Imagem de Godzilla 2015
Imagem de Godzilla 2015

Godzilla 2015

Nota do Voxel
45

Desta vez, não há coroa para o rei dos monstros

Mais do que um personagem, Godzilla é um ícone da cultura pop. O monstrengo estrelou nas telonas japonesas em 1954 e, desde então, ganhou algumas dezenas de filmes, conquistando fãs ao redor do globo. O lagartão já foi de tudo: vilão, herói, anti-herói, desastre da natureza e até defensor do planeta.

Depois de mais de meio século de existência, é difícil achar um roteiro pelo qual o monstro não tenha passado: viagem no tempo, ida ao espaço, hibernação, luta contra King Kong, Ultraman, Jet-Jaguar e muito mais. O sucesso é tão grande que ele chegou a ganhar duas versões ocidentais no cinema, uma em 1998 e outra em 2014.

O nome Godzilla é tão popular que, dificilmente, existem pessoas que não o conheçam, mesmo que nunca tenham assistido a um filme do dinossauro nuclear. Em outras palavras, podemos chamá-lo de “Mickey do universo dos monstros”. Entretanto, quando o assunto diz respeito aos gamers, o lagartão carece de bons títulos de qualidade. Infelizmente, este jogo não foge à regra.

História? Que história?

Convenhamos: a franquia não tem as melhores narrativas do mundo. Eu sou muito fã da franquia e cresci assistindo a diversos longas-metragens da criatura, mas sei que o ponto forte não é o roteiro da trama. Embora a história seja, de certa forma, rasa, sempre há a preocupação de apresentar um motivo para o retorno do monstrengo e inserir personagens humanos em um conto básico.

Para a decepção dos fãs, Godzilla (o jogo em questão, não a série) carece de uma narrativa. Sim, é isso mesmo, nem sequer há uma história básica por trás do título. Não há justificativa, personagens nem introdução para a volta do lagartão. Ele apenas chegou em Tóquio para destruir tudo, e as autoridades devem detê-lo.

Existem diálogos ocasionais, mas, na maior parte das vezes, eles se repetem. Só existem dois modos de jogo; em nenhum deles existe uma história. A dublagem possui opções para vozes em inglês e japonês, sendo esta última a melhor opção para a imersão no universo da franquia. O título está totalmente legendado em português, mas contém erros de digitação estranhos de vez em quando.

Entretanto, existem diversos easter eggs que remetem aos filmes e todos eles são muito bem construídos. Se você agarrar o Gigan com pouca vida, uma das criaturas mais icônicas da franquia, a cabeça dele explodirá, uma referência a um filme de 2004. Existem mais de 50 sinais extremamente bem-feitos como esse ao longo da campanha. É estranho que a desenvolvedora não tenha se empenhado em criar uma história boa nem tenha se dedicado aos detalhes menores.

Pouquíssimos modos de jogo

Afinal, Godzilla é um jogo do quê? Bom, aparentemente, nem o próprio game sabe responder a essa pergunta, sendo o início dos problemas maiores. Existem ao todo três modos, sendo dois deles de ação e outro para compor cenário. São eles: Deus da Destruição, Rei dos Kaijus e Diorama.

Por mais que não seja realmente isso, podemos chamar o Deus da Destruição como “campanha” do título. Nesta aventura, controlamos o Godzilla da Era Heisei – 1984 a 2005, mais ou menos – por diversos níveis, e ele deve destruir três geradores para vencer a missão. E é só isso. Chegamos em um cenário e devemos acabar com três estruturas em um determinado tempo.

Caso o jogador demore muito, um Kaiju – o termo geral significa “monstro grande”, mas, neste texto, vamos adotar a palavra para abordar os inimigos de Godzilla – aparece e devemos derrotá-lo, sendo mais um objetivo a cumprir. Demolir prédios e estruturas garante energia, algo essencial para o monstro crescer e aniquilar cenários maiores.

