Coluna: o que vem depois é sempre melhor?

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E lá vamos nós, mais uma vez, para mais uma alternância de ciclos. A era PlayStation 3/Xbox 360 inicia agora um longo adeus — considerando-se que a Nintendo tem “seu próprio ciclo”, como já foi dito antes —, “raspando o tacho” para tentar extrair algumas últimas doses tardias de entretenimento. Alguns diriam que se trata do momento em que algumas das melhores coisas ainda podem aparecer, mas essa já é outra história.

Fato é que muito foi feito na atual geração. Tendências tomaram corpo. Novas franquias foram consagradas — e outras tantas acabaram irremediavelmente arremessadas ao ostracismo, passando a habitar um limbo não muito lisonjeiro. E, por fim, um novo capítulo da história do entretenimento eletrônico deve em breve ter o seu início.

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O céu é o limite?

Bem, e é nesse ponto que, inevitavelmente, uma pergunta começa a ganhar cada vez mais corpo na minha mente — uma dúvida que já havia ensaiado alguns passos desajeitados quando o PlayStation 2 e o primeiro Xbox deram as caras e mesmo antes disso: será mesmo que cada nova geração traz, indiscutivelmente, uma experiência de “jogo” melhor do que aquela difundida anteriormente?

E se alguém for suficientemente ingênuo para acreditar nisso — me desculpem pela sinceridade aqui, por favor —, então eu emendaria uma segunda questão: qual será o limite para esse crescendo tecnológico? O céu — para fazer valer aquele conhecido chavão popular? Pouco provável.

O fantasma dos Natais passadosXbox LIVE Arcade, PSN, App Store... E outras pontas soltas deixadas por gerações anterioresOk, considerando-se a coisa toda por um viés exclusivamente tecnológico, seria realmente difícil dizer que o vindouro e ultramoderno PlayStation 4 não está anos-luz à frente de consoles como o Mega Drive ou o saudoso Nintendinho. Na verdade, se você levar em conta critérios como gráficos, som, jogabilidade e potencial de imersão... Seria até mesmo difícil considerar que se trata de uma mesma “natureza” de entretenimento.

Na verdade, talvez esse seja exatamente o ponto. Será mesmo que se pode dizer que as gerações que vieram antes foram “ultrapassadas” pelas atuais quando se considera, exclusivamente, a forma de diversão promovida? Será que isso seria possível?!

Xbox LIVE Arcade, PSN e Virtual Console

É verdade que o discurso hegemônico de fabricantes — e também de techboys —, no que diz respeito a uma nova geração que nasce, se mantém essencialmente o mesmo: “Você precisa deste novo produto! Esqueça o que veio antes, e abrace a modernidade com o que há de melhor em matéria de entretenimento eletrônico!”... Ou algo igualmente inspirado.

Entretanto, convém aqui ler nas “entrelinhas”, as quais são ocupadas por uma infinidade de fantasmas de outras eras. De fato, plataformas como a PlayStation Network, a Xbox LIVE Arcade e o Virtual Console mostram claramente que a indústria precisou “dar o braço a torcer”.

Afinal, em algum momento, alguém resolveu olhar para os primeiros jogos em plataforma, para os shooters relativamente simplórios, a fim de reconhecer: “Ok, há algo de único ali, algo que talvez seja mesmo insuperável”.

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Talvez seja isso o que justifique a verdadeira leva de novos-velhos títulos que parece ocupar uma porção considerável do atual horizonte de publicações. Afinal, para cada novo Uncharted, para cada Dead Space e para cada novo Call of Duty... Surgem dezenas, senão centenas de pequenos jogos com bichinhos mimosos saltando entre plataformas — que também podem ser pedaços de carne, embora a ideia se mantenha.

Isso sem falar na avalanche de joguinhos antigos que são constantemente resgatados de algum baú poeirento da década de 80 ou 90.

Google Play e App Store

Talvez o principal “golpe” desferido contra a ideia de uma suposta linearidade dos saltos geracionais tenha sido mesmo dado por uma realidade exterior aos próprios consoles. De fato, a atual geração viu nascer e se consolidar não apenas um tipo relativamente novo de público — o “casual” —, como também uma realidade que apontou claramente: os consoles tradicionais não representam mais a única forma de entretenimento eletrônico.

E eu proponho agora um exercício: vá ao Baixaki (tá, o que você esperava?) e busque jogos para iOS ou Android... E então repare no tipo de desafio que é proposto por grande parte deles. São jogos simples, com diversão direta, pontos, vidas, “continues”... Em suma, todo tipo de estrutura que muita gente considerava “superada”. Aquilo tudo voltou para assombrar, o que é ótimo!

O fantasma dos Natais futurosA indústria anda disfarçando um enorme ponto de interrogação?Eu tenho que reconhecer: não é a primeira vez que utilizo este espaço para cantarolar contra a flácida ideia de linearidade entre os saltos de gerações. Mas a impressão parece persistir e, conforme coloquei em outra coluna — bastante controversa, vale dizer —, é impossível não reparar: a indústria anda meio sem saber para onde ir, embora isso jamais transpareça nas propagandas de novos e maravilhosos produtos vindouros.


Afinal, se noções como “tem que ser social” e “precisa ter captura de movimentos” se mantêm quase como lugares-comuns hoje, é fato que a existência cada vez maior de títulos simples que vendem horrores — mesmo com gráficos simplórios e desenvolvimento pago em moedinhas — tem deixado os tradicionais desenvolvedores com um inevitável sorriso amarelo. Uma questão que parece ir além das redes destinadas a jogos “antigos”.

Uma sugestão? Vá jogar boxe no Atari 2600!

Gostaria de fechar esta coluna com mais uma sugestão. Trata-se de algo que, para mim, serviu como uma verdadeira epifania — um daqueles momentos em que uma realidade óbvia estapeia a cara e tal. É o seguinte: vá jogar boxe no Atari 2600.

Não, aquele seu novíssimo Fight Night absolutamente não serve. Tem que ser o “boxe de aranhas” do Atari... Aquele clássico! Lembro que encarei o jogo enquanto gravava o quadro “Tô Véio”, no episódio piloto, cujo foco era o celebrado console de Nolan Bushnell.

De fato, nós começamos a distribuir pancadas — naquele jogo excessivamente simples e livre de ornamentos — de forma absolutamente despretensiosa. Passado pouco tempo, eis a surpresa: eu e meu companheiro de gravações (o Gabriel Soto Bello) estávamos realmente nos divertindo com aquilo.

E mais: de uma forma não melhor e nem pior do que seria possível com um título atual... Era apenas diferente. Enfim, antes de embarcar na próxima torrente de propagandas da Sony ou da Microsoft, dê uma olhada para o passado dos consoles. É possível que você realmente se surpreenda com o que vai encontrar.

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