Esperar 10 anos por um jogo inédito de uma franquia famosa já não é mais uma novidade, mas ainda é algo que cria grandes expectativas quando o título finalmente é lançado. No caso de Dragon Age: The Veilguard, além dessas expectativas causadas pelo tempo, ainda temos o fato de que ele veio para suceder um dos maiores sucessos da franquia, Dragon Age: Inquisition.
O fardo desse jogo realmente não deve ter sido nada fácil para a Bioware, mas o resultado está, enfim, entre nós. Eu tive a oportunidade de jogar o máximo possível de Dragon Age: The Veilguard nas últimas semanas e te conto tudo o que achei na análise logo a seguir!
Construindo sua própria história
Os jogos da franquia Dragon Age tem muitas ligações entre si, mesmo se passando em épocas diferentes um do outro na maior parte do tempo. Como já sabíamos, Dragon Age: The Veilguard é essencialmente uma sequência direta de Inquisition, que teve um epílogo sinistro envolvendo Solas, o nosso antigo companheiro de equipe. É importante frisar que não é necessário ter jogado outro título da franquia para aproveitar o novo game, mas eu recomendaria ler um breve resumo da história de Inquisition se quiser entender melhor o papel dos personagens presentes no game anterior e que fazem seu retorno em The Veilguard.
Fonte: Bioware/Reprodução
Nossa nova trama começa com o Solas fazendo um ritual para quebrar o véu que separa o mundo normal do mundo dos demônios. Quando tudo dá errado, duas divindades cruéis são libertadas sem querer e vira o nosso trabalho impedir que elas encham o mundo de podridão. Eu não vou revelar mais detalhes sobre a narrativa para evitar spoilers, mas também porque esse é sempre um dos pontos fortes da franquia e que é bem melhor quando você a descobre por si próprio. Além disso, há o fato de que você tem a possibilidade de fazer escolhas bem diferentes e que ditarão o rumo da sua história no game, outro elemento bem clássico dos títulos da Bioware.
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O que eu posso dizer é que eu gostei bastante da história que trilhei em cerca de 53 horas de jogo, tempo suficiente para completar a trama principal, fazer todas as missões dos nossos sete companheiros, realizar side quests importantíssimas em relação à trama, ter uma boa relação com diversas facções e para explorar cada região de forma decente. Eu ainda não fiz tudo o que queria, mas consegui um resultado bem positivo na primeira vez que zerei o game, o que definitivamente vou repetir depois que maximizar o relacionamento com todos os membros da party e facções, já que isso deve resultar em alguns desfechos bem diferentes.
Se você quisesse fazer tudo o mais rápido possível, acredito que daria para zerar o jogo em entre 30 e 40 horas, mas não é algo que eu recomendo. Ao fazer as missões envolvendo seus parceiros, facções e o problema da podridão, você destrava muitas opções e pode tomar mais decisões impactantes, o que deixa a trama mais interligada, emocionante e completa. É claro que há muitos momentos clichês e cheios de humor mais bobinho, mas tudo dentro do que a gente já espera de RPGs de fantasia e que, honestamente, eu gosto e acredito que faz parte do DNA que conhecemos de Dragon Age.
Nada como um grupo desajustado para salvar o mundo!Fonte: Bioware/Reprodução
É difícil falar sem fazer grandes revelações, mas neste quesito, eu acho que a narrativa se encaixa muito bem do que esperamos da franquia. Então, pode se preparar para muitas reviravoltas, tragédias, alegrias e momentos bem emocionantes. Quero aproveitar para fazer um elogio para a forma que certas partes da história são contadas por Varric após o encerramento de grandes acontecimentos, já que a apresentação faz com que elas pareçam um cativante livro de histórias com lindas ilustrações.
Apenas bons amigos
Seguindo em nossa aventura para impedir divindades, nós formamos o grupo Veilguard, que eventualmente consiste de sete pessoas de raças, classes e culturas diferentes, exatamente como Tolkien gostaria de ver. Como nos outros games da série, nós podemos nos aproximar, formar laços, ajudá-los com seus problemas pessoais e até aconselhá-los em grandes decisões. Para mim, essa foi uma das partes mais eficientes do jogo, considerando que mesmo os personagens que eu não suportava no início, me conquistaram quando tive a chance de conhecê-los melhor.
