1984: o ano em que os video games quase deixaram de existir

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Imagine chegar a uma loja de eletrônicos e não encontrar nenhum game, console ou periférico de video games nas estantes. Tudo o que deveria estar ali para fazer seus olhos brilharem simplesmente desapareceu. Nada de Wii, PlayStation 3, Xbox 360 ou até mesmo Polystation — sim, aquela cópia do console da Sony. Os video games simplesmente sumiram.

Parece até um pesadelo, não é mesmo? O pior de tudo é que isto já foi verdade. Muitos não sabem, mas durante a década de 1980 os video games quase deixaram de existir. Como? Bem, na realidade houve uma série de fatores que contribuíram para a falência de várias empresas e também da quase extinção do universo do entretenimento eletrônico.

Agora, o TecMundo Games prepara um especial para deixar os usuários por dentro desta data tão abominável, comentando as principais causas da crise e suas consequências. Vamos a uma viagem ao tempo, quando travas de segurança e controle de qualidade ainda não eram termos relacionados aos video games. Preparado?

O começo do fim Prósperos, mas por pouco tempo

Todos devem conhecer o lendário Atari 2600, um dos consoles mais famosos da história dos video games. Além de ser um dos pioneiros da indústria, o video game também é conhecido pela popularização dos jogos eletrônicos nos lares de todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos e também aqui o Brasil — mesmo que em períodos diferentes.

A chegada e os primeiros anos do Atari 2600 foram extremamente prósperos. A companhia, com seu estilo liberal, permitia que seus funcionários trabalhassem a hora que desejassem e não obrigava o uso de ternos — algo contrário aos padrões da época. Isto, somado a diversos outros fatores, fez da Atari uma companhia reconhecida e respeitada, o que contribuiu para seu sucesso.

Logo, o Atari 2600 não era apenas um video game, mas um sinônimo para o termo. Jogos como Pitfall!, River Raid, Kaboom! e dezenas de outros títulos eram simplesmente indispensáveis para a época, e a Atari conseguiu conquistar mais de dez milhões de jogadores somente nos Estados Unidos.

Mas, se tivemos uma companhia de tanto sucesso, como é que os video games quase quebraram? Parece difícil de acreditar, mas a Atari foi uma das maiores responsáveis pela quase extinção dos games. Logo, o mercado estava saturado de jogos — muitos deles terrivelmente ruins —, e a imensa quantidade de consoles também contribuiu para esta pavorosa crise. Agora, vamos aos detalhes, tópico por tópico.

Muitos consoles Poucas escolhas

Talvez uma das causas mais evidentes seja mesmo a saturação de games e de consoles. Durante o auge do Atari 2600, muitas companhias achavam que lançar video games era um excelente negócio, mesmo que estes jogos fossem completamente deploráveis. Sendo assim, pegando carona com a Atari, diversas companhia começaram a apostar neste negócio, achando que teriam o mesmo sucesso que a veterana. Como era de se esperar, a realidade acabou sendo diferente das projeções.

Para se ter idéia, até mesmo lojas de departamento tentaram lançar seus consoles para competir com a Atari. Atualmente, temos apenas 3 consoles para escolher (PlayStation 3, Xbox 360 e Nintendo Wii). Entretanto, durante a década de 1980, dezenas de video games inundavam o mercado, incluindo consoles como Atari 5200, Bally Astrocade, ColecoVision, ColecoGemini, Emerson Arcadia 2001, Fairchild Channel F System II, Magnavox Odyssey 2, Mattel Intellivision, Sears Tele-Games, TandyvisioN e o Vectrex. Achou muito? Isso que nem contamos as dezenas de clones que também estavam espalhados como pragas.

Para o consumidor, isto era um verdadeiro pesadelo. Basicamente, tínhamos mais de 20 aparelhos no mercado, mas ninguém sabia ao certo quais eram as diferenças entre cada um deles. Alguns deles, na realidade, eram apenas cópias do Atari 2600, já que na época isto era legal, enquanto outros traziam acessórios que permitiam a execução de vários jogos lançados para a então dominante da época.

