Os fãs de Tibia foram pegos de surpresa nas últimas semanas quando a CipSoft, desenvolvedora do game, anunciou um novo game: Persist Online. Do gênero de MMORPG e com visão em terceira pessoa, o projeto parece ser bem diferente do jogo de 1997 – mas não é tanto assim.
Quem garante isso são os próprios diretores da CipSoft. Em entrevista exclusiva para o Voxel, Stephan Vogler, co-criador de Tibia e do estúdio e Benjamin Zuckerer, gerente de Produto Chefe, contaram um pouco sobre como foi embarcar nesta nova jornada.
Durante a Gamescom Latam 2024, a dupla explicou que o novo título é inspirado em jogos como Day-Z. A temática, porém, é um mundo apocalíptico que foi tomado por zumbis – que inclusive garantem que não é uma fórmula que está esgotada.
Vogler e Zuckerer falaram sobre se Persist Online pode sair para consoles, além do PC, e também sobre as expectativas em relação à comunidade brasileira (que mantém Tibia de pé até hoje).
Inclusive, os dois deixaram um recado bastante claro para os fãs de Tibia: o game não será deixado de lado e, inclusive, tem grandes conteúdos chegando em breve. Confira, abaixo, a entrevista completa!
Voxel: Quais foram os maiores desafios de criar um jogo novo após 27 anos?
Benjamin Zuckerer: Criar jogos é uma tarefa muito difícil. Tem a parte da [nova] tecnologia e você precisa ser um ‘pau para toda obra’ porque há muitas coisas diferentes [atualmente] em questões de áudio, imagens e arte. E acho que o difícil é ter uma visão e seguir essa visão e não abandoná-la, além de ter certeza de que todos estão realmente construindo o mesmo jogo.
Voxel: Em relação a outros games, quais as principais referências que vocês tiveram para Persist Online?
Benjamin Zuckerer: Tibia é basicamente uma das maiores referências, mas também há jogos como DayZ, Escape from Tarkov e até XCOM, que influenciam no design do jogo e nas ideias centrais.
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Persist Online mistura elementos de sobrevivência, crafting, RPG e mais. (Imagem: CipSoft/Reprodução)
Voxel: E em quais aspectos Persist Online e Tibia são parecidos?
Stephan Vogler: Acho que ambos os jogos compartilham a mesma visão, pois ambos oferecem muita liberdade. Assim como em Tibia, em Persist Online você decide quais são seus objetivos para que possa sair e explorar o mundo e há muito para ver e fazer. Você pode desenvolver suas habilidades, tentar alcançar níveis mais altos, você pode aumentar seu poder e mais. E pensamos o jogo para que não seja apenas PVE, mas também PVP como Tibia.
Benjamin Zuckerer: Os jogos modernos muitas vezes levam os jogadores pelas mãos e tentam dizer o tempo todo o que fazer, qual o próximo passo e os recompensam por isso. Tibia e Persist não fazem isso. Eles vão apenas empurrar você para o mundo e dizer para você explorar tudo sozinho e preencher as lacunas com sua imaginação. Acreditamos que é isso que falta nos jogos atualmente.
Voxel: Persist Online será uma espécie de jogo sandbox então?
Benjamin Zuckerer: Sim, e em alguns aspectos [o jogo é] provavelmente sobre um mundo aberto muito grande e que há muitas coisas com as quais você pode interagir. Tinha um jogador na fase pré-alfa que queria pegar plástico e o que ele fez foi pegar uma chave de fenda, abrir a caixa de dinheiro da máquina de estacionamento e conseguir moedas. Ele usou essas moedas para ir a uma máquina de vendas e comprou garrafas de água. Daí ele usou as garrafas de água e reciclou para conseguir o plástico. Isso não é nada que havíamos projetado, mas o jogador teve essa ideia. Então o jogo suporta tudo isso e acho que Persist Online acaba sendo um exemplo de sandbox.
Voxel: E por que a escolha de zumbis no game?
Benjamin Zuckerer: Então, há uma história de fundo. Mas na verdade não queremos revelar isso e a razão é exatamente o que eu estava falando antes: acho que é importante que haja certas coisas que são deixadas para a imaginação dos jogadores. No jogo, há muitas facções de NPCs e essas facções têm versões diferentes disso [sobre o que aconteceu para que zumbis aparecessem]. Algumas facções acreditam que foi um acidente [biológico ou algo assim], que foi uma ação do governo, que foi uma punição de Deus etc. Cada facção terá sua própria ideia e não revelaremos aos jogadores o que realmente aconteceu.