Há um sistema de combo de destruição, ou seja, quanto mais edifícios derrubamos, mais rápido o Godzilla cresce. As missões são divididas em um sistema de capítulos e, dependendo da decisão de caminhos que você tomar, os Kaijus mudam. Mas é só isso, sem variedade e praticamente sem fator replay.

Já o modo Rei dos Kaijus funciona como um estilo arcade de lutas. Escolhemos um dos monstros habilitados até o momento e enfrentamos seis inimigos, um em sequência do outro. E pronto, não há mais nada. Basicamente, temos uma campanha rasa, sem conteúdo e nada diversificada, além de um arcade, trazendo pouquíssima diversão.

Além disso, há um multiplayer, que oferece partidas PVP de 2 vs 2 ou 3 vs 3, e o Diorama, um modo em que podemos criar cenários para tirar fotos, como se estivéssemos brincando de bonecos. O modo online é instável, pouco povoado e com muito lag – mesmo jogando em uma conexão de 70 MB. Nem tentando diversas vezes conseguimos terminar nem uma partida, pois a conexão sempre caía.

Comandos confusos e jogabilidade fraca

Conforme mencionamos acima, nos modos de jogo devemos destruir prédios, geradores e enfrentar alguns monstros. Mas a pergunta que fica é: pelo menos isso é divertido? Não, não muito. Se você for fã da franquia e der uma chance, pode até se acostumar e se divertir um pouco com os comandos confusos, a câmera estranha e a jogabilidade fraca.

Os Kaijus e o próprio Godzilla podem andar, fazer combos de até três golpes com o botão quadrado, realizar ataques fortes com o triângulo, dar agarrões, soltar raios poderosos e realizar o “desvio de emergência”, um tipo de habilidade especial que é única para cada monstro.

Pode parecer bastante coisa, mas, na prática, não é. São poucos golpes para aproveitar a destruição no modo campanha e eles são muito estranhos se analisarmos sob a ótima de “jogo de luta de Kaijus”. Se lembrarmos de games de PlayStation 2 do Godzilla, é fácil se recordar de alguns que se saíram melhor – e olha que estamos falando de duas gerações atrás.

Há um ponto da jogabilidade que pode ser horrível e bom ao mesmo tempo: a movimentação. Como em qualquer outro título, andamos com o direcional analógico. Contudo, os monstros só se movimentam para os lados, na direção de cruz – para frente, para trás e para os lados. Se quisermos virar nas diagonais, devemos utilizar os botões R1 e L1, como se fosse um tanque de guerra.

O lado ruim – e bem ruim, por sinal – é que os comandos ficam muito confusos e são péssimos para adaptação. Não é nada intuitivo controlar o personagem com analógicos e botões de cima. Porém, por mais incrível que pareça, há um lado positivo nisso: a movimentação lerda e desengonçada traduz de uma maneira bem legal a maneira como os monstros andam nos filmes.

Gráficos extremamente ultrapassados

Quando joguei o primeiro nível de Godzilla, tive que checar meu calendário para confirmar se estava, de fato, em 2015. Ironias à parte, é extremamente perceptível logo no primeiro olhar a falta de capricho gráfico no game. Alguns prédios chegam a ter qualidade semelhante ou até mesmo inferior à de títulos da era PlayStation 2, com o aspecto de “caixas de sapatos com texturas lavadas”. Sem brincadeira.

Os cenários são pequenos, rasos, com texturas de péssima qualidade – não é exagero, você pode conferir nas imagens do texto – e com pouca diversidade. Os modelos 3D são muito malfeitos, com poucos polígonos e pontas aparentes que deixam o visual muito sem graça. Godzilla para PS4 foi um port de PS3, mas, mesmo se o considerarmos como um jogo de geração passada, ele ainda é feio.

