Gênios do Brasil #5: Duilia de Mello, a mulher das estrelas da NASA

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Em seu quinto capítulo, a série Gênios do Brasil volta a falar de uma grande mulher. Astrônoma e astrofísica de renome internacional e pesquisadora associada do Goddard Space Flight Center da NASA, a personagem da matéria de hoje ainda está em atividade e realizou uma série de descobertas importantes para o estudo do espaço. Teve boa parte de sua formação acadêmica feita no Brasil, ao contrário de muitos grandes nomes que acabam indo para fora do país desde cedo para realizar seus estudos, mas estudou também nos EUA e no Chile e fez seu pós-doutorado trabalhando no Hubble, o mais famoso telescópio espacial do mundo.

Além de dedicar-se à pesquisa, também foi professora de Física e Astronomia na Universidade Católica de Washington, nos Estados Unidos, e já publicou livros e centenas de artigos científicos. Foi premiada em diversas ocasiões por suas contribuições à ciência tanto no Brasil quanto no exterior e é a mente por trás da ONG Associação Mulher das Estrelas, que tem como objetivo promover as carreiras das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática na sociedade, principalmente entre as mulheres.

Gênios do Brasil: Duilia de Mello

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Duilia sempre se interessou pelo assunto desde pelo menos os 11 anos de idade

Duilia de Mello nasceu na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, em 27 de novembro de 1963, mas mudou-se muito cedo para o Rio de Janeiro, onde cresceu e entrou na faculdade, mais exatamente a Universidade Federal do Rio de Janeiro, para cursar Astronomia. Duilia sempre se interessou pelo assunto desde pelo menos os 11 anos de idade e a grande fã da série “Cosmos”, apresentada pelo astrofísico Carl Sagan, decidiu seguir a carreira com apenas 14 anos.

Foi bolsista por grande parte de sua vida acadêmica, mas as limitações brasileiras – que bem conhecemos – obrigaram Duilia a buscar viver de Astronomia fora do país. Contratada pela NASA, a cientista fez seu pós-doutorado trabalhando no Hubble e teve o privilégio – muito bem merecido, diga-se de passagem – de poder diariamente caminhar pelos corredores da agência espacial norte-americana. O lado complicado: trabalhar 18 horas diárias por dias a fio. Mas nem disso Duilia reclamou – resolveu cumprir seu objetivo de chegar ao topo sendo mulher em uma área dominada por homens.

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Em novos rumos

Ao sair do Brasil, desde cedo inserida em uma área majoritariamente ocupada por homens e inevitavelmente machista, Duilia reparou que o problema era ainda maior, por incrível que pareça: aqui, um país supostamente “atrasado” em desenvolvimento científico, a cientista convivia com um ambiente muito mais diversificado em relação a gênero (apesar de ainda anos-luz longe do ideal) do que ela encontrou lá fora.

O número diminuto de pesquisadoras chamou atenção de Duilia, e as poucas que existiam eram consideradas menos capazes

Duilia não precisou apenas se esforçar em seus estudos, mas impor seu lugar como cientista em um ambiente dominado por homens que via de regra não a aceitavam como uma igual. O número diminuto de pesquisadoras chamou atenção de Duilia, e as poucas que existiam, assim como ela, eram consideradas menos capazes e sofriam assédio moral e sexual frequente.

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Novidades espaciais

Apesar dos contratempos que enfrentou, Duilia nunca se deixou vencer por nenhuma adversidade que encontrou pelo caminho. E assim, conseguiu realizar uma série de descobertas importantes para a Astronomia. No dia 14 de janeiro de 1997, Duilia estava viajando pelo Chile quando decidiu visitar um observatório que existe lá. Sendo capaz de operar o dispositivo por conta própria, a cientista foi atrás de observar as belezas de seu objeto de estudo sem nenhuma ambição além de se maravilhar com aquilo que via.

Tratava-se de nada menos que uma supernova que foi devidamente registrada e batizada de 1997D

Foi quando Duilia reparou em um objeto posicionado em um local que deveria estar vazio. Uma nova estrela ou algo parecido? A cientista conferiu diversas vezes seu avistamento, inclusive comparando com diversos mapas estelares, e tudo indicava que um novo astro havia sido descoberto. Na realidade, tratava-se de nada menos que uma supernova que foi devidamente registrada e batizada de 1997D. A descoberta deu um novo gás para sua pesquisa, pois fez renascer nela o fascínio pela descoberta do novo.

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Responsabilidade em alta

As descobertas de Duilia não ficam por aqui: ela também fez parte do grupo que desvendou as chamadas Bolhas Azuis, descobertas pelo telescópio Hubble entre três galáxias. As Bolhas Azuis são que são aglomerados de estrelas formados por quase-colisões de gases e turbulências subsequentes. Essas formações são conhecidas como “orfanatos de estrelas”, pois originam estrelas externas às galáxias que conhecemos.

O que mais me orgulha na minha carreira é ver o sucesso dos meus estudantes. Já formei três doutoras e estou na quarta

Como professora da Catholic University of America, Duilia também fez parte da equipe que descobriu o tamanho verdadeiro de uma galáxia em espiral chamada NGC 6872. Ela é nada menos que cinco vezes maior que a Via Láctea, a galáxia que nós habitamos, com cerca de 520 mil anos-luz de diâmetro.

Mais do que encontrar novos corpos celestes no espaço sideral, Duilia é responsável por algo ainda mais importante para o planeta Terra: a inclusão de mulheres nessa área pouco acessível até então a elas. “O que mais me orgulha na minha carreira é ver o sucesso dos meus estudantes. Já formei três doutoras e estou na quarta. Vejo o sucesso das minhas estudantes como missão cumprida”, contou a cientista em depoimento para a publicação Cientista Beta.

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Reconhecimento justo

Como geralmente acontece com os grandes nomes da ciência e tecnologia aqui do Brasil, Duilia de Mello também teve um reconhecimento maior lá fora do que aqui. Ela foi escolhida como uma das 10 mulheres que mudam o Brasil pelo Barnard College/Columbia University em 2013 e recebeu o Prêmio Profissional do ano de 2013 da Diáspora Brasil-Ministério de Relações Exteriores e Ministério da Indústria e Comércio/ABDI. Foi escolhida pela Revista Época como uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2014.

Duilia hoje é vice-reitora da Catholic University of America e continua sua pesquisa incansável em busca dos mistérios do espaço. Quais novos conhecimentos será que a Mulher das Estrelas vai desvendar em seus estudos incansáveis?

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