Por sobras de comida, cão acompanhou o homem às Américas

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Imagem: Shutterstock/Alexander Gerasimov/Reprodução

Uma história de sucesso: é assim que pode ser descrita a parceria entre seres humanos e cães, selada durante a última Era do Gelo, quando lobos selvagens foram domesticados. Dois artigos recentemente veiculados ajudam a entender como a colaboração entre as duas espécies ajudou ambas a evoluírem e se espalharem pelo planeta.

Em um estudo publicado na Scientific Reports, pesquisadores da Finnish Food Authority, órgão do Ministério da Agricultura da Finlândia, descobriram que a domesticação dos cães não se deu por escolha de filhotes fofos de lobos adotados pelo ser humano como companheiros. A verdadeira razão seria a capacidade limitada de o homem digerir proteínas, o que não é um problema para lobos nem para cães.

O motivo mais provável para a parceria, segundo a química e arqueóloga Maria Lahtinen, autora principal do estudo, foi a abundância de proteínas que as populações humanas, por meio da caça, conseguiam acumular para manter ambas as espécies alimentadas nos duros meses de inverno. Isso levou à diminuição da competição entre elas.

O estudo se baseou em modelos para calcular quanta energia as presas capturadas (veados, alces e cavalos) proporcionariam: todos os animais consumidos pelo ser humano teriam fornecido mais proteína do que o necessário para sua sobrevivência — se os homens e os lobos tivessem lutado por esses recursos, a cooperação entre as duas espécies jamais teria surgido.

Juntos no Novo Mundo

E juntos, segundo um estudo de pesquisadores da Universidade de Buffalo (EUA), eles se espalharam pelo mundo. Um fragmento de osso de cachorro com cerca de 10.150 anos, achado às margens do Golfo do Alasca, pode indicar a rota que os primeiros seres humanos usaram para migrar da Eurásia para o continente americano. Segundo os pesquisadores, os restos do fêmur fossilizado são os mais antigos registros de um cão doméstico nas Américas.

.  (Fonte: University of Buffalo/Bob Wilder/Reprodução)

O genoma mitocondrial, passado de mãe para filho, revelou que ele pertencia a uma linhagem que se separou dos cães siberianos há 16,7 mil anos, compartilhando um ancestral comum com cachorros que viveram em solo americano antes da chegada dos colonizadores europeus.

“O momento dessa divisão coincide com um período em que os humanos parecem ter migrado para a América do Norte ao longo de uma rota costeira que incluía o sudeste do Alasca. Agora, temos evidências genéticas: nossos dados ajudam a fornecer não apenas um momento, mas também um local para a entrada de cães e pessoas nas Américas, quando as geleiras costeiras recuaram durante a última Idade do Gelo”, disse a bióloga evolucionária Charlotte Lindqvist, principal autora do estudo.

O fragmento de fêmur encontrado mais antigo das Américas tem apenas um centímetro.Fragmento de fêmur mais antigo das Américas tem apenas 1 centímetro.Fonte:  University of Buffalo/Douglas Levere/Reprodução 

O animal pode ter viajado sozinho? Ela acredita que não. A análise de isótopos de carbono do fragmento mostrou que o animal foi alimentado por humanos com salmão e carne de baleia e de foca. “Isso contrasta fortemente com outros cães ancestrais habitantes do centro do continente, que consumiam uma dieta muito mais terrestre”, disse Lindqvist.

Publicada na revista Proceedings of the Royal Society B, a pesquisa ajuda a preencher lacunas: “O registro fóssil de cães ancestrais nas Américas é incompleto, então qualquer novo vestígio encontrado fornece pistas importantes, já que os mais antigos ossos de cães americanos que tiveram seu DNA sequenciado foram encontrados no meio-oeste dos EUA”, disse o biólogo e coautor do estudo Flavio Augusto da Silva Coelho.

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