Entrevista: designer de Hearthstone fala sobre desafios, eSport e... Trolls

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No último dia 6 de abril, os jogadores de Hearthstone: Heroes of Warcraft puderam comemorar a chegada de Jornada a Un'Goro, a expansão mais recente do card game virtual da Blizzard. Além de adicionar uma nova temática à disputa multiplayer e trazer 135 novas cartas para entreter entusiastas e estrategistas, o pacote tem uma boa dose de curiosidades em seu desenvolvimento e representa uma longa jornada da publisher com sua nova franquia.

Para falar sobre esse e outros assuntos, tivemos a oportunidade de ir recentemente ao escritório da empresa em São Paulo para conversar com Mike Donais, designer de jogo sênior de Hearthstone. Veterano da indústria de TCGs, o norte-americano – que atualmente é responsável pela criação e pelo balanceamento de cards no game – já trabalhou com as cartas colecionáveis de World of Warcraft e com o mundialmente famoso Magic: The Gathering.

Mike Donais

Bem-humorado, Donais tentou não se esquivar das perguntas e deu a sua visão a respeito de assuntos como: introdução de novas mecânicas, acessibilidade do game a novos jogadores, como manter veteranos interessados, os desafios de manter um título como esse devidamente equilibrado, a adoção do eSport e o que podemos esperar da série no futuro.

Processo criativo insano

Vamos brincar com trolls, por favor

Você sabia que, antes de Jornada a Un'Goro ser uma expansão focada no mapa pré-histórico de World of Warcraft, ela quase foi uma aventura centrada em criaturas completamente diferentes dos dinossauros e elementais apresentados pela produção? Pois é, segundo o designer, a conversa que levou à criação do novo pacote de aventuras de Hearthstone teve início com algo tão simples quanto “vamos brincar com trolls, por favor”.

“Nós partimos do princípio de que não fizemos nada com trolls e a raça é uma parte bem significativa de WoW. Então, que tal uma expansão focada em trolls?”, explicou Donais. Claro que não demorou para que o papo tomasse outros rumos e logo estivesse mais nos moldes de “E se fizermos os trolls montados em dinossauros? Isso seria legal!”.

Os trolls acabaram dando lugar a dinossauros e poderes ainda mais malucos

Com o novo interesse, a equipe pensou em que mapa os lagartões poderiam ser encontrados mais facilmente e acabou se deparando com Un'Goro. O problema? Os trolls não são exatamente abundantes por lá. “Acho que acabamos colocando essa ideia de lado, mas é algo que gostaríamos de fazer mais para a frente porque realmente gostamos dos trolls”, brincou o designer, já dando a dica para uma possível futura expansão.

Seja como for, a escolha do mapa acabou definindo que dinossauros e elementais seriam os pontos centrais do update e abriu portas para a introdução de novas mecânicas à brincadeira, em especial o sistema de adaptação.

Pensando no gameplay

Será que essa evolução constante, a adição de cada vez mais cards e a chegada de novos modos de jogo não acabam afastando novos jogadores? Enquanto em outros games o público chega a reclamar da escassez de conteúdo, será que em Hearthstone o excesso de material adicional pode criar uma barreira de entrada para novatos? Afinal, pode ser muito fácil ficar perdido em meio a tanta coisa ou se sentir “atrasado” em relação a quem já está há mais tempo na jogatina.

Essa parece ser uma preocupação para o time por trás do game, uma vez que, segundo Donais, já existem algumas iniciativas dentro do jogo para resolver problemas nesse sentido. “O modo Padrão serve como uma boa porta de entrada para jogadores inexperientes, oferecendo um aprendizado mais simples através de decks pré-montados. Se você acabou de chegar em Un'Goro, pode se focar, por exemplo, apenas em um baralho de xamã elemental, sem ter que voltar para caçar cards antigos de quanto Hearthstone foi lançado”, analisou.

Chegar em Hearthstone pode ser um aventura bem desafiadora

Ao mesmo tempo, ele lembrou que o pessoal das antigas não ficou esquecido, principalmente quem não tem tanto tempo para se dedicar à nova expansão, mas tem bons decks montados com cartas mais antigas. “O modo Livre permite que esse público continue a se divertir com estratégias clássicas e se mantenha competitivo mesmo sem recorrer ao conteúdo dos pacotes mais recentes de aventuras”, comentou o designer.

Há baralhos simples e baratos para os entusiastas em início de carreira

Ele reconhece, no entanto, que, para se manter a par da meta mais atual e se tornar realmente competitivo nas disputas online, o jogador precisa colocar na balança quanto tempo ou dinheiro ele quer gastar com o game. Ainda assim, Donais fez questão de dizer que ele e sua equipe trabalham sempre para que haja alguns baralhos simples e baratos para os entusiastas em início de carreira – geralmente funcionando sem cartas lendárias e permitindo um bom avanço pelos rankings.

