Não põe a mãe no meio! - Por que discutimos tanto nas redes sociais?

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Barraco no Facebook: quem nunca? Perder antigas amizades por causa de postagens divergentes no Twitter? Acontece. Pois é, brigar nas redes sociais é uma atividade que todos nós, usuários desses serviços, já fizemos pelo menos uma ou algumas vezes, alguns com mais afinco e frequência que outros, mas é difícil evitar se envolver em alguma discussão acalorada quando ela nos interessa de alguma forma.

Uma pesquisa feita em 2012 pelo Pew Research Institute mostrou que 15% dos adultos e 22% dos adolescentes já se envolveram em alguma briga nos comentários do Facebook que resultaram no fim de alguma amizade. E não para por aí: dessas encrencas online entre adultos, 3% acabaram virando brigas na vida real, enquanto que entre adolescentes o valor sobe para 8%.

O ano de 2014 foi especial nas redes sociais brasileiras, com uma das eleições presidenciais mais conturbadas e disputadas dos últimos tempos. O que pode ser reparado é que as discussões políticas via Facebook acabaram distanciando mais ainda os opostos que se enfrentaram democraticamente nas urnas, criando um cenário de extremismo que foi refletido na vida real.

Algumas encrencas podem perder o controle e terminar em morte, como aconteceu após uma acusação de calote entre dois conhecidos no Tocantins.

Os tipos de discussões

Uma coisa que podemos ter como regra nesse tipo de prática é que nunca temos um vencedor de fato. Podemos ter alguém que fala por último, mas as consequências das altercações virtuais normalmente deixam perdedores em todos os lados. Mas o que nos impulsiona a fazer parte desse tipo de encrenca na internet?

Tracy Alloway, professora de psicologia da Universidade do Norte da Flórida, divide em dois tipos as pessoas que se envolvem em algum tipo de discussão na internet: as que realmente estão colocando em pauta – para uma discussão saudável – algum assunto que de fato gostaria de debater e as que só querem ver o circo pegar fogo, querem instaurar o caos e a desordem e implantar a zoeira ilimitada.

No primeiro caso, quem inicia um debate de fato está aberto a ouvir opiniões divergentes e a eventualmente mudar de posicionamento caso a discussão caminhe nessa direção. É claro que brigas feias podem começar nesse tipo de diálogo, mas a intenção primária não é essa. Já no segundo caso, não há muita saída: se alguém comprar a treta, vai cair em uma armadilha impossível de sair ileso.

O que há de comum nos dois casos é que o gerador da discussão sente prazer nesse ato, especialmente o desordeiro. Isso tudo libera dopamina, uma substância que é emitida pelo corpo para nos fazer sentir bem e que é gerada quando nos pronunciamos de modo egoísta, autocentrado e como se fôssemos superiores aos outros. A dopamina também aparece em nosso sistema quando comemos algo muito apetitoso ou quando fazemos sexo.

Desentendimentos e o mal que isso nos faz

É aí que nos deparamos com o maior problema das discussões e outros tipos de interação através das redes sociais: 65% da comunicação do ser humano é não-verbal, ou seja, independe de palavras (faladas ou escritas, tanto faz) para passar a mensagem desejada. Isso inclui entonação e linguagem corporal, como gestos e outras reações físicas que temos quando conversamos de frente à outra pessoa.

Isso faz com que fiquemos lá, parados diante do teclado ou do smartphone, sem termos a menor ideia de como aquilo que lemos foi realmente dito. Não algo simples como “Compra pão”, que podemos ler em um bilhete e ainda assim não saber se o recado foi “dito” com carinho ou com urgência e exigência.

Normalmente, em discussões nas redes sociais, queremos embasar nossos pontos de vista com afirmações fortes, citações famosas, enfim, provar por A mais B que estamos certos e que o outro está errado e, ainda por cima, é burro. Os desentendimentos causados pela ausência da comunicação completa certamente vão ser desastrosos.

Amizades frágeis

Tudo isso é agravado pelo fato de que lidamos com relacionamentos nas redes sociais de maneira diferente do que fazemos na vida real. Ao mesmo tempo que fazemos amizade facilmente com praticamente qualquer um que tiver um pingo a ver com a gente, também relevamos anos e anos de convivência “de carne e osso” quando algum assunto divergente surge e o pau come.

É natural que amizades “condenadas” na vida real passem por um processo de míngua antes de finalmente acabarem pelos diversos motivos que isso pode acontecer. Na internet é tudo muito intenso e bombástico, seu amigo pode se tornar um inimigo em questão de quatro ou cinco comentários.

Como proceder para evitar discussões inúteis?

Para fugir de todos os defeitos que uma discussão na internet pode demonstrar e de todo o caos que ela pode causar, nada como um papo cara a cara. Especialistas recomendam evitar discussões muito acaloradas na web. É claro, não significa que a partir de agora só é saudável postar vídeos engraçados de gatos ou listas dos 25 melhores “qualquer coisa inofensiva”, no entanto, caso alguma coisa publicada gere muita polêmica, respire fundo, segure aquela vontade quase incontrolável de queimar os dedos digitando todo tipo de absurdo e sugira uma discussão ao vivo.

Essa atitude pode manter amizades preciosas que seriam arruinadas via web e ainda dar à luz discussões interessantes que podem nos ajudar a aprender coisas novas, nos dar um ponto de vista diferente e nos ensinar muita coisa. Além disso, um feedback mais positivo ajuda as pessoas a ficarem mais calmas e de bom humor, o que pode evitar muitas encrencas.

Pode ser que as tretas homéricas via Facebook, Twitter e outras plataformas estejam ainda muito longe de acabarem, mas vale a pena a gente tentar ficar de fora, evitando stress e mantendo nossa boa saúde. No fim, só assim para todos saírem ganhando.

Você já se envolveu em alguma discussão pela internet? Conte para a gente como foi no Fórum do TecMundo, mas sem brigar!

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