar em Galar, você pode escolher um avatar do zero para iniciar a aventura. A partir daí, a jornada começa como em qualquer outro game da série: para surpresa de ninguém, o objetivo é vencer os líderes dos ginásios e se tornar um mestre Pokémon. A narrativa, no entanto, se diferencia pela presença de personagens carismáticos e um pano de fundo um tanto enigmático. Foram pouco mais de 23 horas de jogatina até que o último crédito rolasse na tela.

O atual campeão de Galar, Leon, vê potencial no seu personagem e decide prepará-lo para ser um grande treinador. Hop, por sua vez, o irmão do grande ídolo, desempenha o papel de rival e naturalmente escolhe um monstro inicial cuja fraqueza vai depender da sua escolha de monstro inicial. Ambos personagens têm papel fundamental na trama, ainda que Hop protagonize alguns diálogos sem grande importância e não seja, a meu ver, um antagonista à altura.

Sem se aprofundar muito nos detalhes, a narrativa convida o jogador a percorrer dois caminhos interligados: o de se tornar um mestre Pokémon e o de resolver um mistério que se conecta ao fenômeno Dynamax e envolve as duas criaturas lendárias, Zacian e Zamazenta. Apesar de não reinventar a roda, a história é conduzida com ótimo ritmo, uma vez que há menos diálogos e missões dispensáveis. Também é importante ressaltar que Sword e Shield não exige conhecimento prévio dos jogos anteriores. Pelo contrário: a aventura é redondinha e uma porta de entrada a quem deseja ter o primeiro contato com os monstros de bolso.

Enfim, a tal liberdade

Logo na primeira hora, você estará totalmente livre para explorar a Wild Area, a grande novidade de Pokémon Sword e Shield. Trata-se de uma ampla área explorável, recheada de Pokémon, que funciona de forma semelhante às zonas de Safari – só que em escala muito maior. É na Wild Area que você encontra alguns Pokémon de nível mais alto no melhor estilo MMORPG, confronta criaturas gigantes em Max Raids, interage com acampamentos de outros jogadores e estreita a relação com o seu grupo de até seis Pokémon.

A Wild Area fica fora do caminho entre rotas e cidades e é uma espécie de mapa independente, um mundo aberto, ou seja, você não precisa mais de movimentos HM para explorar todos os cantos. O local promove uma interação online bem legal, visto que é possível entrar em acampamentos de outros jogadores para cozinhar – e reabastecer os pontos de vida do seu time –, conversar e brincar com os monstrinhos, além de confrontar criaturas gigantes em batalhas online para até quatro treinadores. Sem pestanejar, a Wild Area foi onde passei a maior parte do tempo tentando criar e obter novos Pokémon e, sinceramente, eu não desejo sair de lá tão cedo.

Um ponto interessante é que, pela possibilidade de encontrar monstros de nível mais alto logo no início, na Wild Area, a dificuldade do jogo por ser consideravelmente amplificada. Afrontar monstros mais poderosos pode ser uma boa pedida a quem deseja um desafio maior – até porque, a aventura é bem acessível e não propõe muitos obstáculos ao longo do caminho.

Poucas, mas boas mudanças

A Max Raid, uma novidade herdada de Pokémon GO, funciona de maneira simples: encontre pelo mapa um covil iluminado, forme uma equipe com outros jogadores – ou NPCs – e confronte um monstro gigante para obter prêmios especiais e ainda ter a chance de capturá-lo. Em geral, os Pokémon de Raid têm atributos superiores aos selvagens, portanto é uma ótima ideia colecioná-los se a sua intenção for levar o modo competitivo a sério.

Com relação ao tradicional combate em turno, quase nada mudou. Sei que muita gente não aguenta mais o  sistema de batalha de Pokémon e não vê a hora de experimentar um gameplay mais atual nos jogos principais. De fato, o combate tático está estagnado há anos, mas não há como negar que ele continua sólido. Graças às mecânicas de Dynamax e Gigantamax, as lutas ganham um novo fôlego com transformações em momentos críticos e inesperados.

Para que não haja dúvidas, é importante saber distinguir Dynamax e Gigantamax. Basicamente, qualquer Pokémon assume uma forma gigante pela técnica Dynamax, disponível durante três turnos, mas nem todos conseguem usar a Gigantamax para modificar a estética.

