Criadas para realizar a intersecção entre longevidade e tecnologia, as agetechs estão emergindo como um mercado promissor, impulsionando a disrupção tecnológica para tornar a longevidade acessível a todo mundo. Além de atender às carências dos 60+, essas startups criam interfaces capazes não só de engajar, mas também de estabelecer uma relação de confiança com o público idoso.
Essas empresas também são uma resposta da tecnologia à chamada Economia da Longevidade, ligada a uma profunda mudança no panorama demográfico global, que aponta aumento do envelhecimento populacional.
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Vistas pelo impacto humano, essas empresas sinalizam para um ganho civilizacional capaz de democratizar a ampliação da expectativa de vida das pessoas. Já do lado dos negócios, a tendência abre oportunidades para que empreendedores ofereçam serviços mais eficientes e economicamente acessíveis à turma sênior.
Na prática, o que faz uma agetech?
Agetechs beneficiam os 60+ e, indiretamente, os seus cuidadores.
De maneira bem simples, podemos dizer que agetech é qualquer tecnologia digital desenvolvida para populações idosas.
Nessa busca para facilitar a realização de desejos e necessidades de adultos mais velhos, o conceito abrange dispositivos e tecnologias capazes de melhorar sua qualidade de vida. Indiretamente, esses benefícios podem se estender a familiares e prestadores de cuidados.
Idosos e conectividade: como as agetechs ajudam nesse setor?
Quando se fala em conectividade de idosos, é bom deixar claro que ficou no passado aquela imagem de idosos que não acessavam a internet. A partir da segunda década dos anos 2000, a popularização dos smartphones atingiu níveis sem precedentes entre a galera 60+, sobretudo durante a fase mais crítica da covid-19.
De modo intuitivo, ou antevendo as possibilidades de um gigantesco mercado, as big techs entraram forte na onda de tecnologias para a longevidade, criando aplicativos para facilitar transações financeira, fazer compras online, conversar com família e amigos e se divertir nas redes sociais.
A agetech Birdie desenvolve apps para cuidados preventivos.
Mas, qual foi então o papel das agetechs nesse processo? Em uma entrevista à Forbes, Dominic Endicott, o primeiro investidor a injetar grana em uma startup desse tipo em 2007 (a Great Call, hoje Lively), explicou que essas empresas foram criadas para maximizar a inclusão digital da galera de 60+.
Nesse sentido, elas focaram em capacitar digitalmente a população idosa em quatro categorias principais: "serviços adquiridos por pessoas mais velhas; serviços adquiridos em nome de pessoas idosas; serviços comercializados entre idosos e jovens; e serviços prestados aos futuros idosos", explicou o diretor da Northstar Ventures.
Na entrevista, Endicott projeta que a Economia do Envelhecimento global atingirá US$ 27 trilhões em 2025.
Quais são os benefícios da agetech para a sociedade?
Com a chegada das agetechs, a tecnologia pode atuar como uma "cuidadora virtual de idosos" dentro da lógica fundamentada na Internet das Coisas (IoT). Junto à telemedicina, essa é uma das grandes apostas dos serviços de cuidados em saúde.
De acordo com Everton Nunes da Silva, gerente-executivo de Negociação da Cassi, operadora de gestão de saúde dos funcionários do Banco do Brasil, a telemedicina tem se mostrado 100% eficaz no atendimento de casos simples dos 178 mil participantes acima de 60 anos da carteira.
O procedimento complementa o atendimento presencial de pacientes mais graves, explicou ele à MIT Technology Review.
“Antes, era necessário ter alguém olhando o idoso o tempo todo. Hoje, conseguimos acompanhá-lo a distância com mais facilidade, oferecendo mais conforto e autonomia aos pacientes”, destacou.
- Leia também: Empreendedorismo e revolução: o que são as femtechs?
Independência dos mais velhos
A lâmpada inteligente Nobi detecta quedas de idosos e avisa cuidadores.