Como já esperávamos, isso afeta a trama principal de algumas maneiras, afinal, oferecer ajuda a um amigo ou deixar de priorizar um deles em um momento trágico pode ter ramificações que duram até o final da campanha. Esse aspecto também vale para outros NPCs que você encontra no caminho, então pense muito bem em como você trata esses personagens e se realmente vale mais a pena trocar socos em vez de palavras quando tiver que convencer alguém de algo. A boa notícia é que você pode jogar The Veilguard mais vezes se quiser ter uma abordagem completamente diferente e ver como isso impacta seus relacionamentos e missões.
Formar amizades com seus companheiros sempre gera resultados positivosFonte: Bioware/Reprodução
É claro que há mais benefícios em aumentar o nível de amizade com as pessoas do seu grupo, já que é isso que dá pontos extras de habilidade para eles. Se quiser deixá-los mais fortes e com skills mais poderosas em combate, fortalecer o relacionamento é uma peça chave. Se fizer a linha de quests inteira deles, também haverá vantagens extremamente importantes nos atos finais do game e você poderá aproveitar sub-tramas muito cativantes. Como sempre, suas decisões determinam tudo, inclusive aquelas que não dependem de simples opções de diálogo, mas sim de ações que você escolhe realizar ou ignorar.
Minha grande reclamação nesse tópico vai para o romance, que sempre tem um grande foco nos jogos da Bioware e, por consequência, em Dragon Age. É claro que não tive tempo de tentar um romance com todos os personagens disponíveis, então só posso falar da experiência que tive com quem escolhi. Mesmo depois de firmado, o relacionamento parecia uma amizade com alguns olhares especiais aqui e ali, já que mal havia diálogos sobre o assunto e não houve qualquer contato físico (nem para um mero abracinho) até a hora final do game, quando tive a única cena romântica em mais de 50 horas.
Não faço ideia se os outros companheiros de equipe são mais amorosos ou oferecem mais opções em seus relacionamentos, mas é uma possibilidade. Isso não estragou o jogo em nada para mim, mas ainda foi decepcionante em relação aos games anteriores ou outros RPGs que ofereceram relacionamentos bem mais interessantes recentemente, como é o caso de Baldur’s Gate 3. Para ficar bem claro, a questão aqui não é falta de cenas ou momentos íntimos, mas sim de qualquer menção que o relacionamento sequer existia ou interações diferentes das que eu tinha com os outros membros do grupo.
Já um ponto positivo que quero mencionar é que há uma boa interação entre os companheiros de equipe. Alguns deles simplesmente não se dão bem pelas suas diferentes crenças ou questões morais. Você pode incentivar que eles resolvam seus problemas ou deixar tudo como está, sendo ambas opções válidas e que geram resultados bem interessantes mais para frente. Outro fator bem legal é que a sua amizade pode aproximar dois companheiros de equipe ao ponto deles formarem seus próprios namoros. Esses cenários fazem o game parecer mais vivo e menos moldado apenas para o protagonista.
Em um último adendo nesse assunto, vale lembrar que, por se tratar de uma sequência à Inquisition, nós vemos diversos rostos familiares. Além de Solas, contamos com os conselhos do veterano Varric, o apoio de Harding em nosso grupo, algumas aparições da nossa antiga protagonista inquisidora e outras pessoas que prefiro não comentar para não estragar a surpresa. Essas interligações não são novidades em Dragon Age, mas acho que rever esse pessoal após 10 anos deixou o sentimento ainda mais especial.
Ação com precisão
Seguindo para um dos fatores mais importantes do jogo, temos que falar do combate de Dragon Age, que mudou bastante ao longo dos anos e recebeu melhorias, novidades e reformulações substanciais a cada título lançado. Com The Veilguard isso também é bem aparente e, desta vez, temos um sistema de combate bem dinâmico e bastante focado em ação, mas que ainda necessita da sua atenção e precisão.