Desafios e eSport

Para o designer, balancear o game é brincar com ideias malucas sem quebrar o jogo

Tendo em mãos um game tão diverso e com conteúdo para todo tipo de público, deve ser extremamente complicado criar um balanceamento que funcione nos mais diferentes níveis de jogatina, certo? Para o designer, responsável por trabalhar diretamente com esse elemento do jogo, o problema é um pouco diferente e envolve certa ousadia da Blizzard com o título – sempre com o objetivo de manter o jogador engajado com a franquia.

“Fazer um jogo balanceado, na verdade, é bem fácil. O desafio real é colocar nessa mistura cards insanos e mecânicas poderosas que mudam totalmente o game e garantir que, mesmo assim, tudo se mantenha devidamente equilibrado. E nós queremos isso, queremos fazer desse jeito”, explicou. “É uma estratégia de alto risco, mas que é divertida quando funciona e casa muito bem com toda a maluquice de Un'Goro. Isso pode acabar fazendo com que alguma classe fique poderosa demais, mas ficamos de olho para resolver isso rapidamente”, brincou.

O eSport está evoluindo cada vez mais dentro de Hearthstone

Em relação a Hearthstone como uma modalidade de eSport, dá para dizer que foi uma grata surpresa para a equipe de desenvolvimento, mas que hoje em dia é algo levado bem a sério pela empresa. “No início, a ideia era apenas que um bando de viciados em card games mostrasse às pessoas quão legal é esse tipo de jogo, desde as decisões de montar seu próprio deck até a empolgação de conseguir uma carta rara ou de derrotar um oponente difícil. Não tinha nada a ver com eSports ou estar em um monte de plataformas”, recordou Donais.

Agora, o esporte eletrônico é uma parte bem grande de Hearthstone

“Agora, o esporte eletrônico é uma parte bem grande de Hearthstone e colocamos cada vez mais recursos nisso. Nosso time de eSport está crescendo e estamos promovendo mais eventos da modalidade”, afirmou. Falando especificamente sobre o Brasil, ele comentou que o país tem uma comunidade bastante ativa no segmento e que com certeza os jogadores locais vão poder contar com um suporte cada vez maior por parte da Blizzard.

Passado e futuro

Antes de encerrar o bate-papo, quisemos saber do designer como foi a jornada de Hearthstone até agora e que tipo de novidades podemos esperar do game ou da própria franquia em atualizações futuras. Quando brincamos com Donais a respeito de o jogo ter começado como um projeto paralelo bem pequeno dentro da empresa, com uma equipe composta por menos de 10 pessoas, ele disse que hoje o cenário é bem diferente e que o título tem um peso bem grande dentro da publisher.

“Hoje todo mundo conhece Hearthstone, ele está em uma série de plataformas e em uma porção de idiomas diferentes, então há uma visibilidade muito ampla em cima do game. O time também está bem maior, beirando umas 70 ou 80 pessoas”, informou o designer. “Nos primeiros anos, a maior parte dos nossos recursos era investida na criação de novas expansões e aventuras, com o restante sendo aplicado para que o jogo chegasse a celulares e tablets”, relembrou.

No início, manejar recursos de produção era tão importante quanto cuidar da sua mana no game

Agora, podemos pensar em fazer mais coisas

“Agora, com mais recursos à nossa disposição, podemos pensar em fazer mais coisas. Eu, por exemplo, foco meu tempo em criar novas cartas, mas há outra equipe trabalhando em adições que provavelmente vocês verão no futuro”, resumiu o norte-americano. Opa, que tipo de novidades podemos esperar? Bem, nesse ponto Donais foi um pouco mais evasivo, mas demonstrou interesse em algumas ideias apresentadas ao longo da conversa.

Um modo história mais robusto está no radar da Blizzard, por exemplo, e muito provavelmente veremos parte disso na expansão que virá logo após Jornada a Un'Goro. Um sistema de attunements ou Conquistas – aos moldes de WoW – também pareceram ideias bacanas para o designer, mas ele disse que é preciso ter cuidado com elementos assim. Como Hearthstone tem um gameplay mais dinâmico e partidas mais rápidas que o MMORPG, adições desse tipo têm o risco de se tornarem um fardo ou uma obrigação para os jogadores.

Sala de reunião "humildona" no escritório da Blizzard

Hearthstone 2 com uma nova engine e recursos VR? Port para os consoles, começando pelo Switch? Novos modos de jogo? Partidas entre duplas? É claro que Donais não pôde dar um sim ou não concreto para nenhuma dessas perguntas, mas ele disse que sua equipe tem muitas cartas na manga para o jogo e que o público pode se preparar para muitas novidades daqui para a frente. E você, anda curtindo Hearthstone? O que espera ver futuramente no game? Deixe a sua opinião sobre o tema mais abaixo, na seção de comentários.

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