A história da ZTE, do começo até a crise atual [vídeo]

8 min de leitura
Imagem de: A história da ZTE, do começo até a crise atual [vídeo]

O mais novo capítulo da série de história da tecnologia é sobre uma fabricante que tá na pior fase possível e que pouca gente dá valor, mas que é bem maior e mais poderosa do que você imagina.

Estamos falando da ZTE, e você vai saber abaixo de onde ela veio, por que ela é tão importante para o mercado atual e também para onde pode ir depois de acontecimentos recentes.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Curtiu o conteúdo? Então se inscreva no canal do TecMundo no YouTube para mais vídeos como esse! Acompanhe também os episódios anteriores do História da Tecnologia para saber de tudo que já falamos por aqui.

O começo discreto

A ZTE foi fundada em 1985 em Shenzhen, na China, por um grupo de investidores da área aeroespacial. O nome original era Zhongxing Semiconductor, e ela já começa como várias empresas de tecnologia do país: ligada ao governo e com contratos em ministérios. Ela ficou dois anos só no setor público atuando com pesquisa, desenvolvimento e exploração espacial.

A palavra Zhongxing é uma cidade e significa restauração ou ressurgimento. Ela se refere a dois episódios históricos da China, um deles a retomada da dinastia Xia ao poder no território.

Pessoas sentadas.

Só em 1987 sai o primeiro produto da marca em telecomunicações. É o ZX-60, um controlador para terminais telefônicos. Até o fim dos anos 80, ela lança mais componentes pra centrais de telefonia e faz o nome na área.

Fazendo o nome

Em 93, ela finalmente muda o nome para Shenzen Zhongxing New Telecommunications Equipment, e adota a sigla ZTE. No ano seguinte, lança um terminal telefônico pra 2.500 linhas que vira um fenômeno em hotéis, empresas e estações. E em 95, vira a primeira empresa da China com certificação ISO 9001 de qualidade de equipamentos.

Um terminal telefônico.

O ano de 1997 é marcado pela primeira oferta de ações da marca na sua terra natal e um marco: a primeira empresa pública na área que vira independente economicamente via fundo privado. Já em 98, ela é a primeira chinesa a assinar um contrato de telefonia no Paquistão. Ela também abre um centro de pesquisa nos Estados Unidos pra software e componentes.

No fim de 99, a ZTE apresenta um telefone celular chamado ZTE 189, o primeiro chinês com duas frequências de transmissão. Em 2000, ela lança o primeiro dispositivo CDMA do mundo com cartão SIM destacável.

Dois celulares.

CDMA significa Acesso Múltiplo por Divisão de Código e é uma tecnologia alternativa ao GSM pra telefonia, mais recomendada pra arquivos e transmissões multimídia. A ZTE era dona de 40% dos pedidos globais pra redes CDMA, mas também investiu em GSM e chegou a ser a terceira do mundo nesse segmento.

Agora é mundial

Só em janeiro de 2002 ela abre a divisão de smartphones com foco em mercado internacional. Pois é, até aqui, a ZTE era uma companhia de atuação puramente na Ásia e ainda sem lançar o que mais fez ela ficar conhecida pelo público, que são telefones inteligentes. Buscando reconhecimento internacional, o nome muda de novo, agora só pra ZTE.

Uma logo.

Ela faz uma oferta global de ações em 2004 e traz números recordes em tecnologia sem fio, terminais e telefonia. Ainda em 2004, ela lança o GoTa, ou Global Open Trunking Architecture, uma tecnologia de backbone pra telefonia forte na Ásia e na Europa baseada em CDMA.

Em 2005, ela vira a maior fornecedora de equipamentos sem fio da China, e até ao fim de 2007 registra cerca de 12 mil patentes.

Lançamentos curiosos

E a ZTE fez parcerias exclusivas com países emergentes. O Vergatario, de 2009, foi vendido só na Venezuela e apresentado pelo presidente Hugo Chavez. Também de 2009, o S212 foi o primeiro da ZTE com carregamento solar e chegou ao Brasil.

Um celular.O Vergatario.

O Orange Rio, de 2010, foi lançado em poucos mercados e era uma alternativa aos BlackBerry. Nesse mesmo ano apareceu o ZTE Racer, que de corredor não tinha nada e era um Android bem modesto. Ele só é lembrado porque foi o antecessor do ZTE Blade, também de 2010, um nome que deu origem a uma linha inteira de telefones da marca que durou vários anos.

Um smartphone.O ZTE Blade.

Já em 2011, a ZTE lança dois smartphones que merecem destaque. O primeiro é o ZTE Fashion, que ironicamente foi considerado brega pela indústria tanto em aparência quanto em recursos. Nessa época, as fabricantes apostavam nesses aparelhos ligados com moda, tipo o LG Prada. O LG Skate era mais pé no chão e focava no segmento "bom e barato".

Um celular.

Em 2012, sai o primeiro ZTE com Windows Phone, o Tania. Esse também foi o ano do Orbit, que tinha Windows Phone 7.5 e foi o primeiro do sistema da Microsoft com NFC.  Só que eles não conseguiam competir contra os Lumia, da mesma faixa de preço, mas melhor qualidade de fabricação. O ZTE Era ficou marcado pelo processador quad-core Tegra 3 da NVIDIA.

O catálogo só cresce

Com tantos lançamentos, em 2012 ela é a quarta maior vendedora de telefones do mundo. E nesse ano ela passa a abrigar uma subsidiária. É a Nubia, que começa a lançar smartphones e se torna independente em 2015. Ninguém menos que Cristiano Ronaldo é o atual garoto propaganda e promoveu o Nubia 17 e 17S.