Com a inserção dos novos recursos, eu nem lembrei da existência do Z-Move e da Megaevolução, posto que um Pokémon mastodôntico, transformado a partir da Dynamax, também pode usar versões especiais de seus golpes para atacar com mais eficiência. Ou seja, é o pacote completo. Entre as mecânicas que estão frescas na memória, considerando as duas últimas gerações, a Dynamax tornou-se a minha favorita.

Dando continuidade ao que foi visto em Let's Go, Sword e Shield dá uma atenção ainda maior às interações entre treinador e monstrinhos. Se antes era possível interagir com eles em momentos pontuais da jornada, agora há um local apropriado para isso: o acampamento. É muito gostoso passar um tempo observando, brincando e até conversando com o seu grupo principal de Pokémon. Você também pode alimentá-los com comidas deliciosas feitas na hora a partir de berries e outros ingredientes, o que garante alguns pontos extras de experiência ao time todo.

O acampamento em si não é algo inovador e sequer muda a dinâmica que já conhecemos de Pokémon, porém é uma adição muito bem-vinda ao sistema de progressão. É ótimo ver que o lado de criador Pokémon está sendo cada vez mais explorado nos últimos games, já que contribui para quebrar a monotonia entre caçadas e ginásios.

A melhor geração desde Black & White

Debater as gerações de Pokémon é como discutir sobre qual time de futebol é melhor. Não existe certo ou errado, é uma questão totalmente subjetiva. Na minha humilde opinião – que é uma entre milhares –, Sword e Shield, oitava geração da franquia, é a melhor desde Black & White, que nos introduziu à quinta. A Game Freak foi capaz de criar uma lista consistente ao dosar criaturas fofas e humanoides, com muitas opções claramente projetadas ao cenário competitivo. Talvez falte um pouco de carisma aos iniciais da atual geração, mas há muitos coadjuvantes que roubam a cena.

Entre os destaques, temos alguns Pokémon concebidos com uma temática musical em mente, como Toxtricity, que usa a pele em sua barriga como cordas de guitarra, e Obstagoon, um Pokémon à la Gene Simmons, da icônica banda Kiss. De verdade, não me recordo de ter presenciado uma geração tão diversificada, embora haja uma ou outra criatura genérica no bolo.

Parece que a Game Freak andou ouvindo os mais variados braços do rock inglês para desenvolver certos personagens. O líder do sétimo ginásio, Pier, da cidade Spikemuth, é vocalista de uma banda de rock, e sua amiga, Marnie, também segue os passos da banda. A equipe Rocket da vez é o Team Yell, um grupo de punks arruaceiros cujo maior desejo é ver Marnie se tornar campeã da liga. O uso de referências musicais dá um novo frescor aos moldes dos personagens que já estamos cansados de ver e é um ponto positivo à desenvolvedora.

Como era de se esperar, algumas espécies de Pokémon contam com suas próprias formas regionais que, em Galar, são conhecidas como Galarian. Weezing, por exemplo, presença garantida no time da Equipe Rocket, ganhou uma versão do tipo fada e agora conta com um charmoso bigode de fumaça, com chapéu que se assemelha a uma chaminé de fábrica.

Ponyta e Rapidash, ambos do tipo do fogo, trocaram as chamas de suas jubas por versões coloridas em consequência de terem sido expostas à energia vital das florestas de Galar. A lista de formas Galarian só poderia ser um pouco mais numerosa, tendo em vista que é muito bacana ver as criaturas que já conhecemos com um visual repaginado.

Conteúdo generoso

Quem é fã de longa data sabe que o conteúdo pós-jogo de Pokémon costuma ser generoso. E em Sword e Shield a tradição foi mantida. Confesso que não senti tanta falta da National Dex – que engloba todas as criaturas, de todas as gerações – quanto achei que fosse sentir antes de efetivamente colocar as mãos no game. Depois de fechar a campanha com 158 criaturas descobertas, me dei conta de que terei  que me dedicar arduamente à tarefa se quiser pegar todos as 400 da lista. Isso sem contar as mais de 200 horas, chutando baixo, que serão exigidas na busca por versões Shiny.

Além da missão de capturar todos (ou melhor, todos que estão disponíveis), você pode se aventurar pela Battle Tower, introduzida na segunda geração, lá em Pokémon Crystal, onde é possível disputar batalhas sequenciais contra NPCs nos moldes do cenário competitivo. Trata-se de um treinamento pra valer. À medida que você sobe no ranking, novos desafios e treinadores são desbloqueados na torre para que você possa acumular BP e comprar Mints e novos TMs. É tudo bem simples e divertido.

