Maracutaia: Uber tinha “botão de pânico” para se proteger contra a polícia

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Mais uma polêmica em torno das práticas empresarias questionáveis da Uber emergiu na imprensa internacional hoje (11). A empresa, que tem um extenso histórico de escândalos para uma companhia com menos de 10 anos de mercado, agora está sendo acusada de obstrução de justiça em mais de 20 casos de "batidas policiais" em seus escritórios ao redor do mundo.

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Desenvolvido com o único propósito de esconder evidências durante batidas policiais

Em uma extensa reportagem, a Bloomberg revela que, de acordo com fontes internas da Uber, havia uma espécie de “botão de pânico” na sede da empresa em São Francisco, que permitia bloquear todos os computadores de qualquer escritório da companhia remotamente e imediatamente. O software teria sido desenvolvido com o único propósito de esconder evidências durante fiscalizações policiais, o que, aparentemente, são ocorrências frequentes nas bases internacionais da Uber.

De acordo com as fontes da Bloomberg, os gerentes de escritórios da Uber eram instruídos a enviar um código de pânico para uma central em São Francisco sempre que a polícia aparecesse . Com isso, todos os computadores, smartphones e outros aparelhos de propriedade da empresa eram deslogados, e as senhas de todos os usuários eram alteradas para que a polícia não tivesse acesso de forma alguma ao conteúdo armazenado nesses aparelhos. Isso tornava os dados criptografados nas máquinas essencialmente inacessíveis.

uebr"Máquina de destruição de evidências" da Uber ilustrada artisticamente pela Bloomberg

Caso de Montreal

A reportagem afirma que o software era colocado em funcionamento apenas em escritórios da Uber fora dos EUA. Em maio de 2015, ele foi usado na base da Uber em Montreal, no Canadá, assim que a polícia local apareceu para fazer uma inspeção nos computadores e colher evidências. As autoridades tinham um mandado válido, e, legalmente, a Uber seria obrigada a entregar tudo o que estava sendo solicitado pela justiça. Nesse caso, a companhia era investigada no Canadá por sonegação de impostos. Em outras cidades no mundo, investigações similares e outras voltadas à exploração ilegal de mão de obra também “morreram na praia” por conta desse “botão de pânico”.

Não é a primeira vez que práticas condenáveis da Uber são reveladas pela imprensa

Não foi revelado o responsável pela criação desse software, mas uma das fontes da Bloomberg chegou a comentar que o programa se mostrou necessário mundo afora. “A polícia fora dos EUA nem sempre aparece com mandados ou funciona de acordo com protocolos legais para conduzir suas batidas”.

Ao TecMundo, a Uber enviou um comentário oficial sobre a situação. Confira na íntegra:

"Como toda companhia com escritórios ao redor do mundo, temos procedimentos de segurança que visam proteger as informações internas da empresa e dos usuários. Por exemplo, se um funcionário perde seu laptop, temos recursos para, remotamente, desconectar este computador dos sistemas da Uber e, assim, prevenir que alguém tenha acesso às informações privadas contidas nesse laptop. Em relação a investigações, nossa política é a de cooperar com as autoridades nos termos da lei".

Acontece que esta não é a primeira vez que práticas polêmicas da Uber são reveladas pela imprensa internacional. Além disso, o exemplo da batida de Montreal em 2015 deixa transparecer que o software conhecido internamente como “Ripley” não era usado apenas em casos nos quais a polícia agia fora das regras.

A ideia era mostrar uma tela de login falsa nos computadores da empresa para quando a polícia viesse investigar alguma coisa

Para completar a situação, um dos líderes da equipe de desenvolvimento do Ripley teria trabalhado em um protótipo diferente. A ideia era mostrar uma tela de login falsa nos computadores da empresa para quando a polícia viesse investigar alguma coisa. Esse programa desenvolvido para enganar as autoridades nunca teria sido concluído ou usado realmente.

Boa parte de práticas similares da Uber já foram atribuídas ao ex-CEO da companhia, Travis Kalanick. Depois de escândalos relacionados a assédio sexual na empresa, ele foi praticamente forçado a sair da liderança, mas ainda tem considerável influência na mesa diretora. Recentemente, o fundo de investimentos japonês SoftBank comprou cerca de 20% das ações da companhia para, com isso, diluir o controle acionário de Kalanick e, aparentemente, minimizar sua influência na Uber.

Notícia atualizada com comentário oficial da Uber às 16h57 de 11/01/18.

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