Perfil: Rodrigo Cartacho conta a trajetória da plataforma de eventos Sympla

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“Desde sempre não sei fazer outra coisa que não seja empreender.” É assim que Rodrigo Cartacho, 35 nos, define a si mesmo. E é pura verdade: com 17 anos ele já tinha seu primeiro negócio e em pouco mais de 16 anos abriu sete empresas, incluindo a Sympla, umas das mais celebradas startups das últimas temporadas.

A Sympla movimentou R$ 118 milhões em vendas online no ano passado e pretende aumentar a receita em 150% em 2017

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A plataforma de venda de eventos, fundada em 2012 por Cartacho, seu irmão Marcelo e o empresário argentino David Tomasella, comemora um bom momento, com recorde de 10,8 mil atrações à venda simultaneamente em agosto. A companhia foi tomando conta dos andares de um prédio em um dos “vales do silício brasileiros”, o San Pedro Valley, em Belo Horizonte, e conta com mais de 150 mil eventos publicados e 30 mil organizadores ativos, com 165 funcionários e escritórios em cinco capitais brasileiras.

Em 2016, movimentou R$ 118 milhões de vendas online e a expectativa é de crescimento de 150% na receita em 2017. Recentemente, lançou aplicativos para Android e iOS, com novos filtros e seção para produtores. Batemos um papo com Rodrigo para saber mais sobre essa trajetória e sua visão de mercado.

Fale um pouco de você, sua experiência.

Venho empreendendo há muito tempo. Esse é o meu sétimo projeto, já tive diversos tipos de empresas, tanto online e offline, e em vários países também. Trabalhei tanto aqui quanto na Espanha e na Hungria, lugares onde morei, por exemplo.

Voltei para o Brasil faz cinco anos para montar a Sympla e desde sempre não sei fazer outra coisa que não seja empreender.

Como você começou, qual foi seu primeiro empreendimento?

Comecei quando tinha entrado na faculdade e percebi que queria montar uma empresa. Ali percebi a complexidade que é montar algo assim no Brasil. Tinha o perfil de designer gráfico e fazia alguns eventos.

Mesmo sendo difícil, já montei três frentes de uma só vez: um estúdio de design e outro para ensaio de bandas e uma produtora para eventos culturais. Todas ficavam em partes separadas da mesma casa, aqui no bairro São Pedro (o atual San Pedro Valley, em Belo Horizonte).

Isso era no final dos anos 90 e fiquei tocando esses negócios por uns bons anos. Foram as primeiras experiências sólidas, em paralelo com os estudos de Comunicação Social na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Minas e especialização em Publicidade em Propaganda.

E o que veio depois?

Em 2003, vendi essas empresas e as coisas que tinha, saí, fui morar fora e rodar o mundo. Viajei por muito tempo. Depois fui fazer um mestrado em Administração de Empresas na Universidade de Girona, em Barcelona, procurando um viés de algo que nunca tivesse tido conhecimento anterior.

Montei um “albergue boutique” quando esse conceito ainda não existia e em três meses ele virou o melhor de Barcelona, segundo o Trip Advisor

Então, fui em busca do setor de Turismo. Logo deu uma “coceira” e já estava abrindo um albergue. Só que era em estilo “boutique” (nota do redator: um conceito mais moderno e arrojado, especialmente voltado para a clientela jovem), não existia esse conceito de hostel ainda. Depois de três meses ele virou o número no Trip Advisor — era o melhor albergue de Barcelona.

Deu muito certo. Fui montando andares e mais andares — algo parecido com o que é a Sympla hoje — e fui super bem. Daí montei uma agência de design com foco em web, era o comecinho desse segmento.

Volta ao Brasil e em seguida à Europa

Em certo momento, tive que me desfazer das coisas por lá e voltar ao Brasil, meus pais haviam adoecido. Quando retornei para a Europa, tinha me desfeito de toda a vida que tinha na Espanha e fui morar em Budapeste, na Hungria, em 2006. Reabri a agência de design, mas dessa vez com foco em UX (NR: User Experience, uma área que visa a interação dos usuários com serviços e produtos). Era um conceito novo na época, poucas empresas tinham especialização nisso.

Além dessa companhia, também abri outra, de compensação de emissão de CO2. Foi quando saiu aquele documentário do Al Gore (NR: “Uma Verdade Inconveniente”), falando sobre mudanças climáticas. Era uma frente que atuava B2B (Business to Business) e B2C (Business to Consumer), você podia fazer isso com o telefone e ganhar um certificado.

Os primeiros contatos para a construção da Sympla

Toquei isso até o momento em que meu irmão e outro sócio me chamaram. Eles estavam com essa ideia de plataforma para eventos no mercado brasileiro, já trabalhavam no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e desenvolveram um sistema para gestão de eventos por lá.

Eles me disseram que sabiam bem como lidar com o que estavam fazendo mas precisavam de alguém com o meu perfil. “Você é designer, produtor de eventos e é empreendedor. É tudo o que falta para a gente.”

"Área de descompressão" para os funcionários, na Sympla

Voltamos para o Brasil na virada de 2011 para 2012 e no começo do ano montamos a Sympla. Acabamos de completar cinco anos, sendo o site com o maior número de eventos à venda no Brasil, ainda mais em tão pouco tempo. Temos cerca de 10,8 mil atrações disponíveis diariamente atualmente na plataforma.

Em que momento você notou que a Sympla deixava de ter características de startup e poderia já alçar voos mais altos?

Acho que aí passa um pouco na questão sobre o conceito: o que é startup? Não é só uma empresa de tecnologia de ambiente de incerteza e etc e tal. É um modelo de negócios que está chegando para revolucionar os modelos tradicionais por meio de tecnologia e escalabilidade.