Independente da versão escolhida, o game disponibiliza uma missão pós-história que vai conduzi-lo ao Pokémon lendário. Além disso há muitas missões escondidas pelo mapa nas quais é possível adquirir novos cartões de treinador e, é claro, criaturas aptas ao Gigantamax.

O conteúdo pós-jogo ainda contempla um modo multiplayer bem direto ao ponto, que não traz novidades, mas que entrega exatamente o que os fãs esperam: partidas ranqueadas e casuais. O competitivo de Pokémon sempre foi sólido o bastante e, honestamente, não vejo necessidade de mudança em um sistema que continua anos-luz adiante de muito jogo online de estratégia.

Ainda sobre o modo online, Sword e Shield permite trocar os monstrinhos por meio de um sistema puramente funcional, embora tenha muitos problemas de conexão e uma interface um tanto quanto obsoleta – que, cá entre nós, abraça a estrutura online um pouco defasada da Nintendo.

Faltou dar um tapa no visual

A parte técnica de Pokémon Sword e Shield foi, de longe, o tema mais discutido nas redes sociais nas semanas que precederam os lançamentos em 15 de novembro. De certa forma, as críticas da internet estavam certas: os novos jogos carecem de polimento e estão cheio de bugs, com direito a NPCs e Pokémon sumindo e brotando na tela sem a menor explicação. Até que ponto conseguimos tolerar limitações técnicas em prol da diversão?

Pra ser sincero, não houve o salto gráfico que muitos esperavam – longe disso. Na verdade, o novo Pokémon é tecnicamente limitado se considerarmos que o Switch reúne jogos que demandam muito mais do potencial do console, como Astral Chain, The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age. A própria adaptação de The Witcher 3: Wild Hunt, lançada recentemente, é a prova viva de que a capacidade do console híbrido é maior do que se imagina.

Com relação às animações, muito do que se vê em Sword e Shield parece ter sido reaproveitado dos games recentes de 3DS. Não vou generalizar, até porque certas sequências são visualmente bem-feitas, o que inclui as caprichadas transformações Dynamax. Só que a qualidade oscila e esse é o grande problema. Essa falta de polimento é injustificável e, a meu ver, atrapalha a experiência como um todo.

Por outro lado, o conceito de um mundo mais aberto caiu como uma luva na afamada receita de Pokémon. Sem exagero, temos alguns dos cenários mais bonitos de toda a franquia, com destaque às cidades e ao design das criaturas, apesar dos deslizes visuais. O jeito é tentar, na medida do possível, abstrair de todas as falhas técnicas e seguir jornada. Afinal, muitos dos pontos falhos podem e devem ser corrigidos por meio de atualizações.

Veredito

Convenhamos: a Game Freak não tentou reinventar a roda e isso pode ser decepcionante a quem ansiava por reformulações nos games principais. É claro que sempre há espaço para melhorias, principalmente no quesito técnico da coisa. Acredito que um pouco de ousadia (e menos preguiça) por parte do estúdio seja suficiente para retomar a relação desgastada com a parcela de fãs insatisfeitos.

Contudo, não há como descreditar o fator diversão, que é o que o novo Pokémon tem de mais valioso, e é preciso ressaltar sua capacidade de nivelar nostalgia e modernidade na mesma proporção. Sword e Shield incrementa o tempero tradicional de Pokémon com novos ingredientes e se torna uma ótima porta de entrada para essa fórmula viciante que consagrou a franquia. Se Pokémon já fez parte da sua vida, você vai se sentir em casa mais uma vez.

Pokémon Shield foi gentilmente cedido pela Nintendo para a realização desta análise.

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Pontos Positivos
  • Maior liberdade de exploração desde o início
  • Conteúdo generoso
  • A oitava geração está entre as mais legais
  • Dynamax é uma ótima mecânica para revigorar o sistema de batalha
  • A Wild Area por si só já vale o tempo gasto
  • Acampamentos e Max Raid estão entre as mudanças bem-vindas
  • História mais direta e com bom ritmo
  • Possibilidade de dificultar a experiência
Pontos Negativos
  • Limitado tecnicamente
  • Algumas animações bem aquém do esperado
  • Estrutura online deixa a desejar