Empresas apostam em diamantes feitos de gás carbônico

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Imagem: Pixabay/Reprodução

As empresas Aether e Climeworks anunciaram a venda de diamantes feitos em laboratório, confeccionados a partir das emissões de gás carbônico na atmosfera. A iniciativa representa uma transformação na indústria de joias e em seu comércio global — setor avaliado em US$ 76 bilhões — com a adoção de metas de sustentabilidade e ética.

A estratégia se mostra uma preocupação no combate às mudanças climáticas relacionadas à remoção de gases formadores do efeito estufa e responsáveis pelo aquecimento da Terra. Além disso, traz uma questão social ligada à busca por romper antigas formas de extração do cristal, uma história de 150 anos repleta de alegações de degradação ambiental e humana.

Em entrevista à agência de notícias E&E News, Ryan Shearman, fundador e CEO da Aether, explicou o desenvolvimento de uma patente, ainda pendente, capaz de fazer um lote em apenas 4 semanas — na natureza, a formação de diamantes demora até 1 bilhão de anos. “Estamos comprometidos com a alquimia moderna sem precedentes de transformar a poluição do ar em pedras preciosas”, destacou.

Shearman revelou que compra parte do dióxido de carbono removido da atmosfera pela empresa Climeworks. Em seguida, o gás é enviado para uma instalação na Europa e passa por uma reação química, sendo submetido a altas pressões e temperaturas, para se converter em metano. Esse produto é então enviado para um reator em Chicago, onde é finalmente transformado em diamantes por meio de fontes renováveis de energia.

Diamantes feitos de gás carbônico pode indicar nova tendência do comércio de joias preciosasDiamantes feitos de gás carbônico podem indicar nova tendência no comércio de joias preciosas.Fonte:  Pixabay/Reprodução 

As vendas desse tipo de produto pela Aether começaram no início deste ano com preços que variam entre US$ 7 mil por anel até cerca de US$ 40 mil por brincos com arranjos dos cristais. “Temos uma lista de espera bastante grande agora”, contou Shearman.

Em entrevista à revista Vogue, o empresário falou que cada quilate é responsável pela remoção de 20 toneladas de gases de efeito estufa. Segundo ele, esse é um índice superior à média de emissões de uma pessoa em 1 ano; logo, se alguém comprar um diamante de 2 quilates “estará compensando 2 anos e meio de sua vida”, apontou.

Outro caso desse tipo de empresa é a Skydiamond, fundada pelo ambientalista Dale Vince. Ao longo de 5 anos, cientistas da companhia buscaram formas de fazer os “primeiros diamantes de impacto zero [na natureza]” do mundo. A frase é vista como um ataque direto à indústria tradicional de diamantes, surgida em 1871 na África do Sul.

Após a descoberta da gema no local, ocorreu a chamada “corrida de diamantes”, fase que atraiu exploradores que comandavam a extração das pedras preciosas com métodos precários e abusivos. Essas atividades eram feitas por trabalhadores contratados, frequentemente crianças e mulheres, que por causa das condições desenvolviam problemas de saúde ou sofriam acidentes graves.

Início da exploração de diamantes na África do SulInício da exploração de diamantes na África do Sul.Fonte:  Vintage Everyday/Reprodução 

Para Vince, a falta de regulamentos na produção e na comercialização dos cristais é responsável por criar guerras civis no continente, financiadas por pedras contrabandeadas chamadas de “diamantes de conflito” ou “diamantes de sangue”.

Ao longo dos anos, esses problemas foram cada vez mais evidenciados, então começaram a surgir alternativas para o setor. Em 1954, Tracy Hall, químico estadunidense, foi o primeiro cientista a criar diamantes sintéticos ao combinar um reator da General Electric com uma prensa para submeter carvão em pó a altas temperaturas e pressões.

Em 2000, uma coalizão de grupos de comércio elaborou um conjunto de padrões éticos que incluíam direitos humanos, leis trabalhistas e ambientais para a atividade de extração e produção dos cristais. Essas ações culminaram no surgimento de um comitê especial fiscalizador da Organização das Nações Unidas (ONU), o Conselho Mundial de Diamantes.

Esses acontecimentos impulsionaram reformas para criar pressões competitivas e éticas na indústria em geral, mas ainda são alvos de críticas. “Existem processos em vigor para garantir que os diamantes de conflito não entrem no mercado, mas não funcionam. Em um grau insano, eles chegam ao mercado todos os dias, e não é possível fiscalizá-los de forma adequada. Os abusos passam despercebidos”, destacou Shearman.

“Na forma como o mercado foi construído, e devido aos muitos participantes, é muito fácil perder a noção da origem dos diamantes. O principal desafio para a indústria [de diamante natural] é desenvolver um processo que caia nesses problemas. Nós contornamos isso completamente, pois pegamos o carbono do ar”, adicionou Vince.

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