Basicamente, era como se, atualmente, a Sony lançasse um aparelho que possibilitasse aos usuários do PlayStation 3 a execução de jogos para Xbox 360. Seria, no mínimo, bizarro, não é mesmo? Pois é. Mas isto acontecia, e muito, com o Atari 2600. Um verdadeiro pesadelo para qualquer companhia.

O pior de tudo, contudo, não foi a concorrência entre os consoles, mas nos próprios jogos. Espera aí: então a competição entre as companhias — que, supostamente, faziam de tudo para lançar jogos melhores que os das rivais — era algo ruim? Para a época sim, já que não havia qualquer controle sobre os títulos lançados. Fez um jogo em que o objetivo é ficar parado olhando para o pixelizado Sol? Tudo bem. Pode lançá-lo.

Jogos que não acabam mais Quando o problema foge do controle

As desenvolvedoras terceirizadas já eram relativamente comuns para a época. A própria Activison, firme e forte até os dias de hoje, nasceu graças a um grupo de ex-programadores da Atari que ficou indignado ao descobrir que seus nomes não seriam creditados em suas produções.

A própria Activision acabou lançando um dos jogos mais populares do Atari 2600: Pitfall. Então, qual era o problema das desenvolvedoras terceirizadas? Assim como na situação dos consoles, diversas empresas acreditavam que produzir jogos era um negócio milionário, passando então a arriscar-se neste ramo— para a infelicidade dos jogodares.

Você conhece a Quaker? Aquela companhia conhecida pelas suas aveias e cerais? Pois é. Para se ter ideia, até mesmo a Quaker decidiu lançar alguns joguinhos na época — sorte que o TecMundo Games ainda não fazia análises, pois as notas seriam realmente desastrosas.

Basicamente, várias companhias de todos os ramos passaram a contratar programadores ou utilizar a engenharia reversa para aprender como fazer games que, posteriormente, seriam lançados para quaisquer plataformas disponíveis.

Como é possível perceber, as donas dos consoles não tinham controle no fornecimento dos games. Com isso, as lojas de brinquedos passaram a receber mais produtos que podiam carregar, fazendo com que muitos títulos tivessem de ser devolvidos às companhias. E, como as desenvolvedoras criavam milhares de games, elas também não podiam aceitar as devoluções. O resultado foi uma verdadeira catástrofe. Mas ainda temos mais problemas.

A chegada dos PCs Quem precisa dos video games?

Outro problema que ajudou nesta crise é a chegada dos Personal Computers, ou PC. Até o final dos anos 1970, um computador saia por aproximadamente 6 mil reais nos estados unidos. Contudo, estas máquinas começaram a se tornar mais populares durante a década de 1980, graças a uma significativa queda no preço que tornou os PCs mais acessíveis.

Com a popularização dos computadores, muitas marcas passavam a explorar a variedade de recursos de um PC em relação a um console, tornando-os verdadeiros concorrentes dos video games. Por contarem com mais memória e melhores gráficos e som, estas máquinas comportavam jogos mais sofisticados, algo possibilitado, também, pelo processamento de palavras.

Além disso, era muito mais fácil copiar, legalmente, os jogos, já que estes eram lançados em disquetes (floppy) ou fitas cassette, ao contrário dos consoles, que traziam os famosos cartuchos. Os jogadores ainda podiam salvar seus games, graças à memória flexível exclusiva dos PCs.

Tudo isto ainda foi exaustivamente divulgado pelas campanhas publicitárias das donas dos computadores pessoas. A Commodore, por exemplo, lançava peças que tinham como público alvo os jogadores, trazendo, essencialmente, conceitos como “Quem precisa de video games quando se pode ter um PC?”.

A última pastilha Quando a indústria foi literalmente enterrada

O que mencionamos acima certamente influenciou na tão famosa crise dos consoles. Entretanto, existem dois fatos que foram decisivos para o quase fim da indústria. O primeiro deles foi o lançamento de uma versão do lendário Pac-Man para o Atari 2600.

