Entenda o declínio do mercado de tablets e a volta dos PCs em 2014

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Como o TecMundo noticiou na semana passada, os tablets têm mostrado um declínio progressivo nos mercados dos países mais desenvolvidos, ao mesmo tempo que os computadores pessoais tiveram uma guinada positiva pela primeira vez em anos. A coisa tem sido tão forte que o CEO da BestBuy deu uma entrevista dizendo que os tablets efetivamente “quebraram” suas previsões de venda. Como explicar este fenômeno tão estranho? Será que os tablets vão sumir? Eles eram apenas uma moda? A nossa equipe vai tentar responder esta e outras questões pertinentes ao mercado atual.

Primeiramente, é importante lembrar que, em escala global, as vendas dos tablets ainda cresceram. Claro que os números estão bem abaixo do que se esperava, mas os mercados de países emergentes ainda têm recebido bem este tipo de dispositivo. O problema está nos mercados de primeiro mundo, onde estes aparelhos simplesmente não saíram das prateleiras, tanto a Apple quanto a Samsung alegaram a diminuição dos seus lucros neste semestre devido à diminuição da demanda de tablets.

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O crescimento dos PCs

Ao mesmo tempo, existe uma razão bem clara para o aumento na venda de PCs: o fim do Windows XP. O sistema, que possui quase dez anos, foi oficialmente abandonado pela Microsoft e como consequência, muitos usuários que passaram todo este tempo satisfeitos com ele, decidiram trocar suas máquinas, aquecendo o mercado de computadores pessoais. Pode parecer estranho para os adeptos de tecnologia, mas o antigo OS da Microsoft, criado em 2001, ocupava um nicho gigantesco tanto em empresas, quanto em lares, que se tornaram órfãos quando ele foi oficialmente descontinuado no dia 8 de abril de 2014.

Com um número de usuários na casa dos milhões, certamente o fim do Windows XP parece ter sido um fator definidor para o aceleramento do mercado de desktops. Muitas pessoas certamente aproveitaram esta mudança para comprar um novo hardware também.

Tablets X smartphones

O grande problema é que os empresários esperavam que o tablets se tornassem os novos smartphones, que são atualmente os produtos mais lucrativos do mercado. Até porque na maioria dos países os celulares têm os seus preços subsidiados pelas operadoras, que os vinculam a programas de fidelidade etc. Aparelhos que deveriam ser muito proibitivos, custando cerca de 600 dólares, são vendidos rapidamente graças a este tipo de política, que acaba escondendo o preço final deles, permitindo que boa parte do público consiga trocar de celular a cada dois ou três anos.

Mesmo quando eles não são subsidiados, nós utilizamos esses aparelhos todos os dias, eles se tornaram uma ferramenta quase obrigatória para todos nós. Isso os torna mais propensos a acidente também, eles caem no chão, na piscina, são esquecidos, roubados, etc. Tudo isso são razões que nos mantém comprando novos smartphones em ciclos bem mais curtos do que qualquer outro aparelho eletrônico.

No caso dos tablets, com suas vendas absurdamente altas nos primeiros anos, foi mal percebido como os novos celulares pelos empresários, isto ,é aparelhos de custo moderadamente alto que poderiam ser renovados a cada dois ou três anos. Esta foi realmente a primeira impressão quando o iPad 2 foi tão bem-sucedido em suas vendas, e a expectativa era que esse sucesso continuasse a aumentar.

O que percebemos hoje é que esta tendência não se manteve, os detentores de um tablet simplesmente parecem ter ficado satisfeitos com o seu produto. A resolução da tela já é tão boa quanto ela precisa ser, a vida da bateria é longa o suficiente, diminuir o peso seria bom, mas a maioria já é leve. O processador é outro aspecto que já é funcional da forma atual, e que os usuários não sentem necessidade de aumentar para rodar apps que não sejam jogos.

A conclusão que se pode chegar é: a não ser que os desenvolvedores criem uma nova função essencial, a maioria do público vai ficar com o seu tablet alguns anos até que eles quebrem, se percam, não recebam mais softwares ou sofram algum tipo de infortúnio.

Um destino semelhante aos PCs

Este padrão que agora frea o mercado de tablets pode ser encontrado na história dos computadores pessoais a partir da metade dos anos 2000. Até essa data, todo mundo costumava atualizar seus computadores com maior frequência — até porque as mudanças eram progressivamente mais impressionantes —, bem como os custos cada vez eram menores. Tudo parecia seguir a Lei de Moore (na qual o número de transistores dos chips dobrava a cada 18 meses e o salto computacional permitia rodar muitos aplicativos pesados).

Ainda que os computadores se tornem melhores a cada ano, suas mudanças não são mais tão significativas quanto eram antigamente. Os grandes saltos diminuíram de ritmo, especialmente porque os softwares pararam de demandar uma constante evolução, mesmo os jogos ganharam cada vez mais flexibilidade em sua estrutura e dependem mais de componentes como placas de vídeo.

Por essas razões as pessoas pararam de comprar PCs adoidado, ainda que elas não tenham deixado de usá-los. O Windows XP manteve durante quase uma década e meia uma base de usuários gigantesca e satisfeita. Novos computadores eram adquiridos muito mais por necessidade, para trocar peças ruins etc., do que pela crença de que se teria algo novo muito melhor.

A lei de Moore como é colocada na Wikipedia.

A mudança do mercado de PCs se fixou muito mais na questão do preço. O que vemos foi a ascensão temporária do netbook como modelo de negócio, onde os consumidores abriram mão de qualidade para conseguir produtos cada vez mais baratos. Os tablets chegaram surfando um pouco nessa onda, pois eram simples de se produzir, mas podiam ser vendidos por um preço mais caro.

Eventualmente, os notebooks usuais começaram a diminuir tanto os seus custos que seus “primos” com menos recursos acabaram declinando até sumirem do mercado. Atualmente, tanto os laptops comuns, os ultrabooks e os desktops apresentam um valor acessível para o público.

O mais curioso de toda essa história é que os PCs levaram quase 30 anos para chegar em um estado de saturação, para os tablets o período foi bem mais curto, em apenas quatro anos já estamos vendo uma diminuição massiva das vendas nos principais mercados do mundo. Nos dias de hoje, já é possível adquirir estes dispositivos a um custo menor do que 100 dólares, e as companhias que produzem tablets top de linha como a Apple e a Samsung estão sofrendo para se manter competitivas em questão de inovação.

No fim, produtos como o iPad não eram o novo smartphone, mas sim o novo computador. Uma vez que você tem um, não existe motivo para comprar outro tão rápido. Seus desenvolvedores parecem sem ideias de como torná-los melhores, e o caminho que se segue é apenas barateá-los.

Outras causas para o declínio

Outro fator que tem se mostrado um problema para os tablets são os smartphones de tela larga. Enquanto os derivados do iPad são maiores, os celulares modernos já conseguem fazer tudo que eles fazem, com o adicional de funcionarem como telefone. E se pensarmos que podemos nos dar o luxo de ter uma tela maior, porque não comprar um laptop de alto desempenho que fará melhor tudo o que um tablet faz?

Este tipo de questão é certamente fundamental para entendermos porque estes dispositivos estão em franco declínio. Eles certamente conquistaram seu espaço no mercado e não deixaram de ser usados, mas dificilmente veremos um boom em suas vendas enquanto novas ideias não aparecerem.

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