Imagem de New Tales from the Borderlands
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New Tales from the Borderlands

Nota do Voxel
67

New Tales from the Borderlands erra onde não podia

Não há forma melhor de começar esse texto do que dizendo que sou um grande fã de Borderlands. Sempre me diverti com a mistura de humor ácido, tiroteio desenfreado e busca por loots que provavelmente eu não usarei. A fórmula criada pela Gearbox deu muito certo desde sua criação, em 2009, e atingiu seu ápice em 2012, com o lançamento de Borderlands 2.

No meio dessa bagunça, houve um ponto fora da curva. Em parceria com a Telltale, conhecida por seus jogos point and click com grande destaque para a narrativa e tomada de decisões, foi lançado entre 2014 e 2015 os cinco capítulos de Tales from the Borderlands. O título deixou o tiroteio de lado para dar foco total na comédia e na relação entre os personagens que habitam esse universo no mínimo doentio.

Sete anos depois, dessa vez sem a parceria com Telltale (que acabou e voltou nesse meio-tempo), a Gearbox lança New Tales from the Borderlands, continuação espiritual que se aproveita do estilo de seu antecessor enquanto tenta apresentar sua própria pegada narrativa e mecânica. Após fechar o jogo, com quase 9 horas de gameplay, pode-se dizer que algumas novidades são bem-vindas, mas há diversas questões que me deixaram com uma pulga atrás da orelha e definitivamente comprometeram minha experiência. Confira a nossa análise completa a seguir.

Mas é só isso?

Uma cientista brilhante, mas atrapalhada. Um marginal cujo sonho é ser famoso. Uma dona de uma loja de iogurte gelado. Dificilmente Anu, Octavio e Fran, respectivamente, seriam protagonistas solo. A premissa de cada um é interessante, mas individualmente não têm substância suficiente para sustentar uma história. É aí que entra o pulo do gato: eles não precisam entregar nada de forma individual.

Em quase toda sua duração, New Tales from the Borderlands mantém os três juntos, trabalhando as diferenças em suas personalidades e desenvolvendo suas relações. Quando os separa, a partir do segundo capítulo, deixa o motor aquecido o suficiente para não desacelerar o ritmo. Claro, há momentos que não dá certo, como no final do terceiro episódio, em que a interação de duas personagens parecem mais uma "encheção de linguiça" do que algo essencial para a progressão do enredo. Não vou especificar para evitar spoilers, mas já adianto que isso não é um dos problemas do jogo.

Não é o poder da amizade, mas é tipo isso.Não é o poder da amizade, mas é tipo isso.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Problema mesmo é como a Gearbox não entendeu o que definia um jogo da Telltale e, ao tentar replicar a fórmula do seu jeito, deixou grande parte da jogatina entediante. A gameplay é composta basicamente de escolhas de falas, que alteram o rumo da trama e afetam diversos detalhes da narrativa, e quick time events, em que é necessário apertar um botão ou fazer uma sequência de movimentos para ter sucesso em uma ação.

Isso tornou minha experiência muito mais pobre e passiva, como um mero observador, do que ativa, me fazendo ficar esparramado em minha cadeira, deixando o controle em uma apenas uma mão por saber que seriam poucos os momentos que eu seria acionado para fazer algo. Não só isso, mas a desenvolvedora ainda colocou uma opção de acessibilidade no menu que pula todos os quick time events.

Essa é só uma das muitas escolhas que teremos de fazer.Essa é só uma das muitas escolhas que teremos de fazer.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Falar isso não é analisar um jogo pelo que ele poderia ser em vez do que ele é, mas sim notar que houve um problema na concepção de sua ideia. Quando penso em títulos como The Wolf Among Us ou o próprio Tales From The Borderlands, lembro-me de explorar cantos do cenário, buscar pessoas para conversar e até procurar itens para resolver pequenos quebra-cabeças. É frustrante saber que não colocar isso como parte fundamental das mecânicas de gameplay foi uma escolha consciente da desenvolvedora, porque há curtos momentos em que fazemos exatamente isso.