Basicamente, a companhia queria aproveitar o sucesso do famoso “come-come” nos fliperamas, decidindo, então, lançar um port para o Atari 2600. Contudo, havia um pequeno problema: a Atari queria o jogo para o Natal de 1981. Sendo assim, os programadores contavam apenas com algumas semanas para desenvolver, empacotar e divulgar o game. Mesmo assim, a empresa conseguiu produzir milhões de jogos. Mas será que houve retorno?

Pac-Man para Atari 2600 vendeu bem. Mesmo assim, os números não chegaram nem perto do esperado. O grande problema foi o lançamento de um jogo extremamente mal feito, que mal poderia ser considerado um port do tão popular Pac-Man. A razão para o título ser terrível foi mesmo a falta de tempo. O programador responsável pelo jogo apresentou um protótipo do game para a companhia, que decidiu lançar esta versão como versão final. Não poderia, e nem deveria, ter dado certo.

O resultado? Somente a metade dos Pac-Man para Atari foram vendidos, e os custos de produção e marketing superaram drasticamente as vendas. Esta foi, e ainda é, uma das maiores perdas da história da companhia, resultando em milhões de dólares jogados no lixo.

O outro caso é ainda mais curioso. Com o sucesso da obra de Steven Spielberg, a Atari decidiu pagar cerca de 10 milhões de dólares para obter os direitos de E.T: O Extraterrestre e lançá-lo como video game.

Assim como em Pac-Man, contudo, os programadores tiveram poucas semanas para fazer o game — seis, para ser mais exato. E, assim, como come-come, a Atari novamente apressou o trabalho e ganhou outro desastre em seu curriculum. E.T. acabou sendo conhecido como o pior jogo de todos os tempos, graças às falhas e a jogabilidade terrível do game.

A companhia fez outro cálculo errado, produzindo 12 milhões de cópias do game sendo que existiam apenas 10 milhões de Ataris vendidos. Ou seja, 2 milhões de pessoas iriam comprar um console para jogar E.T. É claro que a realidade não foi essa, e novamente a empresa teve de se livrar de milhões de cartuchos.

Eventualmente, a Atari foi obrigada a enterrar todas as cópias não vendidas em um depósito de lixo no Novo México. Sim, E.T. foi literalmente sepultado, e a Atari acabou com o maior prejuízo de sua história. Depois de dois anos, a Atari seria vendida, e o mundo dos consoles nunca mais seria o mesmo — pelo menos até a chegada do Nintendo Entertainment System (NES) em 1985.

O fim Games extintos

Depois destes desastres, muitas lojas de brinquedos passaram a negar os jogos eletrônicos, principalmente pelos prejuízos devidos à saturação do mercado. Para se livrar dos games ruins, as lojas começaram a distribuí-los a preço de banana. Os Estados Unidos achavam que os games eram apenas uma “moda”, e que esta moda havia chegado ao seu fim.

Mas, graças a uma companhia que costumava vender cartas, o entretenimento eletrônico novamente viu a sua luz. A Nintendo chegava do Japão já preparada para enfrentar a crise, oferecendo seu console como um sistema de entretenimento, o que deixava as lojas mais tranquilas por não se tratar, teoricamente, de um video game.

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Além disso, a companhia teve a brilhante ideia de trazer o Selo Nintendo de Qualidade, o que impedia que qualquer companhia lançasse jogos para sua plataforma. Basicamente, todos os jogos lançados para o NES deveriam passar antes pela Nintendo, que decidia se aprovava ou não os consoles. Caso alguém tentasse burlar, o hardware do console impedia a execução dos jogos, graças a um chip exclusivo da plataforma.

Logo, o encanador bigodudo chegava aos lares de todos, e a ascensão dos games era inevitável. Depois de dois anos sem praticamente se ouvir falar nos video games, a Nintendo lançava o NES, também conhecido como o salvador da indústria.

Agora, os jogos prosperam com tranquilidade, superando, muitas vezes, indústrias gigantescas como a do cinema e da música. Mas, será que um dia enfrentaremos novamente uma crise parecida? O que você acha?

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