Teia de Aranha: a ousada estratégia militar ucraniana que destruiu bombardeiros russos com drones
Operação envolveu contrabando de drones e estruturas falsas com tetos retráteis, danificando ao menos 40 aeronaves russas usadas em bombardeios

02/06/2025, às 14:00

A Ucrânia realizou neste domingo (1º) um ataque ao mesmo tempo sofisticado e rústico contra a Rússia, em uma operação militar de longo prazo que envolveu uma séries de drones. O sucesso da ação foi confirmado pelas forças militares ucranianas.
De acordo com o jornak Kyiv Post, que obteve informações com o Serviço de Segurança da Ucrânia, os equipamentos não tripulados atingiram 41 aeronaves inimigas de forma estratégica, todas elas estacionadas em bases militares e aeroportos. O ataque foi divulgado como uma resposta às constantes ofensivas contra o território ucraniano durante a tentativa de invasão, que começou em fevereiro de 2022.
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Como foi a Operação Teia de Aranha
O grande destaque da estratégia militar ucraniana com a operação foi a ousadia de atacar a Rússia dentro do seu próprio território, em vez de ser um ataque contra linhas de combate ou tentativas pelo ar de neutralizar armamentos. De acordo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a base de operações estava até mesmo próxima do Serviço Federal de Segurança da Rússia.
- Chamada de Spiderweb, ou "teia de aranha" em tradução livre, a operação ficou mais de um ano e meio em preparação e teve envolvimento direto de Zelensky;
- Na primeira fase, agentes secretos conseguiram entrar na Rússia com 117 drones e estruturas em madeira, que foram usadas para construir pequenas cabines falsas em territórios que levantavam poucas suspeitas. Eles foram armazenados em galpões alugados;
- Nos caminhões usados no transporte, a equipe instalou um teto retrátil com abertura ativada remotamente, para que os drones saíssem dos contêineres dos caminhões e fossem controlados já sem a presença dos agentes em território russo;
- No dia do ataque, os caminhões saíram dos esconderijos, foram levados para pontos próximos dos locais de ataque e depois abandonados pelos soldados infiltrados;
- Os drones usados continham, além de armamentos, um modo de visão em primeira pessoa (first person view, ou FPV). Cada um era controlado por um operador diferente;
- Os drones foram treinados a partir de sistemas de inteligência artificial (IA) para reconhecer as aeronaves inimigas. Até imagens de museus foram usadas para alimentar as bases de dados;
- Segundo a Ucrânia, os drones só atingiram alvos militares — mais especificamente, 34% dos aviões bombardeiros que estavam parados em bases militares da Rússia. Modelos como os Tu-95, Tu-160 e A-50 estão entre os destruídos ou atingidos;
- A base militar de Belaya, na região da Sibéria, foi um dos maiores alvos. Como a operação foi iniciada durante o dia e partiu do próprio território, o ataque dos drones também pegou os sistemas de defesa desprevenidos.
As consequências do ataque
De acordo com a Ucrânia, o prejuízo do ataque para as forças adversárias é visto como não apenas militar e financeiro — com ao menos US$ 6 bilhões (cerca de R$ 34 bilhões) destruídos em equipamentos de acordo com o país —, mas também para a moral das defesas russas. Como a operação foi iniciada durante o dia e partiu de locais muito próximos dos alvos, o ataque dos drones também pegou os sistemas de defesa desprevenidos.
Alguns trechos da operação compartilhados pelos militares da Ucrânia mostram drones sobrevoando bases militares já com alguns aviões com focos de incêndio. A base militar de Belaya, na região da Sibéria, foi um dos maiores alvos.
A operação foi vista ainda como uma resposta a um recente ataque aéreo realizado pela Rússia, considerado o maior desde o início da guerra. Ao todo, foram 355 drones e nove mísseis de cruzeiro russos usados na ofensiva, com os disparos neutralizados pela defesa ucraniana. Em março deste ano, foi a vez da Ucrânia fazer uma ofensiva parecida.
Até agora, o presidente Vladimir Putin não se manifestou, mas o governo confirmou que cinco regiões foram alvo dos ataques e classificou a operação como "ato terrorista". Nesta semana, representantes dos dois países devem se encontrar em uma nova rodada de reuniões para negociar uma trégua ou tratado de paz.
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Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.