Um exemplo é logo nos primeiros minutos do game, quando controlamos Anu em seu laboratório em busca de um cristal de eridium. Ela até mesmo tem tecnóculos, dispositivo que remete muito o olho biônico de Rhys, um dos protagonistas do game anterior, e serve para analisarmos objetos do cenário e desbloquearmos outras opções de interação. Porém, a brincadeira acaba em um piscar de olhos, demorando aproximadamente uma hora para termos outro segmento assim.

Eu só queria um pouco mais disso, é pedir muito?Eu só queria um pouco mais disso, é pedir muito?Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Bonito e esbelto

Qual é o motivo para deixar algo tão importante de lado? O motivo exato eu não sei, mas imagino que seja mocap. Um dos grandes diferenciais de New Tales from the Borderlands é que a tecnologia de captura de movimento e expressões faciais foi utilizada em grande parte do elenco.

Isso é um ponto extremamente positivo que acaba trazendo mais “malemolência” e realismo para os personagens da trama. Ver emoções estampadas em seus rostos, perceber padrões gestuais de cada um e notar suas diferenças comportamentais fazem tudo ser bem mais imersivo, o que é essencial em um game que tem foco total na narrativa.

A raiva está nos olhos de quem vê.A raiva está nos olhos de quem vê.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Mas nem tudo é perfeito. Dois dos três protagonistas, Octavio e Anu, parecem ter problemas nas expressões faciais, com o resultado não sendo tão bom quanto outros personagens. Devo admitir que não sei ao certo foi por conta do time de animação ou se a culpa é dos próprios atores, mas o fato é que isso me desagradou um pouco.

Ainda na parte de visuais, vale dizer que o game é muito bonito. Largado de mão o motor gráfico Telltale Tool, a Gearbox utiliza mais uma vez a Unreal Engine 4, assim como foi em Borderlands 3. Ela ameniza um pouco a pegada cartoon que a série tem, mas mantém todo o charme que Pandora e Promethea sempre tiveram.

Isso é tão Borderlands que eu não consigo descrever de outra forma.Isso é tão Borderlands que eu não consigo descrever de outra forma.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Qual é o limite do humor?

Outra marca registrada da franquia é o humor ácido, mas essa questão acaba sendo um pouco mais complexa. Todas as piadas idiotas, ironias, sarcasmos e trocadilhos que os fãs amam estão presentes, mas a Gearbox acabou usando tanto desses artifícios que me cansou rapidamente.

Como uma vez disse o lutador profissional Ace Darling: “A audiência possui uma quantidade limitada de aplausos. Se você usar todos cedo, não sobrará nada no evento principal.” Foi exatamente isso o que senti durante a jogatina. Mesmo com ótimas piadas sendo feitas, a superexposição me desmotivou a rir.

Essa cena é total e completamente vergonhosa, devo dizer.Essa cena é total e completamente vergonhosa, devo dizer.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Isso atrapalhou também o clima de cenas mais sérias e reflexivas. São poucos os momentos que o abandono fraternal de Octavio por Anu é abordado da forma que deveria. O mesmo vale para o passado de Fran e até o que significa ser famoso para Octavio.

Nos outros jogos da franquia, isso não acontecia. Enquanto na vertente FPS o tiroteio dava espeço para nos recuperarmos entre uma piada e outra, o antigo Tales from the Borderlands usava a exploração de cenários que comentei anteriormente para amenizar isso. Já nesse jogo, é um erro crasso que mostra uma aparente falta de conhecimento da própria Gearbox do que faz Borderlands ser tão divertido.

Nada de lugar comum

Ao mesmo tempo, a desenvolvedora sabe de alguns clichês que são sempre abordados e tentar revertê-los. Não só nenhum dos protagonistas é um Vault Hunter, ou Arcadeiro, como não sabem empunhar armas direito. Eles são pessoas normais, com problemas normais, colocando mais humanidade na trama.

Pessoas normais passando por portais grandes.Pessoas normais passando por portais grandes.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Todo o elenco de personagens, tanto principais quanto secundários, são extremamente carismáticos. Eles se comportam de formas diferentes, são bem claros nas intenções e pensamentos sobre determinadas situações e funcionam muito bem juntos. É realmente difícil não se importar com muitos deles ou mesmo querer passar mais tempo com algum que tem pouco tempo de tela.

