Séries: 2022 se torna destaque para protagonistas mulheres (análise)

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Recentemente, o lançamento do quinto filme da franquia O Predador causou alguma polêmica entre os fãs. O Predador: A Caçada (Prey) se passa no início do século XVIII e acompanha a vida de Naru, uma jovem guerreira da tribo Comanche. Ela quebra o papel passivo esperado às mulheres de sua época e resolve se dedicar diariamente para se tornar uma grande combatente.

Um dia, Naru se depara no meio da selva com um desafio que se tornará o maior de sua vida: lutar, é claro, contra o Predador. É aí que surgiram algumas reclamações entre alguns “fãs”: como poderia uma “garotinha” derrotar um bicho daquele tamanho, que deu um baile em Arnold Schwarzenegger?

Uma revolta deste tipo em pleno 2022 é um sintoma perfeito de que certos assuntos ainda não estão resolvidos. Ter mulheres à frente de qualquer coisa – incluindo aqui os gêneros de filmes e séries que assistimos – ainda é capaz de gerar alguma comoção em gente que sente estar perdendo o seu lugar no mundo, ao invés de compartilhando o mesmo espaço.

É até estranho pensar que estes comentários compartilhem o mesmo tempo que certas personagens fortes que fizeram o ano de 2022 muito bom para a representação feminina nas séries. Neste texto, trazemos alguns bons indícios de que as protagonistas a que assistimos neste ano escapam do que muita gente ainda espera das mulheres na ficção – e é por isso que estas personagens ainda incomodam muita gente.

Protagonistas fortes na comédia e no drama

Hacks/HBOHacks (HBO/Reprodução)

A condecoração do tradicional prêmio Emmy trouxe reconhecimento para duas mulheres que já fizeram história no mundo da ficção: a comediante meio desbocada Deborah Vance (personagem de Jean Smart em Hacks) e a sofrida adolescente Rue (vivida pela atriz Zendaya em Euphoria).

Jean Smart, pelo segundo ano consecutivo, recebeu o prêmio de melhor atriz de comédia no Emmy e no Globo de Ouro. Mas o que há em Deborah Vance que a torna tão especial? Como já descreveu a jornalista Isabela Boscov em uma crítica, a chave talvez esteja em Jean Smart, uma atriz impecável e cheia de recursos que consegue trazer vida pulsante a todos os papéis que encarna.

Mas acredito que, para além dos óbvios talentos de Smart, há sim um papel lapidado com cuidado para que ela possa brilhar. Deborah Vance, uma comediante bem old school que pena para continuar sendo relevante no meio do humor, ainda que seu estilo esteja a cada dia mais datado, é uma personagem simplesmente incrível. Ela é odiosa em muitos sentidos: é uma rica meio azeda que seduz grandes plateias na mesma medida em que é meio exploradora e antipática com os funcionários, além de ser uma péssima mãe, bastante narcisista.

Ainda assim, a graça com que Jean Smart constrói e sustenta esta mulher nos faz sentir próximos a ela e de seus problemas – alguns deles, bastante identificáveis às mulheres, em especial pela cobrança muitas vezes velada de lutar contra a natureza e tentar permanecer sempre jovem. Envelhecer, para quase todas nós, significa (ainda!) perder valor. E é isso que Deborah Vance enfrenta e que nos faz criar uma empatia enorme por ela.

(Fonte: HBO Max)(Fonte: HBO Max)Fonte:  HBO Max 

A outra protagonista destaque de 2022 não tem nada a ver com Deborah Vance. Falo de Rue, que deu para a jovem atriz Zendaya o segundo prêmio Emmy consecutivo por sua atuação na série dramática Euphoria. Enquanto Deborah é uma senhora na casa dos 70 anos, Rue é uma perfeita descrição da geração Z e seus sofrimentos exacerbados.

Todas as personagens de Euphoria, aliás, refletem algum tipo de sofrimento adolescente: a ausência de referências sólidas, a pouca perspectiva sobre uma carreira, os dilemas trazidos pela sexualidade e pela aceitação do próprio corpo. Mas coube a Rue o papel mais dramático da série de HBO: ela é uma menina viciada em drogas e que aparentemente não tem qualquer noção sobre onde seria o fundo do poço.

De alguma forma, Rue representa, de modo bastante extremo, uma geração inteira. Ela, em uma alegoria bastante simbólica, nasceu um dia depois do fatídico 11 de setembro de 2001. Sua vida, desta forma, foi marcada por uma espécie de desencanto coletivo, em que as esperanças parecem opacas – tal como a fotografia meio chapada meio neon de Euphoria. A perda de seu pai por câncer foi a pá de cal para que a adolescente manifestasse em si essa espécie de pulsão de morte, que a coloca sempre à beira do precipício.

Zendaya (ela mesma uma artista símbolo de um grande grupo de jovens) defende lindamente a personagem, que se degrada a cada encontro que temos com ela, para o desespero da mãe, da irmã e de todas as suas amigas. Na temporada 2 de Euphoria, preste atenção especialmente no episódio em que Rue foge de maneira desesperada de uma possível internação.

Os Anéis de Poder e A Casa do Dragão: protagonismo feminino em séries fantásticas

GaladrielOs Anéis de Poder (Amazon/Reprodução)

Não dá para esquecer também que 2022 é o ano da muito esperada retomada do universo de Game of Thrones, a partir do seu prequel A Casa do Dragão, da HBO Max. A história é retomada dois séculos antes do começo da série original, e tem como foco a dinastia Targaryen um século antes do nascimento de Daenerys, a rainha dos dragões.

O foco de A Casa do Dragão está em Rhaenyra, a filha do rei Viserys – personagem da atriz australiana Milly Alcock. Ela é apresentada como forte e líder, ainda que muito jovem, o que faz com que tenha que enfrentar muita desconfiança dos homens, que não acreditam que uma mulher possa herdar o Trono de Ferro.

Viserys acaba optando pelo filho mais novo, Daemon, um homem encrenqueiro e inescrupuloso. Após muitas decepções, o rei resolve mudar sua opção e indicar Rhaenyra como sua sucessora no trono, questão que envolve várias discussões acerca dos direitos das mulheres, trazendo um olhar atual para uma série que se passa em tempos remotos.

Por fim, 2022 também nos trouxe O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, da Amazon Prime, que também tem levantado reclamações (tal como O Predador: A Caçada) sobre o protagonismo feminino e a diversidade do elenco. Os atores e atrizes já sofreram ataques racistas por conta de seus papéis, e há um especial incômodo com o fato de o personagem Arondir ser um elfo negro e por Galadriel ter uma centralidade muito maior do que nos filmes, tomando um espaço que seria de personagens homens.

O fato de que o protagonismo das mulheres ainda tenha que ser discutido é um sintoma triste que há ainda muito o que se avançar. Por sorte, as personagens e as atrizes que temos na ativa são tão competentes que dá gosto seguir falando sobre elas.

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