Startups têm que estar posicionadas ao ponto em que no momento da mudança de cenários estejam preparadas para agentes de revolução no mercado

Mas a empresa continua sendo uma startup à medida que ela vai crescendo, desde que ela mantenha essa “alma” de estar utilizando a tecnologia para revolucionar o mercado onde está. Já há cinco anos as startups passaram a gerar mais certezas do que incertezas. Só que os modelos de negócios vêm mudando tanto que elas precisam continuar se mantendo ao longo do tempo, para se reinventar de forma muito rápida e forte.

O ambiente de incertezas não é mais somente de quem está começando, mas de todos os mercados do mundo. Por isso, a startup tem que estar posicionada ao ponto em que no momento da mudança de cenários ela esteja preparada para ser um agente de revolução.

Quais foram os maiores desafios para transformar a Sympla em um sucesso? E quais as limitações que você precisa superar?

Se formos olhar qual foi o maior “gargalo” que tivemos até hoje, podemos dizer que somos nós mesmos, os próprios empreendedores. Por mais que já tivesse experiência, nunca tinha feito isso no modelo de startup. É muito diferente, em relação ao tradicional. Se eu compactar todos os outros seis empreendimentos anteriores, eles não se comparam com a intensidade que é a Sympla.

Se eu compactar todos os outros seis empreendimentos anteriores que toquei, eles não se comparam com a intensidade que é a Sympla

Você está em um ambiente de extrema incerteza e tem que ter uma velocidade muito grande. O maior custo que temos hoje é o de oportunidades. É preciso escalar a empresa no mesmo ritmo das oportunidades. E isso é muito difícil. Criar uma companhia de 0 para 10,8 mil eventos simultaneamente por dia com 165 funcionários e 70 vagas abertas em cinco anos exige uma capacidade muito diferente em comparação com o modelo convencional.

Nós três começamos com essa empresa depois dos 30 anos, o que faz muita diferença. Ainda que não soubéssemos muita coisa sobre startup, nossas outras experiências na vida nos ajudaram muito a aprendermos mais rápido.

Suas viagens para fora tiveram grande influência nesse processo?

Com toda a certeza. Essas experiências todas são bagagens que a gente vai trazendo e por mais que elas não se apliquem diretamente ao que você está fazendo, é possível compreender e reagir de maneiras diferentes.

Ter vivido fora e tido todas essas experiências de mercado, mesmo offline, são os alicerces para o funcionamento da Sympla.

O que você usa por exemplo dessas experiências anteriores atualmente?

Gestão de pessoas. Tanto as experiências com as outras empresas quanto morar em outros países são fundamentais para mim. Começar a entender o outro como o outro, enquanto diferenças: isso é importante para você criar um modelo de gestão rápido e flexível — no nosso caso, horizontal.

Assim que você mostra um caminho, quatro ou cinco startups começam a concorrer no mesmo setor, então a manutenção é tão difícil quanto a criação, não?

Sem dúvida. Quando lançamos a Sympla, várias outras plataformas chegaram ao mercado ao mesmo tempo. Muitas delas capitalizadas, com alto fundraising. Se você encontrou um modelo que se adapta ao mercado naquele momento, é inevitável que você não seja o único.

Costumamos achar que a concorrência é negativa. No nosso caso, trazíamos um modelo de “self service” para eventos. O “Do It Yourself”, tão novo para os produtores de eventos no Brasil que os concorrentes ajudaram a educar o próprio mercado. Então, isso pode ser benéfico.

Obviamente que na grande maioria dos casos é preciso que você seja o líder. Mas em alguns, como foi o nosso, ter outras pessoas ajudando os consumidores a entender o produto pode auxiliar você a chegar ao topo. A gente encontrou uma fórmula e é natural que outras pessoas olhem para essas soluções. O importante é sempre estar um passo à frente. Você sempre tem que ser o agente transformador.

E qual é o próximo passo da Sympla?

Hoje temos um foco muito grande na expansão nacional, com escritórios em vários cidades, e vamos continuar aumentando o número em todo o Brasil. As unidades estão em Belo Horizonte, São Paulo, Rio, Recife e Goiânia e em breve mais duas no Sul. A expectativa é de que até o final do ano tenhamos 10 regionais da Sympla operando.

E fora do Brasil?

Não é o momento, por enquanto. São muito claras as oportunidades que temos por aqui. No nosso modelo, com entrega no offline, para cada país que formos será necessário montar uma operação muito robusta — que é semelhante com as cidades daqui do Brasil.

Então, a gente prefere priorizar hoje o crescimento nacional do que a internacionalização. É óbvio que isso fica no nosso radar, mas é preciso fazer isso no momento certo.

Falando sobre negócios e tecnologia, como você avalia o momento em que estamos vivendo no país?

Obviamente, o Brasil está passando por uma das maiores crises da história. Estamos vivendo uma mudança de era nos modelos de negócios. Independente da crise, essa transformação é irreversível e ela vai atuar em todos os mercados.

Estamos vivendo uma mudança de era nos modelos de negócios

Somos uma geração posicionada para sermos transformadores de todos os modelos de negócios, com ou sem crise. Os problemas afetam, mas estamos pensando globalmente. Várias startups atendem o mundo todo. E mesmo que você atenda somente o Brasil, a revolução que a tecnologia e nossos modelos podem trazer para as indústrias é tão grande que agora esse é o caminho natural, é irreversível.

E para quem nunca ouviu falar da Sympla, como você resumiria a missão da empresa e sua atuação no mercado?

A Sympla é uma plataforma de venda de ingressos e inscrições para eventos que atua durante o ciclo de vida completo da atração: divulgação, gestão, dia da apresentação e pós-evento. É uma empresa que em cinco anos se tornou a maior referência da área no Brasil.

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