Passei meses só comendo miojo, diz fundador da Easy Taxi

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Imagem: Magnus Höij / Flickr

A vida de Tallis Gomes mudou um bocado depois que ele criou o aplicativo para chamada de táxis Easy Taxi. No começo, não foi para melhor. Ele havia vendido sua participação em uma empresa que estava começando a dar lucro, a desenvolvedora de apps e games Techsamurai, para se dedicar totalmente à ideia da plataforma, no final do primeiro semestre de 2011.

O dinheiro para criar o negócio veio da venda do carro de Gomes e do bolso de dois sócios. No final daquele ano, o investimento deu algum retorno: o aplicativo havia ganhado prêmios, por ser um dos pioneiros do mundo a facilitar a chamada de táxis. O retorno financeiro, contudo, ainda demoraria a chegar.

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Imagine a dificuldade de tentar emplacar um aplicativo para táxis em uma época em que os taxistas não tinham smartphone

“Eu passei meses comendo miojo porque não tínhamos mais dinheiro”, disse Gomes durante o VTEX Day, um dos maiores eventos do varejo eletrônico do país, realizado pela VTEX. “No Natal, não tive coragem de ligar para os meus pais para pedir o dinheiro da passagem de ônibus para passar o dia com eles.”

Foi em 2012 que o negócio começou a prosperar, por conta de duas mudanças na empresa. A primeira foi no modelo de negócios. Quando a Easy Taxi começou a operar, smartphones ainda eram novidade no Brasil. “Imagine a dificuldade de tentar emplacar um aplicativo para táxis em uma época em que os taxistas não tinham smartphone.”

No começo, a empresa comprava os aparelhos para dar aos motoristas – uma ideia que se mostrou insustentável em longo prazo. A sorte ou visão de Tallis foi justamente o boom no mercado de smartphones que se deu naquele momento no país – as vendas, que já haviam mais do que dobrado em 2011,  dispararam 78% em 2012.

Os investidores não estão dando dinheiro porque são generosos. É porque a gente vale alguma coisa

"Jogando pôquer" com os investidores

A outra reviravolta na história da Easy foi a entrada do fundo de investimentos alemão Rocket Internet. “A Rocket é conhecida por copiar ideias de negócios e replicá-las em outros lugares. Para muita gente isso era ruim, mas eu via valor na estratégia”, diz.

Em uma primeira negociação, os investidores ofereceram comprar a Easy Taxi. “Então nós pensamos: eles não estão dando dinheiro porque são generosos. É porque a gente vale alguma coisa.” Gomes e os sócios decidiram não vender o aplicativo. Com a recusa, eles esperavam que a Rocket fizesse uma oferta de aporte, mas não foi bem o que aconteceu de imediato. “Seria muito fácil para eles, com toda a estrutura que têm, simplesmente criar um aplicativo como o nosso. Eles chegaram a nos dizer isso para nos convencer a vender.”

Para quem entende de pôquer, continuou Gomes, a decisão da startup foi pedir “all in”, esperando que o outro lado estivesse blefando. A espera, contudo, demorou algumas semanas — “as mais difíceis da minha vida” — até que, enfim, o empreendedor recebeu um email do fundo pedindo uma segunda reunião.

A história da vinda dos investidores ao Brasil para negociar com Gomes é curiosa. Naquele momento, pouco mais de 50 motoristas usavam o Easy Taxi, mas o empreendedor estava decidido a impressioná-los. “Nós pagamos a diária de um motorista e o deixamos de plantão esperando os investidores chegarem. Assim, logo quando eles desembarcaram do avião e chamaram um carro pelo nosso aplicativo, havia um ali, a postos, que rapidamente aceitou a corrida e até abriu a porta para eles entrarem.”

Em outubro de 2012, a Easy Taxi recebeu R$ 10 milhões de aporte da Rocket Internet. Com a entrada do fundo, o negócio deslanchou: chegou a 35 países e se tornou líder no mercado brasileiro. Isso até 2014, enquanto Gomes ocupou o cargo de CEO. Em novembro, ele deixou a operação.

A saída da Easy Taxi

“Para mim, o maior custo é o de oportunidades. Eu já estava há alguns anos à frente da gestão, tinha conquistado muito”, disse. Desde sua fundação, a empresa havia acumulado US$ 85 milhões em aportes, o que deixou a participação do grupo fundador bastante diluída. Na época, Gomes estava morando na Coreia do Sul, trabalhando na expansão do aplicativo por lá. “Eu via muitas oportunidades, via muitos negócios que eu poderia levar para o Brasil.”

O mercado de beleza movimenta R$ 46 bilhões por ano e ainda precisa ser muito explorado

Hoje, Gomes está à frente da Singu, um marketplace de beleza. Por lá, o consumidor consegue agendar serviços de manicure e massagem para ser atendido em sua própria casa. Atualmente, é preciso marcar horário com 12 horas de atencedência. Na próxima segunda-feira (5), esse tempo de espera será reduzido para 4 horas antes. “O mercado de beleza movimenta R$ 46 bilhões por ano e ainda precisa ser muito explorado.” Em um ano de operação, a Singu contabiliza 7 mil pedidos por mês.

Para conseguir se aventurar nessa nova empreitada, em um mercado desconhecido, Gomes passou um bom tempo conversando com donos de salões de beleza. Durante o evento da VTEX, ele dividiu uma lição que aprendeu durante o período: “nós, do mercado de tecnologia e de startups, somos muito ‘nariz em pé’ com os empreendedores que atuam no mercado tradicional. Eles abriram empresas em momentos mais complicados, sem nenhum investimento. Eu conversei muito com donos de negócios tradicional. Aprendi que temos de respeitar”.

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