Uso de bactérias em tratamento de câncer tem bons resultados em novo estudo

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Imagem: Manik Roy/Unsplash/Reprodução.

Que tal se pudéssemos revolucionar o tratamento do câncer com uma solução barata e eficaz? Um estudo realizado na Universidade Nacional da Austrália indica que estamos mais perto desta solução do que pensávamos — e com algo que já havia sido pensado há mais de cem anos, mas nunca colocado em prática. O novo tratamento consiste na injeção de bactérias mortas em células tumorais. O corpo então, elimina as células atingidas pelas bactérias, levando junto com elas o tumor.

Testes do tratamento já foram realizados tanto em ratos, cães e cavalos, quanto em humanos. Em todos os casos os resultados foram positivos — e em alguns deles os tumores regrediram completamente: 3% dos mastocitomas em ratos; 21% dos mastocitomas em cães e 18% dos melanomas em cavalos. Evidências de respostas imunes sistêmicas – regressão de metástases não injetadas com o tratamento – também foram observadas.

Entre os 12 pacientes humanos que participaram do estudo, o tratamento foi bem tolerado. Entre os resultados mais animadores, um paciente com câncer renal em estágio avançado obteve regressão do tumor, aumentando a qualidade de vida. O estudo mostrou que a injeção intratumoral induz respostas anticâncer em uma proporção significativa.

Tratamento antigo

Os cientistas do estudo utilizaram as "toxinas de Coley", que remontam a uma longa história: o médico e pesquisador americano do câncer William Coley (1862-1936) injetou repetidamente (a cada 2 a 3 dias por vários meses) preparações de bactérias mortas em centenas de pacientes com cânceres inoperáveis. Inicialmente ele injetava a preparação dentro e ao redor dos tumores. Mais tarde, passou a aplicar injeções intravenosas.

Ambas as abordagens de Coley tiveram como resultado remissões duráveis do câncer em muitos pacientes, incluindo 312 casos de sarcomas inoperáveis e 190 regressões tumorais completas. Ao final de seu estudo, o pesquisador considerou as injeções intratumorais como as mais eficazes.

câncerIlustração mostra células com câncer (créditos: crystal light/Shutterstock)

Nova abordagem

O novo estudo australiano partiu do princípio de Coley, utilizando uma nova forma de imunoterapia intratumoral, a injeção de adjuvante de Freund completo emulsificado (CFA). O CFA é um estimulante imunológico extremamente potente, desenvolvido na década de 1950, que possui três componentes: óleo mineral e surfactante (que formam o adjuvante incompleto de Freund (IFA) – o mesmo utilizado em vacinas –, ou Montanide ISA-51, licenciados para uso humano) e micobactérias mortas pelo calor.

Emulsionado corretamente, o CFA forma um depósito de liberação lenta no local da injeção. A aplicação do composto fornece estimulação imunológica contínua durante semanas, o que torna o CFA uma opção simples e barata de imunoterapia contra o câncer.

Semanas ou meses após o novo tratamento, os pacientes apresentaram aumento de células B e T – do sistema imunológico – nos tecidos infiltrados. Segundo o estudo, a ativação do sistema imunológico inato por si só pode ser suficiente para a regressão de alguns tumores. O que acontece em seguida ao tratamento é a ativação do sistema imunológico adquirido, que passa a mediar a regressão de metástases não injetadas.

Baixo custo e poucos efeitos colaterais

O tratamento é barato: "É um custo extremamente baixo. Estimamos em torno de US$ 20 dólares a dose, enquanto o custo de outras imunoterapias pode chegar a US$ 40.000 dólares. Isso torna o tratamento acessível para pacientes em países em desenvolvimento", afirmou, em um comunicado à imprensa, o professor Aude Fahrer, que liderou o estudo. Segundo Fahrer, o melhor do tratamento é que ele requer poucas dosagens, tem administração simples e poucos efeitos colaterais.

Atualmente vemos uma multiplicação de tratamentos do câncer, de imunoterapia à nanopartículas. O Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) de 2020, maior congresso do mundo sobre o tema, apontou para a individualização do tratamento e uso de novos medicamentos. Agora, o estudo publicado no Jornal de Imunoterapia do Câncer apresenta a mais nova opção.

ARTIGO BMJ: doi.org/10.1136/jitc-2021-002688

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