Outra coisa interessante é como o objetivo final não é a busca por uma arca, colocando o foco em outros problemas e questões daquele planeta, o que gera imprevisibilidade na história. Por outro lado, eles acabam “envenenando” um momento que é historicamente épico para a série, relacionado à batalha contra o protetor da arca, com piadas e mais piadas. É um incômodo pessoal que provavelmente não vai afetar novatos ou quem jogou somente Tales From The Borderlands, mas fãs de longa data devem se incomodar.

Devo admitir que esse monstro aqui é de respeito.Devo admitir que esse monstro aqui é de respeito.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Eles até tentam…

Olha, não dá para ser injusto e terminar o texto aqui sem citar duas tentativas de variedade na gameplay que foram apresentadas pela Gearbox, ainda que elas não tenham sido efetivas nesse quesito.

Em certos momentos da história, um personagem precisa fazer alguma ação, como hackear algum aparelho ou consertar um dispositivo, e com isso há minigames. Eles podem ser de apertar incessantemente um botão dentro do tempo limite ou bater em uma parte específica do item, nada muito complexo, e essa falta de complexidade torna esses momentos passáveis. E é passável mesmo, tem até uma opção para pular quando eles entram na tela.

Nem a própria Gearbox faz questão desses minijogos.Nem a própria Gearbox faz questão desses minijogos.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

A outra tentativa são as Batalhas de Arcadeiros, que são combates entre personagens conhecidos e novos da franquia Borderlands. Descrevendo assim, até parece algo empolgante, mas não passa de mais um minigame. Esse, no caso, temos que esmurrar um botão e passar por quick time events fáceis. Eles aparecem em momentos específicos da trama e tem tanta dificuldade quanto profundidade: nenhuma. O mais interessante dele é caçar as miniaturas espalhadas por aí nos poucos momentos em que andamos livremente pelo cenário.

É por isso que eu tratei ambas como tentativas. Visivelmente eles quiseram adicionar alguma substância a mais na gameplay, mas fracassaram por um provável medo de complicar demais para a parcela que só quer se sentar no sofá e interagir com a história de forma despretensiosa.

Sim, só há um botão para atacar.Sim, só há um botão para atacar.Fonte:  Voxel / Francesco Casagrande 

Vale a pena?

New Tales from the Borderlands me deixou com sentimentos mistos. Eu sabia que tinha gostado do que joguei por conta da trama divertida, ótimos personagens e, claro, por ser fã da franquia, mas a falta de profundidade mecânica, reduzindo tudo a escolhas em diálogos e quick time events, aliada ao excesso de piadas tiraram um pouco do meu prazer com o game. Ele não chega a ser uma decepção, porém deixou muito a desejar por focar em jogadores mais casuais, que procuram uma experiência interativa, em vez dos que estavam esperando por um título na mesma pegada de seu antecessor espiritual.

OLHO: “A Gearbox não entendeu o que definia um jogo da Telltale”

Prós:

  • Interessante interação entre os protagonistas.
  • Visuais bonitos.
  • Boas captura de movimentos e expressões faciais.
  • Trama divertida.
  • Fuga de clichês.

Contras:

  • Gameplay simples demais.
  • Pouquíssimos momentos de exploração.
  • Minigames passáveis e sem complexidade.
  • Expressões faciais de Anu e Octavio fracas.
  • Excesso de piadas.
  • Falta de momentos emocionais.

NOTA: 67

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Pontos Positivos
  • Interessante interação entre os protagonistas
  • Visuais bonitos
  • Boas captura de movimentos e expressões faciais
  • Trama divertida
  • Fuga de clichês
Pontos Negativos
  • Gameplay simples demais
  • Pouquíssimos momentos de exploração
  • Minigames passáveis e sem complexidade
  • Expressões faciais de Anu e Octavio fracas
  • Excesso de piadas
  • Falta de momentos emocionais