Imagem de Assassin's Creed Syndicate: Jack the Ripper
Imagem de Assassin's Creed Syndicate: Jack the Ripper

Assassin's Creed Syndicate: Jack the Ripper

Nota do Voxel
75

A Ubisoft joga seguro demais e desperdiça uma oportunidade dourada

Jack, o Estripador se tornou um dos assassinos mais conhecidos da história tanto pela brutalidade de suas ações quanto pelas lendas que rodeiam sua figura. Mesmo um século após os crimes que chocaram Londres, novas teorias sobre sua verdadeira identidade continuam a surgir — assim como as histórias que tentam desvendar suas motivações e origens.

O último produto da cultura pop a lidar com essa figura assustadora é Assassin’s Creed Syndicate, na forma do DLC Jack the Ripper. Situado 20 anos após o final do jogo principal, o conteúdo adicional mostra a visão própria da Ubisoft sobre os assassinatos que chocaram o distrito de White Chapel no final do século 19.

Na história adicional tomamos o controle de Evie Frye que, após passar alguns anos vivendo na Índia, retorna a Londres para ajudar a desvendar os atos brutais cometidos por Jack. Ela serve como uma espécie de consultoria especial para o investigador Frederick Abberline, figura que também está presente na aventura-base.

A diferença de período histórico entre o DLC e o jogo principal implica também em uma divisão própria para o conteúdo adicional dentro de Syndicate. Isso significa que não há risco de acessar os conteúdos próprios à novidade enquanto você não finalizar a aventura original, assim como não é possível carregar habilidades e itens obtidos nela para a história secundária.

Intimidando com os punhos

A principal novidade trazida por Jack the Ripper em matéria de mecânicas é a introdução de um novo medidor de medo que afeta seus adversários. Quanto mais assustados eles estiverem, menores as chances de que eles o ataquem — no nível máximo de temor, seus inimigos simplesmente abandonam tudo e saem correndo em busca de abrigo.

Acompanhando essa nova opção há um sistema inédito de “execuções brutais”, em que você deve seguir uma espécie de quick time event para aplicar uma série de ataques devastadores em seus oponentes. O arsenal do jogador também ganha bombas que espalham uma espécie de gás do medo e garfos que prendem seus inimigos ao chão e impedem que eles contribuam na batalha.

Infelizmente, na maior parte do tempo essa mecânica é usada de maneira meramente opcional, algo triste quando se leva em consideração o potencial que ela carrega de enriquecer o combate do título. Na maior parte das vezes, você vai acabar usando essa nova solução para cumprir objetivos secundários de sua missão ou para se livrar de ter que enfrentar inimigos de forma convencional.

Mesmo que subutilizada, a mecânica serve como um bom indício de que a Ubisoft está procurando novas soluções de jogabilidade para a série. Resta esperar que o próximo capítulo (ou um DLC posterior) se aprofunde melhor nessa possibilidade, que aqui surge meramente como uma possibilidade cujo verdadeiro potencial está longe de ser explorado.

Agindo como detetive

Em sua busca pela verdadeira identidade de Jack, o jogador não vai se limitar a usar somente seus punhos e habilidades de assassinato. Assim como acontece nas missões pertencentes ao arco Dreadful Crimes — atualmente restritas ao PlayStation 4 —, em alguns momentos você vai ter que usar sua Visão da Águia para inspecionar elementos de um ambiente e encontrar pistas que ajudem na resolução dos crimes feitos pelo assassino.

Essas partes são especialmente interessantes por permitirem um aprofundamento maior da trama e dos personagens envolvidos nela. Como já se tornou prática comum na série Assassin’s Creed, a Ubisoft faz questão de associar os membros do Credo a eventos históricos reais, algo que também acontece no DLC.

Embora a empresa perca a chance de mostrar evidências reais que ajudam a preservar o mistério de Jack até hoje, a explicação apresentada pela companhia funciona até certo ponto. No entanto, a trama fictícia criada pela companhia está muito longe de despertar o mesmo grau de interesse que outras obras baseadas no mesmo material-fonte — como exemplo, posso citar Do Inferno, produzida por Alan Moore.

Em alguns momentos do DLC, você tem a chance de controlar o próprio Jack enquanto ele extermina algumas de suas vítimas ou percorre ambientes com o objetivo de silenciar testemunhas ou limpar evidências. Infelizmente, esses momentos surgem como o ponto fraco da trama e só servem para tirar o pouco ar de mistério que o vilão apresenta durante os momentos iniciais da trama.

Atividades novas, porém familiares

Além da missão principal, que tem duração relativamente curta, Jack the Ripper vem acompanhado por uma série de atividades paralelas próprias ao contexto adotado pela produtora. A maior parte delas se foca nas prostitutas de Whitechapel, um elemento importante na história do estripador real.

Assim como acontece nos primeiros Assassin’s Creed, essas profissionais podem ser recrutadas para servir como uma distração contra os soldados femininos — sem afetar as personagens femininas que fazem parte de seus adversários. No entanto, a Ubisoft tomou algumas decisões de design e roteiro que impedem que elas simplesmente reprisem seus papéis de “iscas sexuais”.

Exemplo disso é a atividade paralela em que você deve invadir casas de prostituição e punir os blighters que estão usando violência para coagir essas trabalhadoras. Em outros casos, você deve conduzir clientes abusivos por uma “caminhada da vergonha” após flagrá-los tentando abusar fisicamente dessas mulheres. Mesmo que a empresa nunca se aprofunde nos motivos sociais relacionados à prática da profissão, o posicionamento geral é muito mais progressista do que o visto no passado da franquia.

