Segurança

Espiões russos usavam o Brasil para obter passaporte e entrar em outros países, diz jornal

A Polícia Federal identificou ao menos nove espiões russos que agiam como cidadãos brasileiros, nos últimos três anos.

Avatar do(a) autor(a): André Luiz Dias Gonçalves

22/05/2025, às 13:00

Nos últimos anos, a Rússia tem usado o Brasil como “fábrica de espiões”, enviando agentes disfarçados que se passavam por cidadãos brasileiros e levavam uma vida pacata. É que o revelou o The New York Times na quarta-feira (21).

Pelo menos nove espiões russos atuando no território nacional foram descobertos, até o momento, na investigação da Polícia Federal (PF) iniciada há três anos. O caso, digno de filme e séries de espionagem, mostra uma prática do país que vem desde a época da União Soviética.

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O caso remete às ações da KGB, serviço de inteligência da antiga União Soviética. (Imagem: Getty Images)

O que os espiões russos no Brasil queriam?

De acordo com a reportagem, os agentes do serviço de inteligência da Rússia chegavam ao Brasil como se fossem cidadãos em busca de uma nova vida. Eles fizeram amigos, se envolveram em casos românticos e abriram empresas, agindo sem despertar qualquer suspeita.

  • Com o passar do tempo, se tornaram brasileiros, inclusive obtendo certidão de nascimento ao aproveitar falhas nos sistemas de registros civis e corrupção;
  • Eles também tiraram carteira de identidade e o passaporte brasileiro, entre outros documentos, como se fossem pessoas nascidas aqui, apagando o passado na Rússia;
  • Espionar o Brasil não estava nos planos. O objetivo era usar os benefícios do passaporte brasileiro, que permite entrar em vários países sem visto;
  • Quando estavam prontos, eles deixavam o território nacional e partiam para o próximo passo;
  • Como supostos cidadãos brasileiros, os oficiais do Kremlin tentavam entrar nos Estados Unidos, em países da Europa e do Oriente Médio, para realizar suas missões.

Um dos espiões russos identificados pela PF é Sergey Cherkasov, que usava documentos em nome de Victor Müller Ferreira, uma pessoa que nunca existiu. O agente infiltrado afirmava ter nascido no Rio de Janeiro, em 1989, tinha título de eleitor e até certificado de reservista.

Outro espião monitorado, Artem Shmyrev assumiu o nome falso de Gerhard Daniel Campos Wittich, um suposto brasileiro de 34 anos. Segundo o relatório, ele é casado com uma espiã russa que atuava na Grécia até ser identificada pelas autoridades locais.

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A Polícia Federal foi responsável por investigar o caso. (Imagem: Getty Images)

Como os espiões foram descobertos?

O primeiro alerta sobre a presença de agentes russos infiltrados no Brasil foi dado pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) em 2022, poucos meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia. A mensagem citava um suposto cidadão brasileiro que teve a entrada na Holanda negada.

Era Cherkasov, que se passava pelo “carioca” Victor. Retornando ao país após tentar uma vaga de estágio no Tribunal Penal Internacional, ele foi monitorado pela PF e preso dias depois pelo uso de documentos falsos. No depoimento, o homem negou as acusações de espionagem.

Os policiais seguiram investigando e encontraram os familiares da suposta mãe de Victor. O nome citado na certidão de nascimento era real e ela já havia morrido, mas os parentes confirmaram que a mulher não teve filhos.

Liderada pela mesma unidade da PF responsável por investigar os envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, a “Operação Leste” continuou com a análise de registros de identidade à procura de padrões. Dessa forma, os policiais chegaram aos outros espiões russos no Brasil.

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Apenas um dos espiões foi preso. (Imagem: Getty Images)

O que aconteceu com eles?

Condenado a 15 anos de detenção por falsificação de documentos, pena posteriormente reduzida para cinco anos, Cherkasov está preso. O governo da Rússia tentou repatriá-lo, alegando que se tratava de um traficante de drogas, mas a justiça brasileira não o liberou.

Nos outros casos investigados, os agentes russos fugiram do Brasil antes de serem presos, como Shmyrev, que foi para a Malásia e deixou celulares para trás permitindo verificar as mensagens trocadas com a esposa. A PF acionou a Interpol, expondo as identidades de todos eles, o que pode dificultar suas ações no exterior.

Consultado pela CBN, o ministro da Justiça, Carlos Lewandowski, disse que não há ação em larga escala para a formação de espiões no Brasil, seja da Rússia ou de qualquer outro país, afirmando que apenas um caso foi confirmado até o momento. Já o porta-voz da Rússia, Dmitry Peskov, não quis comentar o caso.

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Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.