Os Kaijus têm gráficos decentes, mas não vão muito além disso. Algumas criaturas, como o próprio Godzilla, Mothra, Battra e Destroyah, são um pouco melhores que o resto do elenco, mas mesmo assim não passam da qualidade “ok”. Existem diversos bugs visuais, como a cauda dos monstros entrando nos prédios – mas sem destruí-los – e problemas de desempenho ocasionais.

A jogatina roda a 60 quadros por segundo, mas, sempre que o cenário começa a ser destruído, o título sofre com quedas de frames. Isso é algo muito estranho, pois não existe um sistema de partículas ou nada assim. Os prédios apenas desabam – não há demolição parcial, como em Battlefield 4 – de uma maneira tosca, algo que não justifica a performance ruim.

Sonoplastia fiel à franquia

Mesmo com tantos pontos negativos, um fã de carteirinha consegue identificar alguns aspectos positivos. Felizmente, é o caso da sonoplastia de Godzilla. As composições originais dos filmes sempre foram muito boas e marcantes até hoje. A trilha sonora é facilmente reconhecida, semelhante ao de longas como “Tubarão” e “Psicose”.

Utilizar essas faixas musicais no jogo era uma tarefa obrigatória da produtora e ela acertou na mão. Os efeitos especiais dos Kaijus não decepcionam e fazem bonito: todos os monstros possuem gritos e rugidos iguaizinhos aos dos filmes, com uma qualidade muito boa.

A dublagem em japonês garante uma imersão maior e não desaponta. Porém, as vozes em inglês são um pouco sem graça. Não há muito o que explorar nessa área, mas ela não desaponta como outros aspectos do título.

Kaijus para todos os gostos

Um dos pontos de que não podemos reclamar é o elenco de Kaijus de Godzilla. Além do protagonista que dá nome ao jogo – que, por sinal, possui diversas versões –, todos os inimigos mais famosos estão presentes.

Dessa forma, podemos encontrar Mothra e Battra na fase larva e na fase final, Destroyah, Rodan, Gigan, Biollante, Hedorah, King Ghidorah, Anguirus e muitos outros que estão presentes na aventura e no modo arcade.

No modo campanha, controlamos apenas o Godzilla da Era Heisei, mas há vertentes para invadirmos Tóquio ou defender a cidade do lagartão com outros Kaijus. Nesses modos, não liberamos os extras, mas conseguimos nos divertir um pouco com a variedade de ataques dos outros personagens, que funcionam ligeiramente diferente do protagonista.

Vale a pena?

Godzilla é um game fraco, com gráficos muito datados e comandos confusos. Como se não bastassem as mecânicas de jogo simples, o modo campanha e o arcade oferecem pouquíssima variedade de conteúdo. É possível liberar quase todos os personagens e coletar todos os extras em apenas algumas horas de jogatina.

Não há história, não há diversidade de golpes nem um modo online bom para aproveitar. Contudo, a trilha sonora fiel, a quantidade de Kaijus e a semelhança com os filmes trazem alguns poucos momentos de diversão se você for muito fã de Godzilla.

A maior impressão que temos é de que, se ele fosse um jogo de R$ 50 e vendido digitalmente, seria mais fácil para fãs de monstros gigantes darem uma chance ao título. Entretanto, esse não é caso, pois Godzilla custa oficialmente R$ 229, um preço um tanto quanto injusto pela qualidade da obra.

Se você gosta muito da série de filmes do grandalhão, pode até relevar diversos problemas e se divertir um pouco com o jogo, mas se cansará em poucas horas pela falta de modos e repetição excessiva. Caso você queira dar uma chance a ele, é mais fácil esperar uma ótima promoção ou pegar emprestado de um amigo.

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Pontos Positivos
  • Sonoplastia fiel aos filmes
  • Grande elenco de Kaijus
  • Diversos easter eggs bem-feitos
Pontos Negativos
  • Gráficos horrendos
  • Jogabilidade péssima
  • Comandos confusos
  • Não há nem mesmo uma história básica
  • Falta diversidade de modos de jogo
  • Modo online instável e sem graça