Cientista propõe construção de megassatélite para ocupação humana

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Imagem: National Space Society/Reprodução

O astrofísico Pekka Janhunen, do Instituto Meteorológico Finlandês, desenvolveu um estudo para a construção de um megassatélite de habitat humano em Ceres, planeta anão localizado no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Seu objetivo é apresentar a viabilidade da criação de uma colônia espacial sustentável de longo prazo com espaçonaves cilíndricas conectadas entre si e estruturada em forma de disco na órbita da região.

Cada ambiente teria uma atmosfera artificial, com condições semelhantes às da Terra, e uma mistura de espaços urbanos e agrícolas. Essa ideia, proposta pela primeira vez na década de 1970, é conhecida como cilindro de O'Neill. A motivação do autor é buscar outros locais para o estabelecimento de colônias fora de Marte.

Segundo a pesquisa, os habitat cilíndricos teriam cerca de 10 quilômetros de comprimento e levariam 66 segundos para fazer a própria rotação. Esse movimento seria capaz de gerar a força centrífuga necessária para simular a gravidade terrestre. Em caso de ocupação humana, cada um deles suportaria mais de 50 mil pessoas, em índice de densidade populacional próximo ao dos Países Baixos (500/km²).

Ilustração sobre a possível composição do interior de um cilindro de O'NeillIlustração da possível composição do interior de um cilindro de O'Neill.Fonte:  National Space Society/Reprodução 

O projeto consiste em áreas verdes dedicadas ao cultivo de safras e árvores plantadas em uma camada de solo de 1,5 metro de espessura. Para estimular o crescimento, enormes espelhos externos teriam a função de direcionar a luz solar para dentro da instalação. Quanto à parte urbana, cada cilindro seria organizado com certa proximidade, para facilitar o deslocamento das pessoas.

O funcionamento dependeria de luz artificial para simular um ciclo de dia e noite semelhante ao da Terra. A inspiração nesse sentido vem de ímãs usados no processo de levitação magnética em sistemas de transporte no Japão e em projetos idealizados por Elon Musk. Em vez de uma colônia na superfície do planeta, poderiam ser utilizados elevadores espaciais para transferir matérias-primas aos habitat orbitais.

Estruturação dos cilindros no megassatéliteEstruturação dos cilindros no megassatélite.Fonte:  Cornell University/Reprodução 

"A área da superfície de Marte é menor que a da Terra e, consequentemente, não pode fornecer espaço para uma população significativa e para expansão econômica. Uma colônia em Ceres, em contrapartida, pode cultivar de 1 a milhões de habitat", disse Janhunen ao site Live Science. Ele também destacou que a ocupação na superfície do Planeta Vermelho pode trazer adversidades para a saúde humana e que o estilo de vida orbital não apresentaria os mesmos riscos.

"Minha preocupação é que crianças em um assentamento de Marte não se desenvolvam como adultos saudáveis (em termos de músculos e ossos), pois a gravidade marciana é muito baixa. Portanto, procurei uma alternativa que forneceria gravidade semelhante à da Terra, mas que também pudesse ser um mundo interconectado", comentou.

O ambiente seria favorável por não apresentar condições climáticas adversas e desastres naturais, mesmo em caso de possíveis asteroides. Para evitar esse cenário, o especialista ressalta a importância de sistemas de detecção precoce e desenvolvimento de "escudos de radiação" capazes de destruir pequenos corpos invasivos. Em situações mais graves, ele sugere o deslocamento ou a saída definitiva dos habitantes.

Hora de fazer as malas?

Apesar dos pontos positivos, o estudo recebeu críticas de cientistas por não apresentar dados sobre outros fatores importantes. No caso, o conteúdo tem descrições detalhadas sobre a importância do nitrogênio para o desenvolvimento da atmosfera do assentamento orbital, contudo não explora a fonte de oxigênio e de outros elementos essenciais.

Manasvi Lingam, professor de Astrobiologia do Instituto de Tecnologia da Florida, revelou que ainda não existe tecnologia para coletar nitrogênio e outras matérias-primas em Ceres. Isso exigiria uma operação composta por uma grande frota de veículos de mineração e de satélites para guiá-los aos locais mais ricos em nutrientes, ideia que segundo ele é plausível, mas ainda não está disponível.

Lingam ainda falou que essas limitações impactam no prazo proposto por Janhunen, que sugeriu no trabalho que o primeiro aglomerado de habitat orbitais do megassatélite poderia ser concluído 22 anos após o início da mineração em Ceres. "Essa previsão se refere a condições ideais, mas eu diria que a escala de tempo real pode ser muito mais longa", afirmou o professor sobre prováveis problemas tecnológicos e logísticos.

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