Nos últimos anos, os games de cartas digitais ficaram bem populares, especialmente por se distanciarem de jogos tradicionais que a maioria das pessoas já experimentou em algum momento. Só que enquanto títulos como Slay the Spire e Inscryption trazem um elemento roguelike totalmente diferente a este gênero, o Card Shark nos leva de volta aos baralhos comuns que a maioria de nós tem (ou já teve) em casa.

É claro que o game não te coloca apenas para jogar pôquer ou paciência, já que tem uma proposta bem diferente e em que a sua vitória é considerada algo ruim. Pois é, a premissa de Card Shark consiste em trapacear utilizando diversos esquemas e truques para que o seu parceiro sempre ganhe as rodadas e o dinheiro apostado. Esse foco diferente parece interessante à primeira vista, mas será que consegue se manter desta forma ao longo de algumas horas? Confira isso e outros detalhes na nossa análise logo abaixo!

Com as cartas na mão

Nos primeiros instantes, Card Shark não perde tempo e nos joga direto para a trapaça, já que iniciamos nossa aventura servindo vinho a um homem que nos pede ajuda para ganhar um jogo de cartas e nos ensina um pequeno truque. A partir daí, seguimos em viagem com ele, sempre aprendendo um esquema novo a cada local que visitamos para enganar e tirar dinheiro de quem concorda em nos enfrentar com um baralho na mão.

O bom é que em vez de te encher com diversos tutoriais logo de cara, Card Shark vai te apresentando à história e mecânicas de forma gradual, de modo que você consiga absorver todas as informações e diferentes truques aos poucos. Fora isso, o game tem um controle bem simples, já que basta clicar em pontos fixos para se deslocar e fazer certos gestos para realizar ações específicas.

Considerando que há 28 truques que você pode aprender ao longo da campanha principal, essa jogabilidade mais simples acaba sendo bem favorável, já que você precisará usar esses gestos para determinar que movimentos seu personagem fará enquanto performa suas trapaças. Seja para selecionar uma carta, embaralhar o deck, fazer uma marca no baralho, servir vinho ou limpar a mesa, tudo funciona desta maneira, então é bom manter esses movimentos frescos na memória para quando precisar usá-los. A boa notícia é que o jogo todo está devidamente localizado em nosso idioma, facilitando a compreensão de cada estratégia que tiver que aprender.

E os truques na manga

De modo geral, você sempre terá um mapa com a escolha dos lugares em que pode ir, cada um com uma aposta mínima e muitas vezes aceitando apenas um tipo de trapaça, que é explicada antes de você e seu parceiros chegarem no local. O objetivo é sempre o mesmo: usar o esquema recém aprendido para dar uma vantagem para seu amigo, mas sem deixar o truque ser percebido pelos outros jogadores.

Seu foco nunca será ganhar, mas fazer com seu parceiro ganhe tudoFonte:  Devolver Digital/Divulgação 

É claro que não basta apenas seguir tudo o que lhe foi ensinado da maneira correta, já que isso tornaria Card Shark insuportavelmente fácil. Por isso, os jogadores da mesa tem um nível de suspeita que sempre vai aumentando conforme você manuseia as cartas, então quanto mais demorar ou quanto mais erros cometer, mais desconfiados eles ficarão. Caso o nível de desconfiança chegue ao máximo, você e seu parceiro serão presos e podem até sofrer um destino pior se forem pegos diversas vezes. Felizmente, não há nada que um bom jogo de cartas com um toque de trapaças não resolva.

O ruim é que isso não garante que não haverá momentos de frustração em Card Shark. Apesar de ser possível lidar tranquilamente com um “Game Over”, as situações que te levam até esse momento podem ser bem irritantes. Dizemos isso porque há alguns truques que não são tão bem explicados e que nos levam a cometer erros bobos na hora da execução. Fora isso, há outras trapaças que exigem que você memorize cartas e naipes em uma ordem específica e em um curto período de tempo, enquanto o nível de desconfiança dos outros jogadores sobe rapidamente.