Stephan Vogler: Mas você perguntou por que os zumbis existem e há muitas razões para isso. Então, em primeiro lugar, queríamos algo novo que não existisse, já que todo mundo está trabalhando com fantasia [em jogos de MMORPG]. A próxima coisa é que gostaríamos de ter um grande mundo com criaturas, e que essas criaturas não poderiam ser inteligentes, já que isso exigiria muito poder de computação. Zumbis são perfeitos neste sentido, já que podem passar por você e você não questiona sua falta de inteligência. O próximo passo é que zumbis são muito populares. Há muitos jogos, filmes e séries com a temática. E notamos que não existe MMORPG de zumbi agora, então Persist Online é o primeiro que mistura RPG e zumbis.
Persist Online terá uma visão em terceira pessoa. (Imagem: CipSoft/Reprodução)
Voxel: E vocês têm planos para lançar Persist Online nos consoles, além do PC?
Benjamin Zuckerer: na verdade acreditamos que o PC é a melhor plataforma para um jogo do gênero MMORPG. Persist Online exige muita comunicação entre os jogadores e o PC é a melhor plataforma para isso. E você tem um teclado, voz, pode alternar entre o jogo e o Discord. E essas coisas você não pode fazer no console. Além disso, somos jogadores de PC. Simplesmente amamos PC e adoramos jogar em um computador.
Stephan Vogler: E nós realmente queremos que os jogadores se comuniquem entre si. E eu acho que a plataforma PC é a melhor plataforma para esse tipo de comunicação.
Persist Online terá combates com armas de fogo e armas brancas. (Imagem: CipSoft/Reprodução)
Voxel: Falando sobre o Brasil, que é um dos maiores públicos de Tibia do mundo. Vocês esperam que a comunidade brasileira abrace Persist Online da mesma forma?
Stephan Vogler: Com certeza, sim! Tibia é muito conhecido no Brasil e as pessoas estavam interessadas no que faríamos a seguir. E uma questão é que já podemos ver esse interesse. Acabamos de anunciar o jogo e estávamos coletando as entradas nas listas de desejos da Steam e podemos ver que a maior nacionalidade nas listas de desejos é do Brasil. Então, sim, muitos jogadores brasileiros já estão interessados ??no jogo.
Benjamin Zuckerer: Na verdade, a América Latina ocupa mais de 40% das listas de desejos [de Persist Online na Steam]. Então não é só no Brasil, mas todos nós vemos interesse na Argentina e Chile, por exemplo.
Voxel: E vocês têm uma resposta do porquê os brasileiros estão interessados em Persist Online? E principalmente por que eles gostam tanto de Tibia?
Stephan Vogler: Existem muitas respostas para isso. Acho que uma coisa é que os jogadores brasileiros adoram a jogabilidade que o Tibia oferece. Como eu disse, a liberdade e a criatividade que você pode colocar no jogo combina com a mentalidade dos jogadores brasileiros também com as possibilidades de comunicação e de trabalho conjunto. E também acho que um fator-chave para o sucesso foi que à época em que ele [Tibia] estava crescendo, a maioria dos outros jogos eram distribuídos em CD e era grátis para jogar.
Benjamin Zuckerer: E [Tibia] roda em qualquer PC.
Stephan Vogler: Sim, ele roda em todos os hardwares. Assim, todos puderam instalar e foi uma combinação perfeita para o Brasil.
Stephan Vogler(à esquerda) e Benjamin Zuckerer (à direita) estiveram no Brasil para participar da Gamescom Latam 2024. (Imagem: CipSoft/Reprodução)
Voxel: E os fãs de Tibia querem saber: com o lançamento de Persist Online, Tibia continuará recebendo atualizações e novos conteúdos?
Stephan Vogler: Com certeza! Na verdade, Tibia tem sido muito bem-sucedido durante os últimos anos e a equipe de desenvolvimento agora está tão grande como nunca foi antes, então há muitas pessoas trabalhando no Tibia.
Voxel: Quantas pessoas estão na equipe de Tibia na CipSoft?
Stephan Vogler: São cerca de 25 pessoas. Mas essa é apenas a equipe direta, então há muitas outras equipes de apoio, como administração de sistemas ou mesmo gráficos [...]
Benjamin Zuckerer: Mais ou menos metade da empresa trabalha diretamente com Tibia.
Stephan Vogler: Sim, no geral, atualmente são cerca de 50 pessoas que trabalham internamente com Tibia. E também haverá atualizações interessantes, então acho que Tibia ainda tem um futuro brilhante mesmo após 27 anos.