Juicero: como uma máquina de fazer suco virou a startup mais odiada dos EUA

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O desenvolvimento da Internet das Coisas possibilita a criação de eletrodomésticos com acesso à internet e a venda de aparelhos "remodelados" que nunca antes precisaram de uma conexão. Em vários casos, a evolução tem sido bem adotada — termostatos, portas e câmeras de segurança estão aí para provar isso. Em outros, chega a ser irônico chamar determinados produtos de "inteligentes".

O caso mais recente dessa indústria é a Juicero, uma startup norte-americana cujo produto consiste basicamente em um "smartespremedor de fazer suco". Em vez de alimentos frescos, a máquina pega pacotes feitos pela própria empresa contendo misturas saudáveis e variadas de frutas e vegetais, esmaga o conteúdo e o libera em um copo.

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Até aí, tudo parece caminhar para um sucesso de investimento e vendas, certo? A arrecadação realmente se concretizou, mas as últimas semanas reservaram muitas pedras no caminho da empresa.

Prometeu e (mais ou menos) cumpriu

A Juicero surgiu em 2016 já como um estrondo. Levantou de cara mais de US$ 100 milhões em investimentos de grupos de grande porte do Vale do Silício e até de marcas do ramo alimentício, como as Sopas Campbell. A Alphabet, que reúne Google e suas empresas paralelas, também colocou algum dinheiro nela.

O serviço era de fato bem bolado: você paga uma vez pela máquina em si (que também se chama Juicero) com um lote inicial de pacotes de suco que mistura frutas e verduras saudáveis, e precisa constantemente repor essas embalagens — ou seja, sempre dando mais dinheiro para a companhia.

O CEO na época, Doug Evans, comparou o seu trabalho em uma entrevista ao de ninguém menos que Steve Jobs. Enquanto o cofundador da Apple transformou os computadores, ele faria o mesmo com espremedores de suco, tornando o produto pessoal, de design limpo e original, fácil de usar. Ambicioso e convencido demais? Talvez, mas a empolgação estava devidamente instalada.

Expectativa x realidade

O lançamento da Juicero já começou conturbado. O produto foi colocado à venda por US$ 699 (cerca de R$ 2,19 mil), um valor amargo para ter acesso aos sucos. Só para você ter uma ideia, ele custava lá fora mais do que um iPhone 7 hoje (US$ 649) e um pouco menos que um Galaxy S8 (US$ 720). Em pouco tempo, a empresa baixou para US$ 399 (R$ 1,2 mil), mas ainda está caro pelo que ele oferece.

A Juicero ainda se mostrou bem maior do que parecia, o que desanimou alguns investidores iniciais.

Só que a startup estava longe de desistir. O novo CEO, Jeff Dunn, chegou em outubro de 2016 com experiência como presidente da Coca-Cola e estava pronto para levar a Juicero à estabilidade. Restaurantes e hotéis firmaram parcerias e se diziam bem satisfeitos com o produto, que foi expandido para 17 estados norte-americanos. Aí veio o “Fatality” que derrubou de vez toda a reputação da marca.

O golpe fatal

Em 19 de abril deste ano, o site Bloomberg publicou uma matéria que descascou de vez a estratégia da Juicero. Seguindo a denúncia de alguns consumidores, os repórteres descobriram que qualquer pessoa podia fazer a mesma coisa que a máquina prometia (espremer um pacote e fazer suco sair do lugar) usando as próprias mãos no lugar do espremedor de US$ 399.

É claro que o conteúdo não fica exatamente igual e o processo manual demora um pouco mais do que usando a máquina, mas os copos com ambos os resultados não têm diferenças perceptíveis. E tem outro problema: você só pode comprar os pacotes de suco de US$ 7 (e que só fazem um único copo) se já for dono de uma máquina Juicero, sendo impossível adquirir somente as embalagens para espremer de outra forma — seja com outra máquina ou usando as próprias mãos.

Isso foi mais do suficiente para enfurecer imprensa internacional, investidores e quem pagou pelo produto. Em poucos dias, um eletrônico que era considerado caro, mas parecia original e promissor, virou uma das maiores piadas da Internet das Coisas.

O lado da Juicero

Dias depois da polêmica, Jeff Dunn quebrou o silêncio e tentou defender a companhia. Em um texto no Medium, ele defendeu que só o aparelho era capaz de fornecer o suco com maior qualidade. Afinal, só a máquina “pressiona os pacotes de forma calibrada por sabor para entregar a melhor combinação de gosto e nutrição”, além de conseguir ler os QR Codes da embalagem e enviar os dados para você e para a própria empresa, com o objetivo de gerenciar estoque e fazer um histórico do seu consumo.

Como você pode ver acima, ele até abriu um dos pacotes para mostrar que o conteúdo é orgânico, não um suco pronto. A desculpa foi considerada insuficiente, e Dunn prometeu reembolso para clientes insatisfeitos que quiserem devolver o espremedor.

O site Bolt também ajudou na defesa da Juicero, porém de uma forma mais técnica. Ao fazer um desmanche completo do espremedor, a equipe concluiu que ele traz “uma montagem complexa, com grande atenção aos detalhes” — algo que também pode ser visto como uma crítica, já que ele acaba sendo desnecessariamente perfeccionista.

A Juicero foi dissecada e, a partir daí, teve o segredo revelado.

Além disso, a engenharia para uma máquina aplicar a força necessária para espremer os pacotes também exige muito trabalho.

Se ela tivesse reunido investimentos menos estratosféricos, talvez o produto fosse mais modesto e bem-sucedido comercialmente e até acessível para mais mercados

Em resumo, ela funciona bem até demais para uma tarefa não muito complexa e, talvez por isso, custe tantos dólares. Mas o preço por essas decisões deve ser muito mais alto no futuro próximo, e a Juicero terá que de fato reinventar o mercado — pela primeira vez, já que não conseguiu isso até agora.

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