Um dos exemplos mais notáveis disso é a lâmpada inteligente da agetech belga Nobi. Lançada no Consumers Electronics Show (CES) 2021, a smart lamp consegue detectar quedas e entrar rapidamente em contato com familiares ou cuidadores para obter assistência.
Esse tipo de produto, além dos assistentes digitais, vestíveis, audíveis, tablets e smartphones faz com que um número maior de idosos decida envelhecer em casa, em vez de optarem por comunidades ou lares de idosos.
Bem-estar dos idosos
Para proporcionar essa autonomia, as agetechs estão se concentrando em soluções que prometem deixar as residências de idosos mais inteligentes e adaptadas às suas necessidades e bem-estar, com direito a sistemas de automação, sensores de movimento, fechaduras eletrônicas, luzes controladas por voz e controle ambiental.
Profissionais de nível sênior no mercado
Com a inclusão digital, a palavra "aposentadoria" está caducando.
Existem, no entanto, aqueles que querem e precisam sair de casa, mas para cuidar de seus próprios negócios. Conforme a professora da Universidade de Stanford, Susan Wilner Golden, a maioria das pessoas entre 55 e 85 anos continua se desenvolvendo.
Para isso, agetechs têm se especializado em ampliar essas habilidades (upskilling) ou atualizá-las (reskilling). Sendo assim, a palavra "aposentadoria" ganha outros significados.
Sociabilidade e comunicação
Para que essa geração "turbinada" de maiores de 60 se comunique com seus amigos, parentes, crushes e clientes, algumas agetechs têm trabalhado em produtos como:
- GrandPad, um tablet simples e seguro que permite fazer chamadas de vídeo, enviar emails, compartilhar fotos e até mesmo jogar alguns games irados.
- Amazon Echo Show, que traz a conhecidíssima Alexa com uma tela para chamadas de vídeo, exibição de filmes e fotos.
- Lively Mobile Plus, um gadget de alerta médico móvel e detector de quedas.
- Facebook Portal, dispositivo parecido com um tablet, que faz chamadas de vídeo por meio do Messenger e WhatsApp, além de reproduzir vídeos e músicas.
Como está o cenário das agetechs no Brasil?
Um estudo recente da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) revela que desde 2016 o Brasil abriga a quinta maior população de idosos do mundo. Segundo a pesquisa, o número da galera com 60 anos ou mais subiu de 2,6 milhões em 1950 para 29,9 milhões em 2020, devendo chegar a 72,4 milhões no ano de 2100.
O app Matinê é um "clube de saúde e entretenimento".
De olho nesse crescente mercado, as agetechs brasileiras especificamente direcionadas ao público 50+ são compostas em sua maioria por soluções de comunicação (aprendizado, social e proteção contra golpes), enquanto as não exclusivas a esse público são voltadas para a área da saúde (gerenciamento de medicação, reabilitação e sistema de resposta de emergência pessoal).
Os dados fazem parte do Mapeamento de Agetech, pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), MedSênior e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Veja alguns exemplos:
- Eu Vô - aplicativo criado em São Carlos/SP, que oferece transporte seguro e humanizado para idosos ou com mobilidade reduzida.
- Matinê App - uma espécie de clube digital de saúde e entretenimento, que dá acesso a uma plataforma de telessaúde e organiza grupos de usuários por afinidades.
- Aging 2 - organização multinacional sem fins lucrativos, que busca identificar desejos dos usuários 60+ para design de tecnologias inovadoras.
O estudo da UFJF aponta que os maiores desafios para as agetechs brasileiras são: levantar capital inicial para investir na ideia (para 41% dos entrevistados), conquista dos primeiros clientes (27%) e dedicação integral à startup (23%). Mas o envelhecimento da população brazuca promete um cenário com muitos desafios, porém rico em termos de negócios.
*Este é um conteúdo do The BRIEF, newsletter de tecnologia, negócios e comportamento, para o meu irmão TecMundo. Análises, insights e informação que sacode o mundo desde 2017. Vem ser briefer você também!
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