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Segurança

O alto preço da miopia digital | Coluna

O ataque à F5 expõe uma fragilidade estrutural: sem visibilidade real sobre ativos e integrações, empresas acumulam ferramentas, mas seguem vulneráveis a pontos que não conseguem enxergar.

Avatar do(a) autor(a): Arthur Capella - Colunista

schedule15/12/2025, às 14:30

O ataque recente à F5 não foi apenas mais uma falha técnica. Foi um lembrete brutal de que o mundo digital que construímos é frágil por natureza. Dependemos de um ecossistema de tecnologias interconectadas — softwares, APIs, provedores de nuvem, cadeias de terceiros — que cresce mais rápido do que nossa capacidade de entendê-lo. E quando não compreendemos o que realmente controlamos, deixamos a segurança à mercê da sorte.

Durante anos, o setor tratou segurança como um jogo de ferramentas. Muitos líderes ainda acreditam que investir em mais ferramentas é sinônimo de segurança. Mais firewalls, mais agentes, mais dashboards — e menos clareza. Criamos uma ilusão de proteção, onde as empresas parecem blindadas, mas continuam expostas em pontos invisíveis. E quando não se sabe exatamente o que está exposto, não há como proteger.

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Ataques como o da F5 não acontecem apenas por falhas técnicas, mas porque os invasores enxergam melhor do que as próprias vítimas o terreno onde operam. Eles veem o que nós ignoramos: sistemas esquecidos, APIs sem autenticação, credenciais expostas em repositórios públicos, e integrações que ninguém mais monitora.

O caso F5 é apenas a ponta de um iceberg. Ele mostra que a falha não está apenas no código, mas na forma como conectamos tudo sem entender o impacto. Vivemos um colapso silencioso da confiança digital — uma cadeia em que cada elo depende de outro igualmente vulnerável. E, no Brasil, essa realidade é amplificada pelo ritmo acelerado da transformação digital que não vem acompanhado por práticas de segurança à altura. O resultado é um ambiente fértil para ataques, com

sistemas legados convivendo com aplicações modernas, múltiplos provedores de nuvem sem governança unificada, APIs públicas mal documentadas e dispositivos IoT invisíveis às equipes de segurança.

Nesse cenário, o que ontem era um datacenter controlado hoje é um mosaico de provedores, containers e APIs rodando em países diferentes, com times que mal se falam. Não há perímetro para defender — há uma exposição para gerenciar.

É aqui que entra o gerenciamento de exposição: a nova base da resiliência digital. Ele não substitui a segurança tradicional — ele a redefine. Significa entender tudo o que está conectado, priorizar o que realmente importa e agir antes que o adversário o faça. Visibilidade sem contexto é apenas ruído; o que as empresas precisam é de clareza sobre onde estão vulneráveis e por que.

Transformar isso em prática corporativa exige disciplina: mapear continuamente todos os ativos, internos e externos, correlacionar vulnerabilidades com impacto real de negócio, monitorar a postura de segurança em tempo quase real e, acima de tudo, fazer da visibilidade um valor cultural — não um projeto temporário.

Cibersegurança não é mais sobre impedir o ataque — é sobre não ser pego de surpresa. Quem conhece sua exposição não é invencível, mas é imprevisível para o inimigo. E, no mundo digital, imprevisibilidade é poder.