Você pode atacar e comandar seus companheiros de forma mais livre e em tempo real, já que o game te dá atalhos rápidos para golpes normais e habilidades especiais. Isso é perfeito para quem não gostava de pausar a todo momento para tirar total proveito dos embates com inimigos em games anteriores. Felizmente, você ainda tem a opção de parar o tempo para escolher as habilidades com mais calma e até fazer combos entre personagens que possuem algum tipo de sinergia.
O combate está mais dinâmico, mas você ainda terá um bom desafio com os inimigosFonte: Bioware/Reprodução
Inclusive, um dos medos que eu tinha com o novo sistema era que o game virasse um festival de apertar botões sem ter que pensar, mas da dificuldade padrão em diante, você realmente tem que prestar atenção em tudo. The Veilguard possui inimigos com padrões de ataque variados o suficiente para você sempre ter que adotar estratégias diferentes e há uma grande ênfase em acertar o momento exato de se defender, esquivar, remover barreiras, romper escudos ou atacar. Se errar o momento, seus rivais vão te acertar, bloquear ou te derrubar, tirando uma porção bem generosa da sua barra de vida.
No início do game, pode ser mais brutal lidar com isso, mas assim que você e seus companheiros vão recebendo pontos de habilidade, é possível personalizar sua build e aprimorar as skills existentes de seus amigos. Assim, dá para ter alguém te curando com mais frequência, aplicando debuffs ou chamando a atenção de inimigos mais fortes para que você consiga planejar sua ofensiva sem apanhar tanto no processo.
Só preciso dizer que Dragon Age: The Veilguard conta com uma quantidade considerável de encontros com inimigos, que também costumam aparecer em números avantajados, então os combates podem se tornar repetitivos se você manter a mesma equipe e estratégia durante um longo período de tempo. A boa notícia é que o sistema de amizade e missões te incentiva a sempre trocar seus companheiros ativos, algo que já ajuda a diversificar o que ocorre nas lutas, pelo menos se você fizer uso de suas diferentes habilidades com frequência.
Você pode personalizar e especializar sua build com os pontos de habilidadeFonte: Bioware/Reprodução
Minha grande reclamação sobre o combate, fora a possível repetição pela sua quantidade, é que os inimigos sempre focam no seu personagem. Tirando o fato de sermos o protagonista, não faz sentido que todos os monstros sempre batam em apenas uma entre as três pessoas disponíveis na luta. Há diversos momentos que essa atenção exclusiva torna os embates muito exaustivos, especialmente pelo grande número de inimigos que pode enfrentar ao mesmo tempo.
Você pode investir em habilidades de amigos que provocam os bichos, mas isso é temporário, tem um tempo de recarga, não está disponível em todos os companheiros e não resolve a falta de noção de sermos o único alvo interessante aos monstros a todo momento. Outro problema de repetição pode ocorrer quando você tiver que destruir bolhas de podridão ou cristais que protegem portais ou inimigos, algo que você vai fazer muitas vezes durante a sua aventura. Isso não chegou a me irritar, mas já imagino que pode causar esse sentimento em jogadores menos pacientes.
Pequeno grande mundo
Para quem gostava do mundo mais aberto de Dragon Age: Inquisition, talvez seja um ponto negativo saber que esse não é exatamente o caso de The Veilguard. A verdade é que agora temos uma mistura do novo com o antigo, já que o game é dividido em várias regiões, mas que são todas extensas, cheia de tesouros que recompensam sua exploração e totalmente diferentes em aparência, cultura e em seus povos habitantes.
Eu gostei bastante dessa escolha e acredito que é exatamente o que nos possibilita visitar locais tão diversos, densos e detalhados sem termos que nos preocupar em atravessar enormes campos vazios ou cheios de encontros com inimigos tediosos. Embora o game seja bem mais focado em resolver missões dentro dessas regiões, ainda dá para explorar bastante e encontrar muitos segredos, puzzles, itens valiosos e atividades interessantes.
