Minicérebros feitos por time liderado por brasileiro geram ondas cerebrais

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Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, liderados por Alysson Muotri, um cientista brasileiro, conseguiram criar cérebros do tamanho de ervilhas em laboratório capazes de emitir ondas cerebrais. Os miniórgãos foram desenvolvidos com o objetivo de permitir que estudos e experimentos possam ser conduzidos em cérebros humanos vivos e, para a surpresa do time, eles geraram atividade neural semelhante à observada em bebês prematuros – algo jamais conseguido antes.

Sem precedentes

Os cientistas produziram os minicérebros a partir de células-tronco que foram colocadas em culturas que reproduziam as mesmas condições às quais os cérebros em desenvolvimento de embriões humanos são expostos. Nesse ambiente, as células se diferenciaram em classes distintas, se organizaram e formaram uma estrutura tridimensional – e, com apenas 2 meses, começaram a apresentar alguns picos esporádicos de atividade. Depois, com 10, os sinais foram se tornando mais regulares e a atividade neuronal atingiu seu ápice.

Alysson Muotri (Fonte: The New York Times/Reprodução)

Além disso, os pesquisadores treinaram um algoritmo de machine learning para que ele registrasse a atividade cerebral de 39 bebês prematuros entre os 6 e os 9,5 meses de vida, para entender melhor as ondas cerebrais geradas pelos miniórgãos, e as análises dos dados revelaram que a atividade dos cérebros cultivados em laboratório era semelhante ao de crianças nascidas entre as 25 e 39 semanas após a concepção.

Revolução

Conforme mencionamos no início desta matéria, os cérebros criados em laboratório podem se transformar em uma vital arma na pesquisa médica, uma vez que eles podem, por exemplo, ser desenvolvidos para apresentar problemas como a epilepsia ou o autismo e ajudar na descoberta de como essas condições se manifestam e na criação de novos medicamentos – sem que nenhum teste precise ser realizado com seres humanos.

(Fonte: Inverse/Reprodução)

Ademais, estudar esses órgãos enquanto eles crescem nas culturas pode ajudar os cientistas entenderem como a evolução dos nossos cérebros se deu, desde os nossos ancestrais mais antigos, há milhões de anos, até agora. Outra coisa interessante é que os minicérebros podem ser mantidos vivos durante vários anos – desde que as células que os compõem continuem recebendo os nutrientes necessários.

Entretanto, é importante esclarecer que, apesar de os pequenos órgãos terem desenvolvido estruturas celulares e apresentarem redes neurais funcionais semelhantes às que existem em cérebros humanos, há diferenças entre os órgãos feitos em laboratório e os reais – e não estamos falando apenas nas dimensões!

Dilemas éticos

Conforme explicaram os pesquisadores, embora os minicérebros gerem ondas cerebrais e tal, eles não apresentam a mesma complexidade que os cérebros “de verdade” e provavelmente são incapazes de processar informações, produzir emoções ou trabalhar com funções como a coordenação motora e a percepção.

(Fonte: Inverse/Reprodução)

Destacamos a palavra “provavelmente” porque, segundo explicou Muotri, enquanto o time acredita que as chances de que os órgãos em miniatura apresentem consciência ou possam formular pensamentos sejam mínimas, tampouco existem evidências claras nem formas de provar que eles realmente não possam fazer qualquer dessas coisas – e os pesquisadores ainda não conseguiram mensurar o seu potencial.

O brasileiro deverá se reunir em breve com especialistas em ética médica, filósofos e biólogos para discutir questões relacionadas com a consciência e a produção de cérebros em laboratório. Mas, de momento, Muotri e sua equipe intuem que os miniórgãos são apenas aglomerados de células que não recebem quaisquer estímulos sensoriais e que existem sem estar ligadas a um corpo – e o time acredita que esses organoides permitirão que a medicina avance enormemente e beneficie muitas pessoas.

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