Coluna: as péssimas adaptações de games para o cinema

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A consultoria de mercado Gartner Inc. prevê que, até o final de 2011, a indústria de games movimentará cerca de US$ 74 bilhões. O valor é cerca de três vezes maior que o esperado para o mercado cinematográfico, que vem registrando queda de faturamento a cada ano. Com os jogos tomando cada vez mais espaço na cultura e angariando um número cada vez maior de fãs, parece óbvio que um dia, esses dois mercados iriam se unir. Isso já aconteceu e, infelizmente, a união deu origem a uma grande máquina de insultos aos gamers.

Você já jogou algum Resident Evil na sua vida? Então que tal brincar de encontrar referências ao game no trailer abaixo?

Antes que você responda, não, nem mesmo os personagens que aparecem aí são os mesmos dos games, eles apenas possuem o mesmo nome. Para mim, "Resident Evil 3: A Extinção" é a prova absoluta de que jogos não deveriam ser adaptados para a tela grande, pois é praticamente impossível que não percam sua essência quase que completamente. Eu poderia perder horas de coluna citando mais exemplos, que incluiriam os outros REs, mas prefiro falar sobre as razões para esse “fenômeno”.

Razão nº 1: roteiro de game X roteiro para cinema

A grande maioria dos filmes de games surgiu em um período de transição, em que a indústria dos jogos começava a utilizar técnicas cinematográficas para contar suas histórias. Isso se refletiu em ângulos de câmera, técnicas narrativas e diversos outros elementos que permitiram a criação de títulos como Heavy Rain ou L.A. Noire, que poderiam muito bem ser considerados filmes interativos.

Estamos falando de antes desse tempo, quando o roteiro ainda não era um elemento tão importante em um game e quem criava o personagem era, efetivamente o jogador. Pense bem, qual a grande trama por trás de jogos como Street Fighter ou Super Mario Bros.? Você consegue enxergar um grande roteiro elaborado por trás dos dois games? Isso, porém, não impediu que a partir deles fossem criadas as adaptações mais horrendas da história.

E os primeiros Resident Evil? Apesar da trama densa, que envolve pesquisas biológicas ilegais e locais lotados de zumbis, o que exatamente se sabe sobre os personagens? Quais as histórias deles, o que faziam antes de tudo aquilo, como são no relacionamento com os companheiros? Personagens são elementos essenciais para qualquer filme e, se adaptados de forma “fiel”, os policiais dos S.T.A.R.S. seriam nada mais que poços vazios.

Isso elucida, por exemplo, uma das principais críticas em relação às adaptações: a falta de fidelidade. É justamente devido a essa falta de elementos que roteiristas malucos acabam criando novos protagonistas e histórias que, na maioria das vezes, diferem completamente do que vemos nos consoles. O resultado disso é uma frustração imensa entre os gamers.

Razão nº 2: games foram feitos para serem jogados

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Por mais foco no enredo que títulos como Metal Gear Solid ou Uncharted tenham, nem eles escapam da máxima acima. Games são uma mídia interativa e a história serve apenas como mais um entre tantos artifícios para manter o jogador grudado ao controle.

Quando um título é portado para o cinema, uma mídia passiva, tal aspecto simplesmente não existe. E lá sei vai pelo menos metade da experiência, enquanto os produtores têm que rebolar para que o que restou gere uma experiência atrativa, tanto para o público em geral quanto para os fanáticos pelo material original. Uma tarefa que nenhum estúdio ainda conseguiu realizar.

Razão nº 3: $$$$$$$$$$$

Ninguém faz nada de graça nesse mundo. E assim como todos nós, os produtores de filmes também querem ganhar dinheiro. E para obter isso, muitas vezes, é preciso abrandar o material original e, muitas vezes, emburrecê-lo, de forma que fique mais compatível com o público que vai aos cinemas.

Nos Estados Unidos, a censura para filmes é muito mais respeitada do que a aplicada nos games. Enquanto um garotinho de dez anos consegue ir a uma loja e sair de lá com  Call of Duty: Modern Warfare 3 na mão, ele provavelmente não poderia entrar sozinho em uma seção de “Jogos Mortais”.

Isso explica, por exemplo, os fatalities sem sangue algum vistos nos longas de Mortal Kombat. Em uma tentativa de reduzir a classificação indicativa para angariar mais público, os produtores limaram um dos traços fundamentais do game. O mesmo vale para uma infinidade de outras adaptações, como o já citado Resident Evil ou Silent Hill.

A aparência física ou até mesmo a personalidade dos protagonistas também podem ser deixadas de lado em prol da contratação de atores famosos, que são garantia de alguns milhares de dólares a mais. Foi por isso que o americano Jake Gyllenhall apareceu interpretando Prince of Persia, ou o bonitinho Mark Wahlberg ganhou o papel de Max Payne.

Meu game preferido vai virar filme, e agora?

Fonte da imagem: Gamesradar
Acredite, se você é fã de um título de sucesso, uma hora ou outra esse dia vai chegar. Apesar das duras críticas e do repúdio dos fãs, adaptações de games para o cinema vêm dando muito lucro e chegam a, inclusive, ultrapassar as rendas totais de grandes produções. Apenas a título de curiosidade, “Resident Evil 4: Recomeço” arrecadou quase US$ 300 milhões de dólares em todo o mundo, um total semelhante ao obtido por “X-Men: Primeira Classe” e pouco abaixo de “Thor”, dois dos grandes lançamentos de 2011.

É amigo, prepare seu estômago. Muito mais ainda está por vir.

P.S.: Para o bem do meu cérebro, ignoro solenemente as adaptações de Tekken, Alone in The Dark e The King of Fighters.

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