Nosso grande objetivo em The Veilguard é derrotar essas duas divindadesFonte: Bioware/Reprodução
Aproveitando que estamos falando da beleza do mundo, também vale falar da direção artística de Dragon Age: The Veilguard. Eu sei que isso dividiu muita gente, mas eu adorei o visual dos cenários, itens, inimigos e personagens, especialmente porque acho que combina muito bem com a franquia e porque acredito que é um estilo gráfico que envelhece muito melhor do que visuais que tentam ser mais realistas, como era o caso de Inquisition Isso vai ser mais subjetivo às suas preferências, então não vou tentar te convencer que o game é lindo se você simplesmente acha o que o visual escolhido é feio, mas fica aqui a minha humilde opinião.
Mudando um pouco de assunto, também é bom falar sobre bugs, considerando que isso tende a ser um grande problema em lançamentos maiores ultimamente. Minha primeira impressão foi meio negativa porque tive um bug chatinho logo na tela de criação do personagem, mas depois tive uma experiência incrivelmente tranquila. Os únicos bugs que percebi foram visuais, como palavras desalinhadas em botões na tela, a roupa de um personagem tremendo por alguns segundos e um inimigo que ficou preso em um local por 5 segundos.
É claro que a minha experiência não vai ser igual a de todo mundo, ainda mais em um jogo tão vasto como Dragon Age, então eu não me surpreenderia se visse relatos de bugs mais bizarros de outros jogadores. Se isso é um fator muito importante para você, eu recomendaria esperar alguns dias e ver qual é a experiência geral e se é necessário aguardar um patch por parte da Bioware. Isso é uma precaução que eu sugiro para qualquer lançamento maior e não especificamente com Dragon Age.
Vale a pena?
Como falei no comecinho da análise, sempre é difícil lidar com expectativas que se criaram ao longo de tanto tempo, até porque elas podem variar muito de um jogador para outro, especialmente em questões subjetivas. É claro que só posso relatar e ter certeza do que eu achei e realmente acredito que a Bioware fez um excelente trabalho com Dragon Age: The Veilguard. Além de não achar que o game ficou na sombra de Inquisition, posso garantir que eu me diverti muito mais com The Veilguard e que apeguei mais com seus personagens e tramas do que com seu antecessor.
Fora isso, acredito que muitas mudanças deixaram o game mais atrativo para novos jogadores ou pessoas que não gostaram tanto dos anteriores, além de ainda dar opções mais tradicionais para os veteranos da franquia. Há uma excelente mistura de elementos inéditos e reformulações de sistemas clássicos, tudo enquanto se mantém o tom e as características que amamos e que fazem Dragon Age ser tão reconhecível para seus fãs.
Levando tudo isso em conta, mesmo que o título tenha seus defeitos ou que não seja exatamente do jeito que você imaginou por tanto tempo, afirmo que ele vale muito a pena e, se você deixar o peso de 10 anos para trás, pode realmente se surpreender com o que o jogo e seus personagens têm a oferecer. É claro que assim como em Dragon Age: The Veilguard, a decisão está totalmente nas suas mãos.
Nota do Voxel: 90
Pontos positivos:
- O combate conta com mais ação, mas ainda requer estratégia por parte dos jogadores;
- Os personagens e suas jornadas pessoais são muito cativantes;
- Há muitas decisões importantes e desfechos variados ao longo da jornada, algo perfeito para quem quiser jogar mais de uma vez;
- Há uma interligação muito boa entre a trama principal e as missões secundárias;
- O mundo conta com regiões bem diferentes e perfeitas para exploração.
Pontos negativos:
- O romance não pareceu tão detalhado em minha experiência.
- Os inimigos costumam focar o protagonista mesmo quando há outros alvos.
- Há uma certa repetição em alguns objetivos.
Dragon Age The Veilguard foi testado no PS5 com uma chave cedida pela Eletronic Arts. O game também está chegando ao PC e PS5 no dia 31 de outubro.
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