Também há ocasiões em que você precisa realizar truques que aprendeu e realizou no início do jogo, mesmo estando em uma parte mais avançada. Caso tenha esquecido como o truque funciona, se prepare para errar e ficar com o nível de desconfiança lá no alto até conseguir um resultado positivo. Essa situação é pior ainda para quem não pode jogar o título em dias consecutivos até zerá-lo, afinal, você pode esquecer facilmente de como realizar as trapaças se só tem tempo de abrir o game nos finais de semana, por exemplo.

Há diversas maneiras de conseguir uma vantagem sob o seus oponentesFonte:  Devolver Digital/Divulgação 

Até existe uma aba dedicada às estratégias que você aprendeu até certo momento, mas elas consistem apenas de descrições que nem sempre vão refrescar totalmente a sua memória. Haverá momentos em que a melhor saída é tentar relembrar dos truques na prática durante as partidas e fechar o game antes de encerrar a jogada para que o jogo não salve sua possível derrota automaticamente. Pois é, sabemos que é uma estratégia meio barata, mas trapacear em um jogo sobre trapaça não parece tão ruim assim, né?!

A arte de trapacear

Mecânicas do game à parte, é claro que temos que comentar mais sobre alguns aspectos que a maioria dos jogadores trapaceiros podem relevar à primeira vista. Não dá para deixar de mencionar, por exemplo, a direção de arte de Card Shark. Ela tem um visual bem especial e que remete bastante ao estilo artístico do século XVIII, período em que sua história se passa. Isso definitivamente traz um charme ao título e combina muito bem com a jogabilidade descomplicada.

Já que mencionamos a história do jogo, é bom deixar claro que, embora ela exista, é algo que serve mais de pano de fundo para a jogabilidade, o que não consideramos como algo negativo. Ela simplesmente fica em segundo plano e é divertida o suficiente para não te fazer querer passar por todos os diálogos sem ler nada.

A história pode até ser secundária, mas não deixa de ser divertida de acompanharFonte:  Devolver Digital/ 

A trilha sonora também é bem agradável e parece estar lá mais para fazer companhia ao jogador do que para se destacar em momentos de tensão. Felizmente as músicas, embora se repitam um pouco, não são cansativas e combinam bem com os jogos de cartas em que trapaceamos sem parar. O que é ainda melhor de ouvir são os efeitos sonoros do baralho, especialmente quando temos que manuseá-lo de forma específica para algum truque. No geral, são pequenos detalhes que contribuem bastante para criar uma atmosfera descontraída e divertida no game.

O crime compensa?

Depois de algumas boas horas com Card Shark, é claro que o ciclo de gameplay parece meio repetitivo em alguns momentos, o que pode ser considerado como um aspecto negativo para muitos jogadores. O bom é que os truques ensinados vão ficando cada vez mais complexos e, muitas vezes, acabam se misturando ou sofrendo variações. Com a história dando um pano de fundo bem legal para tudo isso, é fácil de relevar a repetição da jogabilidade na maior parte do tempo.

Mesmo com alguns defeitos ou momentos de frustração, o jogo me surpreendeu de forma bem positiva, especialmente por ser tão interessante e divertido com essa proposta fora da curva. O melhor é que seus pontos fracos podem facilmente ser consertados em updates, o que faz seu potencial aumentar ainda mais nos primeiros meses após seu lançamento.

Disponível no PC e no Nintendo Switch inicialmente, Card Shark é o tipo de jogo perfeito para passar o tempo e relaxar sem ser fácil demais a ponto do jogador nem ter que pensar no que está fazendo. Não conta para ninguém, mas também pode ser a oportunidade de aprender alguns truques novos para quando tiver a oportunidade de jogar algum jogo de cartas com seus amigos.

Card Shark foi gentilmente disponibilizado pela Devolver para a realização desta análise.