Cosmos para Curiosos #5: o que são pulsares?
Descubra o que são os pulsares, um das classes de objetos mais exóticas do Universo!

Por Nícolas Oliveira
01/06/2025, às 18:00
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Fonte: Astropt
Pulsares são alguns dos objetos mais fascinantes e exóticos do Universo. São estrelas de nêutrons altamente magnetizadas e em rotação rápida, que emitem feixes de radiação eletromagnética a partir de seus polos magnéticos.
Esses feixes varrem o espaço como um farol cósmico, e quando estão alinhados com a Terra, podem ser detectados como pulsos regulares de radiação. Mas como funcionam exatamente esses objetos e como foram descobertos?
A história dos pulsares começa em 1967, quando a astrofísica Jocelyn Bell Burnell, então estudante de doutorado, detectou sinais de radiação rápidos e regulares utilizando um radiotelescópio da Universidade de Cambridge.
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Inicialmente apelidado de "LGM-1" (Little Green Men), o sinal foi logo reconhecido como natural, vindo de uma fonte celeste. Posteriormente, foi identificado como sendo proveniente de uma estrela de nêutrons rotativa: nasciam as primeiras ideias acerca dos pulsares.
A descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Física de 1974 a Antony Hewish e Martin Ryle, mas Bell Burnell, que desempenhou papel central, não foi incluída, o que permanece como uma das grandes controvérsias da história da ciência.
- Descubra: Quanto pesa uma estrela de nêutrons?
Um pulsar é uma estrela de nêutrons que gira rapidamente e possui um campo magnético intenso. As estrelas de nêutrons são remanescentes de supernovas: quando uma estrela massiva esgota seu combustível nuclear, seu núcleo entra em colapso, formando um objeto extremamente denso com cerca de 1,4 vezes a massa do Sol, mas com apenas 20 a 30 km de diâmetro.
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O campo magnético desses objetos pode ser trilhões de vezes mais intenso que o da Terra, e sua rotação pode variar de milissegundos a alguns segundos. Os feixes de radiação são gerados na região dos polos magnéticos, que, em geral, não coincidem com os polos de rotação. Assim, conforme o pulsar gira, os feixes podem atingir periodicamente a Terra, produzindo os pulsos observados.
Quais os diferentes tipos de pulsar?
Os pulsares são classificados em diferentes categorias, de acordo com suas propriedades:
- Pulsares de período longo: giram mais lentamente, com períodos de rotação de segundos;
- Pulsares de milissegundos: extremamente rápidos, com rotações de até 700 voltas por segundo. Acredita-se que tenham sido "reciclados" ao acumular matéria de uma estrela companheira;
- Magnetares: Um tipo de estrela de nêutrons com campos magnéticos ainda mais intensos, que emitem pulsos de raios X e gama;
- Pulsares binários: formam sistemas com outra estrela, permitindo testes rigorosos da relatividade geral, como no pulsar binário de Hulse-Taylor.
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Os pulsares são laboratórios naturais de física extrema. Por sua precisão temporal, são usados como "relógios cósmicos". Alguns têm estabilidade comparável ou superior a relógios atômicos, usados para:
- Testar a relatividade geral: graças às altas energias envolvidas nos processos físicos, sistemas binários com pulsares permitem medir efeitos relativísticos com altíssima precisão;
- Detectar ondas gravitacionais: redes de pulsares (PTAs, Pulsar Timing Arrays) estão sendo usadas para detectar ondas gravitacionais de baixa frequência, emitidas por buracos negros supermassivos em fusão;
- Estudar a matéria densa: as condições no interior de uma estrela de nêutrons são impossíveis de reproduzir em laboratório. Observar pulsares ajuda a entender o comportamento da matéria em densidades nucleares;
- Fast radio bursts (FRBs): são explosões de ondas rádios intensas e breves, cuja origem ainda é um mistério. Alguns FRBs repetitivos parecem estar associados a magnetares.
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Nos últimos anos, observações recentes têm fornecido novos dados e informações acerca da natureza destes objetos. Em 2023, por exemplo, colaborações como NANOGrav e EPTA anunciaram indícios de um fundo de ondas gravitacionais usando pulsares.
Além disso, novos telescópios como o FAST, na China, e o SKA (Square Kilometre Array), em construção na África do Sul e Austrália, prometem multiplicar o número de pulsares conhecidos.
Pulsares são uma das classes de objetos mais exóticas e mais extremas da física. Desde sua descoberta acidental, transformaram-se em ferramentas únicas para testar teorias fundamentais da natureza em condições extremas e, potencialmente, mapear o cosmos em escalas nunca imaginadas.
A cada novo pulsar descoberto, damos mais um passo para compreender a complexidade deste emaranhado imenso que chamamos de Universo.