Ao olhar com mais atenção para o setor de Saúde, vejo que as preocupações com segurança de dados e proteção ao ambiente não são tão diferentes dos demais segmentos da economia: bancário, e-commerce e outros. Desde 2018, quando a Lei no. 13.787 (a qual exige a digitalização dos prontuários dos pacientes) foi promulgada, a preocupação com a segurança cibernética cresceu sensivelmente.
Em um ambiente onde a conectividade é fundamental para as operações de saúde, a segurança cibernética não pode ser ignorada. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada que requer colaboração entre diferentes setores. Ainda, o treinamento dos profissionais de saúde é um dos pilares dessa defesa, pois muitos ataques começam com erros humanos.
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A telemedicina é outro ponto que impacta nos riscos à segurança. Com vantagens claras em relação à facilidade de acesso aos médicos e às consultas, além da redução de custos para as instituições de saúde - entretanto, o atendimento à distância depende do uso intensivo de dados e da transmissão de informações sensíveis, o que levanta preocupações legais e éticas significativas com a LGPD3 (lei 13.709/18).
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Esta Lei, por sua vez, regulamenta o tratamento de dados pessoais no Brasil e traz o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Nos últimos anos, o setor de saúde tem sido um dos principais alvos de cibercriminosos. Ataques de ransomware, phishing e exploração de vulnerabilidades de software têm causado interrupções operacionais em hospitais e clínicas, colocando vidas em risco.
O sequestro de dados, em particular, tem se mostrado uma ameaça crítica. Em muitos casos, as instituições de saúde pressionadas pela urgência em retomar os serviços, acabam cedendo ao pagamento.
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Em 2022, um estudo da Tenable apontou que, no ano anterior, mais de 40 bilhões de registros foram expostos mundialmente. Apenas no Brasil, o volume ultrapassou 815 milhões. Em nível global, as indústrias mais afetadas por violações de segurança foram saúde (24,7%), educação (12,9%) e governo (10,8%). No Brasil, o quadro era um pouco diferente, os mais afetados foram governo (29,8%) e o setor financeiro (27%).
Passados dois anos, esse segmento continua entre os mais atacados pelo cibercrime e no Brasil, ainda subiu nas posições, passando a ocupar o terceiro lugar, atrás apenas dos setores de Serviço e Governo. Esses dados integram um levantamento da Kaspersky, que aponta ainda, que até maio deste ano, foram bloqueadas mais de 106 mil tentativas de ataques ransomware no país, com o setor de saúde contabilizando 6,5 mil dessas tentativas.
O impacto de um ataque cibernético no setor de saúde é duplo. Primeiro, compromete a segurança do paciente, já que diagnósticos, tratamentos e procedimentos médicos podem ser adiados. Segundo, afeta a reputação e a viabilidade financeira da instituição, que pode enfrentar multas regulatórias e ações judiciais devido à violação de dados pessoais.
Compliance e regulamentação
A conformidade regulatória (compliance) é uma responsabilidade fundamental às instituições de saúde, pois a Lei Geral de Proteção de Dados exige que as organizações adotem medidas técnicas e administrativas para proteger os dados pessoais. Isso inclui a implementação de políticas de segurança, controle de acesso, anonimização de dados e resposta a incidentes de segurança.
Além disso, os órgãos reguladores exigem que as instituições demonstrem uma "postura ativa de compliance", ou seja, que estejam continuamente avaliando e mitigando riscos de segurança cibernética. Isso exige a adoção de práticas como auditorias periódicas, treinamento de funcionários, monitoramento de ameaças e parcerias com empresas de cibersegurança.
Para enfrentar esses desafios, as instituições de saúde precisam adotar uma abordagem proativa e contínua em segurança cibernética. Abaixo listo algumas práticas que podem auxiliar no processo.
- Avaliação de riscos cibernéticos: Identificar ativos críticos e avaliar as vulnerabilidades associadas. Isso permite priorizar as áreas que exigem maior proteção.
- Implementação de controles de segurança: Adotar soluções de segurança de ponta, como sistemas de detecção de intrusão, criptografia de dados e autenticação multifator.
- Treinamento e conscientização: Capacitar os colaboradores para que reconheçam tentativas de phishing, compreendam a importância do compliance e saibam como reagir a um incidente de segurança.
- Monitoramento e resposta a incidentes: Estabelecer equipes de resposta a incidentes e sistemas de monitoramento contínuo para detectar atividades suspeitas e responder rapidamente.
- Parcerias estratégicas: Trabalhar com empresas especializadas em cibersegurança e com autoridades reguladoras para manter as práticas atualizadas em relação às novas ameaças e requisitos legais.
Proteger as informações críticas de pacientes e garantir a conformidade regulatória é fundamental para preservar a confiança e a integridade operacional das instituições. Empresas que investem em segurança cibernética, além de evitar prejuízos financeiros e operacionais, também promovem um ambiente mais confiável para pacientes e colaboradores.
Um exemplo de redução efetiva de risco cibernético pode ser visto com a Drogaria Araujo, a maior rede de farmácias de Minas Gerais e a quinta maior do Brasil. Ao adotar uma abordagem estratégica e integrada de segurança cibernética, a empresa conseguiu identificar e priorizar vulnerabilidades críticas, garantindo a continuidade operacional e obtendo uma redução de custos de 25%.
Esse modelo destaca como uma visão proativa da segurança pode não apenas proteger dados sensíveis, mas também otimizar recursos e fortalecer a resiliência organizacional frente aos desafios do setor de saúde.
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Diretor Geral da Tenable no Brasil desde junho de 2019. Capella conta com mais de 20 anos de experiência na indústria de segurança cibernética, esteve à frente da abertura e gestão da Palo Alto Networks no Brasil e, anteriormente, da operação da IronPort no país. Também ocupou funções de gestão e desenvolvimento de negócios na IBM, Xerox e Embratel. O executivo é graduado em Administração de Empresas pela UFRJ e possui MBA em Marketing e Estratégias pela mesma instituição.
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