Vários smartphones.

Em tablets, a ZTE foi mais modesta, mas também apostou no mercado de baixo valor. Dá pra falar aqui do V9, de 2011, e do V81, de 2013. O ZTE Grand S tinha um visual bem interessante e foi o primeiro grande sucesso da marca nos Estados Unidos.

Mas as estranhezas retornam com o ZTE Open, um smartphone de entrada pra desenvolvedores que queriam testar apps no Firefox OS, e vendido só na Espanha. E pra não dizer que ela fica só em celular, em 2014 saiu o Android Projector Hotspot, que como o nome diz, mistura dois aparelhos bem diferentes: um projetor de imagem e um hotspot de conexão.

Um projetor.

O ano de 2015 marca a estreia da família Axon, a principal linha da ZTE nos últimos anos. E também o lançamento do Grand S3, primeiro do mercado com bloqueio via leitura de retina.

Os filhos mais novos

Em 2017, a ZTE apresenta o ambicioso smartphone Axom M, com duas telas divididas ao meio. Ele foi elogiado pelo funcionamento, mas tinha problemas de uso.

Um celular.

Nesse ano, ela ousou ainda mais com o projeto Hawkeye, um celular colaborativo que teve as características escolhidas pela comunidade, como rastreamento do olho e traseira autoadesiva, e foi financiado via Kickstarter. Só que no fim das contas, ele ficaria caro demais. A ZTE teve que cancelar o crowdfunding e baixar as especificações técnicas. Ele está atualmente no limbo.

Uma pessoa.

A empresa fornece produtos e serviços pra mais de 140 países e 500 operadoras, e esses acordos garantiam que ela sempre estivesse bem financeiramente. Ela também lançou um laboratório em conjunto com a Texas Instruments, Intel, IBM, Qualcomm e Microsoft.

A ZTE ainda foi uma das pioneiras da plataforma Android GO de baixíssimo custo. O smartphone Tempo GO, de 2018, custa 80 dólares e foi o primeiro do segmento no Ocidente.

E o Brasil?

Mas antes de falar de hoje, é hora de vir pro nosso território. A ZTE estudou vir pra América Latina em 2001 e chegou no final de 2002. O país é chave pra treinamento, suporte técnico e atendimento ao cliente em toda a região. O ano de 2006 é considerado o primeiro com presença local fortalecida e já rendeu faturamento anual nacional de 20 milhões de dólares.

Além de trazer vários aparelhos de entrada, a ZTE lançou no fim de 2011 os celulares R236 personalizados pra times de futebol, com cores de grandes clubes e especificações modestas. Tem também o R228 Barbie, todo rosa e personalizado.

Quatro celulares.

Nesse ano, Dilma Rousseff anunciou uma fábrica da ZTE em Hortolândia pra lançar tablets. E tem outra novidade nesse ano que marcou muito o brasileiro: o V821 saiu em 2011 e foi o primeiro dual chip Android do país. Dois anos antes, ela trouxe o primeiro brasileiro com NFC, o R233.

Em 2012, ela parou de vender celulares no Brasil até cerca de 2016, por conta de erros estratégicos e dos altos impostos. Ela voltou em 2016 com cinco smartphones de uma vez, incluindo o Blade A510 e Blade L5. O foco seria o de smartphones mais acessíveis.

Um smartphone.O Blade A510, parte do renascimento da marca no Brasil.

Por aqui, a ZTE tem soluções em redes tradicionais e sem fio, além de tecnologia CDMA e GSM. Em 2014, assinou com a TIM pra trazer a Ultra Banda larga móvel ao país. A matriz e a principal fábrica ficaram em São Paulo, mas ela teve escritórios em outras capitais.

É o fim?

Só que a crise bateu forte a partir de 2017 por causa de uma prática comercial, e em 2018 deu tudo errado de uma vez. Tudo começou com uma denúncia de que ela e a também chinesa Huawei estariam vendendo tecnologias e componentes pra Coreia do Norte e Irã, países com bloqueios comerciais dos Estados Unidos.

A ZTE é chinesa, mas o mercado norte-americano é o maior dela em produto e em importação de componentes. Para você ter ideia, 9,5% do mercado de smartphones por lá é dela, ficando em quarto lugar.

A punição saiu em abril de 2018: multa pesada e a proibição de comprar componentes de empresas dos Estados Unidos. 

Ela até poderia ser proibida de usar o Android. Como consequência, em maio, a ZTE anunciou que encerraria as operações principais de produto, e tirou toda a loja norte-americana do ar. Nas fábricas na China, os funcionários ou participam de treinamentos ou simplesmente ficam sem nada pra fazer. A ZTE estuda o que fazer e deve continuar forte em infraestrutura, mas em telefones pode ser o fim dessa empresa.

Duas pessoas se cumprimentandoTrump e Xi Jinping.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e da China, Xi Jinping, estudam atualmente uma forma de não deixar um nome tão pesado simplesmente desaparecer, mas a negociação vai ser uma novela e pode envolver ainda mais multas — atualmente, o valor está em US$ 1 bilhão e envolve a troca da diretoria, mas o Senado norte-americano rejeitou a atual proposta. Isso ainda vai longe.

...

E essa é a história da ZTE, uma marca chinesa que é gigante, mas a gente acaba sabendo muito pouco sobre ela. E pelo que tá acontecendo atualmente, isso pode não ter um final feliz. Se você quiser ver a história de uma empresa, produto ou serviço contada aqui na série, é só deixar a sugestão nos comentários.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.