Outras atividades paralelas envolvem intimidar figuras responsáveis por escrever cartas falsas se passando por Jack, conduzir em segurança suspeitos de ser o assassino para seus interrogatórios e roubar carregamentos de ópio que circulam pela cidade. Na prática, tudo isso acaba se tratando somente de uma “maquiagem” diferente para missões secundárias que você provavelmente já se cansou de fazer durante o jogo-base.

Para completar, a Ubisoft incluiu novos baús, glitches de helix e folhetos colecionáveis inéditos ao título. A boa notícia para quem faz questão de coletar tudo isso é o fato de que o DLC só permite explorar as áreas de Whitechapel e City of London, o que significa que você não vai ter que percorrer um mapa muito extenso em sua busca por esses elementos.

O aspecto que se destaca nas atividades secundárias do DLC é o fato de que as recompensas obtidas através delas não se limitam somente a quantias de dinheiro ou a itens — limpar seu nome na imprensa vai fazer com que os policiais deixem de agredir seu personagem, por exemplo.

No entanto, prepare-se para ter uma aventura relativamente mais fácil caso você decida investir nessas atividades antes de seguir a trama principal. Ao final dela, será difícil não destravar todos os armamentos e cores de roupas disponíveis e ainda ter uma boa quantidade de dinheiro para esbanjar.

Problemas técnicos que assustam mais do que Jack

Infelizmente, Jack the Ripper acompanha alguns dos problemas técnicos que assolavam Assassin’s Creed Syndicate acompanhados por bugs próprios. O principal deles ocorre em missões que envolvem seguir os passos de um inimigo — mesmo estando próximo a ele, o contador de tempo que indica que você está perdendo seu alvo surge na tela e em poucos segundos decreta o fim da missão.

Além disso, a versão do PlayStation 4 a que tivemos acesso apresenta congelamentos visíveis toda vez que tentamos cruzar os distritos de Londres usando uma carruagem. Isso não somente irrita por se tratar de algo frequente, mas também por isso ter o potencial de fazer com que o jogador falhe em algumas missões.

Para completar, também notamos alguns problemas de colisão envolvendo os modelos de personagens inimigos. Infelizmente, um desses bugs se fez presente durante a batalha final do DLC, fazendo com que um personagem importante ficasse preso em uma escadaria — o que obrigou uma volta ao checkpoint mais recente para que tudo pudesse prosseguir da maneira esperada (algo que quebrou totalmente o clima que a Ubisoft tentou construir para ocasião).

As contradições de uma série

O elemento que mais incomoda em Jack the Ripper é o fato de o DLC destacar ainda mais uma das grandes contradições da série. Se antes já era problemático imaginar que os assassinos do Credo não matavam inocentes, mas não viam problema algum em exterminar forças policiais que estavam simplesmente cumprindo seu trabalho, uma decisão de design do pacote torna ainda mais problemáticas as ações do grupo.

Talvez na tentativa de fazer com que Jack fosse um assassino mais “malvado”, a Ubisoft decidiu que todos os golpes usados pelos demais personagens teriam características não letais. No entanto, a companhia não se preocupou em trocar as animações dos personagens, tampouco se deu ao trabalho de explicar essa mudança de atitude.

O que é irônico nessa decisão é o fato de que nada impede que você simplesmente extermine com sua lâmina escondida os inimigos que estão desacordados no chão — sem punição alguma. Também não ajuda muito nesse sentido o aviso de que “Jack não perdia tempo matando vítimas não essenciais” quando você tenta matar NPCs não relacionados à trama nos momentos em que controla a figura histórica.

A impressão que essa decisão de design deixa é que a Ubisoft não está pronta a abraçar as contradições da série que já foram aceitas há tempos pelos fãs como parte de algo que constitui um video game. Ao tirar a letalidade dos ataques do protagonista, a empresa não somente parece contradizer seu posicionamento anterior como gera problemas adicionais resultantes do fato de que muitas animações, destituídas de seu caráter letal, parecem simplesmente estranhas.

Vale a pena?

Jack the Ripper é um DLC que decepciona um pouco pelo tratamento que dá ao personagem histórico, suprimindo muitos acontecimentos reais que poderiam ser usados de forma a enriquecer o personagem. A maneira como ele é encaixado no universo de Assassin’s Creed não chega a ser absurda, mas a falta da exploração de suas motivações e relacionamentos com os personagens de Syndicate faz com que seja difícil se importar com ele ou com seu destino.

O que sustenta o DLC é o fato de ele se escorar nas qualidades do jogo-base, que pode ser considerado uma das melhores entradas da franquia. Mesmo familiares, as atividades paralelas divertem e surgem de forma comedida, evitando assim que o jogador se canse devido à repetição constante das mesmas ações.

No entanto, o que chama atenção mesmo são as mecânicas inéditas baseadas em provocar medo nos adversários. Infelizmente, elas não são exploradas de maneira suficientemente satisfatória e parecem destinadas a ser algo que vai ser esquecido em capítulos posteriores — ou que só vai ter impacto real em uma iteração futura da série.

Em resumo, Assassin’s Creed Syndicate — Jack The Ripper é um DLC que não traz muitas novidades para quem já completou o jogo-base. Caso você esteja sedento por mais conteúdos envolvendo Jack e Evie Frye, o pacote vai deixá-lo satisfeito, mas não espere encontrar aqui conteúdos que realmente se destacam em matéria de história ou jogabilidade.

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Pontos Positivos
  • Novas mecânicas baseadas no medo
  • Atividades secundárias que fogem do lugar-comum
Pontos Negativos
  • Material usado como fonte é mal aproveitado
  • O desenvolvimento da história decepciona
  • Bugs recorrentes que prejudicam a aventura