Vale a pena ser cientista?

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*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

É sempre de grande importância ressaltarmos a relação entre Ciência a sociedade como um todo. De certa forma, é normal a população associar Ciência com algo que é difícil por natureza ou que não é possível de ser compreendido por todos, ou até mesmo que a Ciência não possui nenhuma relação com a vida cotidiana. De fato, quando buscamos entender algo extremamente específico, precisamos de um pensamento teórico cada vez mais elaborado, mas, ainda assim, mesmo com pouco embasamento, é possível entender a forma com a qual a Ciência trabalha.

Cientistas trabalham em laboratórioCientistas trabalham em laboratórioFonte:  Shutterstock 

Tal trabalho consiste em tentar resolver problemas já presentes ou detectar aqueles que podem não ser percebidos facilmente em nossa sociedade. É claro que, muitas vezes, tais “problemas” não são da sociedade como um todo e podem pertencer somente a algum grupo específico de pessoas, já que nem sempre o esforço de investigação científica visa beneficiar a humanidade, como é o caso das armas nucleares e todo o esforço bélico, por exemplo.

Mas, durante a pandemia da covid-19, não faltaram e não faltam exemplos de como a Ciência pode ser utilizada para beneficiar a sociedade e preservar a vida humana. Conhecimentos como o entendimento sobre a maneira como o vírus se espalha, passando por quais tratamentos são recomendados ou não, até o desenvolvimento das vacinas, foram possíveis devido ao processo de funcionamento da Ciência atual, que conta com amplo processo de revisão feito por uma comunidade global de cientistas.

O rápido desenvolvimento de vacinas eficazes contra a covid-19 foi fruto do trabalho de cientistas em diversas partes do mundoO rápido desenvolvimento de vacinas eficazes contra a covid-19 foi fruto do trabalho de cientistas em diversas partes do mundoFonte:  Shutterstock 

O exemplo de importância da Ciência relacionado a uma questão de saúde humana é bastante evidente, mas devemos ressaltar a relevância de todos os conhecimentos científicos, desde as ciências sociais que nos permitem entender e discutir as diversas interações sociais e culturais que moldam nossas vidas até a pesquisa aeroespacial que nos faz pensar no universo como um todo e como somos pequenos em comparação.

Além disso tudo, investir em Ciência é investir no desenvolvimento de um país, já que esse investimento implica em formar pessoas detentoras de conhecimentos específicos que podem ser aplicados em diversos setores econômicos. Em texto publicado na revista Pesquisa Fapesp, o físico Carlos Henrique de Brito Cruz cita o exemplo do Google, empresa fundada por dois cientistas que eram bolsistas da fundação nacional de Ciência norte americana.

Infelizmente, o Brasil vem na contramão desses apontamentos e, em 2021, ano crucial no enfrentamento da pandemia, o Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea apontou que os investimentos brasileiros em Ciência retrocederam mais de uma década, se corrigidos pela inflação.

Se comparamos os salários de cientistas nacionais e internacionais fica mais fácil entender o motivo pelo qual muitos cientistas têm preferido deixar o país, na chamada “fuga de cérebros”. Por exemplo, um cientista da NASA, agência espacial norte americana, ganha em média entre 10 e 20 mil dólares por mês, equivalente a mais de 50 mil reais mensais. Na média, um cientista norte americano ganha mais de 30 mil reais por mês na cotação atual do dólar.

No Brasil, o cenário é mais complicado, uma vez que o valor de bolsas de mestrado e doutorado são inferiores a 3 mil reais mensais. Mesmo com as dificuldades, o Brasil sempre se encontra nas primeiras posições mundiais em rankings de publicações científicas. Isto é, nossa Ciência possui quantidade e qualidade e cabe a nós enquanto sociedade valorizar, dar importância e cobrar das autoridades o investimento necessário para o melhor desenvolvimento do país.

Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou

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