Desafios fitness entre influenciadores

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Temos visto nas redes sociais e canais de conteúdo digital uma série de desafios fitness. Dentre os mais assistidos, temos nomes como Igor 3k do podcast Flow, Serjão do Space Today e mais recentemente Danilo Gentili, apresentador do “The Noite” e Vilela do Inteligência ltda. podcast, além do ex-atleta de MMA Anderson Silva, que aceitaram o desafio de fazer exercícios físicos regularmente.

Há alguns anos, desafios semelhantes como o “Medida Certa” na TV aberta foram realizados. Sabemos que essa não é uma missão fácil, mas parece que os influenciadores têm se saído bem. O que está por trás do sucesso deles com exercícios?

Posso citar alguns fatores que influenciam no processo de aderência ao exercício. Mas antes, é fundamental entender que na ciência chamamos isso de mudança de comportamento e que realmente é um processo e não apenas uma virada de chave da noite para o dia.

Desde o momento que começamos a pensar em mudar algo em nossa vida, considerando possibilidades de se alimentar ou dormir melhor, fazer exercícios, reduzir ou interromper cigarro ou outros vícios, até a mudança real e manutenção do comportamento adotado na vida, o que ocorre é um processo de mudança, em que há progressões (positivas) e recaídas (negativas).

Iniciar uma atividade física regular, requer mudanças no comportamento e rotina.Iniciar uma atividade física regular, requer mudanças no comportamento e rotina.Fonte:  Getty Images 

Existem algumas etapas nesse modelo, chamado transteórico de mudança de comportamento, criado por dois psicólogos em 1982, ou seja, são estágios que passamos para mudar. Os estágios consideram desde a negação de uma pessoa a fazer exercícios, passando pela consideração de começar, a decisão, organização e preparação, o árduo início e a manutenção.

Toda pessoa passa por isso, mas algumas características dos desafios fitness parecem facilitar esse processo. Saiba quais são elas a seguir:

Acompanhamento profissional

O acompanhamento de profissionais de Educação Física dos canais fitness é fundamental para o sucesso dos desafios, pois se trata de treinamento personalizado, o que pode, segundo alguns estudos, trazer mais resultados.

O profissional ao lado do praticante é, antes de tudo, uma companhia. Um possível fenômeno que ocorre é que as pessoas mudam seu comportamento e tentam fazer melhor quando são observadas, caracterizando o chamado Efeito Hawthorne. Especialmente se visto por milhares de pessoas no YouTube e redes sociais.

Além disso, a relação criada entre treinador e aluno, contribui para construir um vínculo social. Um estudo recente mostrou que o compromisso social responsabilizou os alunos com o cronograma de treino e que isso os motivou a comparecer mesmo quando não tinham vontade – algo comum no início da jornada.

As avaliações físicas constantes mensurando peso corporal, percentual de gordura e medidas podem fomentar competência, quando o praticante vê alguns resultados, embora pequenos, no seu corpo. Por outro lado, a excessiva sobrecarga gerada aos praticantes logo no início pode jogar contra a aderência, pois gera elevada dor muscular tardia.

Não podemos esquecer da máxima “seus movimentos dentro de uma academia, não deveriam piorar seus movimentos fora dela”.

A individualização na prescrição de treino é crucial. Nos desafios, os praticantes são treinados individualmente, de acordo com suas necessidades e limitações. Sendo assim, por que você iria seguir um treino copiado de um blogueiro fitness? Cada pessoa responde diferente aos estímulos do treino, portando siga a prescrição individualizada de um profissional.

O acompanhamento profissional é fator determinante para o sucesso dos desafiosO acompanhamento profissional é fator determinante para o sucesso dos desafiosFonte:  GettyImages 

Ambiente

Você já deve ter ouvido falar que “o ambiente é a mão invisível que molda o comportamento humano”. Essa frase é de James Clear, estudioso dos hábitos. O ambiente de exercícios também influencia nosso comportamento.

Uma revisão sistemática mostrou que pessoas que relatam não gostar de atividade física são mais propensas a serem fisicamente ativas em ambientes com melhor estética, porém sabemos que somente um ambiente limpo e tecnológico pode não ser suficiente para melhorar a relação das pessoas com o exercício físico.

Os fatores prazer, autoeficácia (crença de ser capaz) e apoio social foram os preditores mais fortes associados a frequência de exercícios no primeiro ano de praticantes em 25 academias. Hoje entendemos que mais do que a estrutura, é o ambiente social que parece ter mais impacto sobre nosso comportamento.

Suporte social

Exercício pode ser mais prazeroso se realizado socialmente. O desafio cria uma atmosfera favorável para o objetivo, pois os assuntos principais são os treinos, alimentação e todo o universo fitness envolvido. O momento do treino se torna mais divertido quando estamos com boas companhias, nos distraindo do penoso esforço do exercício, aversivo para muitos iniciantes.

É comum nos vídeos, o pessoal dos canais ficar conversando na academia, antes ou depois dos treinos, indo contra o famoso bordão “fecha a cara e treina”. Além disso, somos influenciados pelos hábitos de nossos amigos e parceiros. A aprovação social do comportamento ocorre com os fãs nas redes sociais, o que fomenta o comportamento.

Temos que reconhecer outra motivação extrínseca que pode mover os desafios: ganhos financeiros, através de patrocínios e visualizações nos canais. Estudos mostram que mesmo removendo incentivos financeiros dos participantes após a pesquisa, eles continuam ativos.

A grande questão é se os praticantes conseguirão se manter ativos, após o término dos desafios fitness. O curto período dos desafios muitas vezes não permite os praticantes sentirem prazer durante os exercícios, aspecto que é forte preditor de continuar treinando, mas é possível aprender a gostar de exercícios no processo.

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Fábio Dominski 
é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos. 

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