O que é o GraphoGame citado por Bolsonaro durante o debate

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Imagem: Divulgação/MEC

Os candidatos à Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se encontraram, neste último domingo (16), no primeiro debate do segundo turno eleitoral, promovido pela TV Bandeirantes. Um dos temas levantados foi educação, em especial como recuperar a defasagem no ensino em escolas da rede pública, que enfrentaram em média 287 dias sem aulas em decorrência da pandemia da Covid-19.

O atual mandatário apresentou como solução o uso do GraphoGame, um app lançado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2020 e que, segundo ele, seria capaz de alfabetizar crianças em seis meses. No entanto, a declaração levantou críticas de especialistas nas redes sociais, além do aumento nos índices de busca. Nas linhas a seguir, veja detalhes sobre o GraphoGame e entenda seu funcionamento.

O que é o GraphoGame e para que serve?

O GraphoGame é um aplicativo infantil voltado para crianças entre quatro e nove anos de idade, que estão na pré-escola ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ele foi lançado originalmente na Finlândia em 2011, mas foi adaptado para o Brasil em parceria com Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Lançado no Brasil em 25 de novembro de 2020 em meio à pandemia, sua intenção é "auxiliar professores, em atividades de ensino remoto, e famílias no acompanhamento das crianças no processo de aquisição de habilidades de literacia", segundo sua descrição oficial.

À época do lançamento, o então ministro Milton Ribeiro já ressaltava que o aplicativo buscava auxiliar o professor na tarefa de alfabetização, e não substituí-lo.

Como funciona o aplicativo GraphoGame?

Adaptado para o português do Brasil em colaboração com cientistas brasileiros, o GraphoGame traz uma interface 3D em que é possível criar um avatar personalizável, e então participar de diferentes atividades que focam na associação de letras e sílabas aos seus respectivos sons.

Ao iniciar uma fase, balões com letras ou sílabas começam a aparecer na tela, e a criança deve selecionar aquela que condizer com o som que acabou de ouvir. Há, ainda, atividades que envolvem construção frasal, nas quais é preciso reorganizar as palavras na ordem correta para que a frase faça sentido.

Dependendo do desempenho, as crianças recebem uma pontuação e os responsáveis podem, então, acompanhar um relatório de desenvolvimento dentro do próprio aplicativo. É possível, ainda, comprar novos itens de avatar com as moedas conquistadas para customizá-lo com roupas e acessórios.

Como surgiu o GraphoGame?

O projeto original nasceu em 2001 e é fruto de uma década de pesquisas na Universidade de Jyväskylä e do Instituto Niilo Mäki, na Finlândia. O lançamento aconteceu apenas em 2011. A princípio, o GraphoGame teria a intenção de auxiliar crianças finlandesas com dislexia, mas logo foi adaptado para servir de ferramenta na alfabetização de estudantes entre quatro e nove anos de idade.

Foi sob esta premissa que o aplicativo estreou no Brasil em 2020, amparado pelas medidas de restrição em meio à pandemia da Covid-19, que fecharam escolas para evitar a propagação do vírus.

Até o momento, o app já foi baixado por mais de um milhão de pessoas e tem avaliação 4,6 de um total de cinco estrelas, segundo aponta a página na Google Play Store. As opiniões dos usuários se dividem entre críticas e elogios. Um dos relatos aponta que as pronúncias das consoantes são muito diferentes e confundem as crianças, além de que o app precisa de muitos ajustes.

O que dizem os especialistas?

O fato de Jair Bolsonaro ter afirmado que o GraphoGame seria capaz de alfabetizar crianças em apenas seis meses foi duramente criticado por especialistas e educadores nas redes sociais. Vale lembrar que a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê que a alfabetização tenha como prazo-limite o terceiro ano da Educação Básica.

Nas redes, o professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, foi assertivo e descreveu o GraphoGame citado por Bolsonaro como "a maior picaretagem e irresponsabilidade que existe na alfabetização de crianças."


Priscila Cruz, co-fundadora e presidente-executiva da organização Todos Pela Educação, resgatou uma fala de Augusto Buchweitz, que foi responsável pela adaptação do game para a língua portuguesa: "Sozinho, o GraphoGame não irá alfabetizar a criança e não resolve esse imenso problema; não é esse o objetivo e nem poderia ser.”

Seguindo a mesma linha, a própria organização Todos Pela Educação faz um recorte de Olavo Nogueira Filho, que faz um comparativo entre as respostas de Lula e Bolsonaro sobre a defasagem educacional. Ela aponta, ainda, que "apostar tudo em uma ferramenta, esquecendo as políticas e os profissionais, não tem base pedagógica."

Aline Fay, diretora do Departamento de Linguagens e Coordenadora do curso de graduação em Letras-Inglês da PUC-RS, também comentou o assunto. "O objetivo do jogo é auxiliar no desenvolvimento da consciência fonológica (relação grafema-fonema). Pode ser jogado totalmente offline. E não, não alfabetiza crianças em seis meses."


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