Segurança

Celular de norte-coreano tem correção de 'termos ilegais' e prints a 5 minutos, mostra reportagem

Além de registrar as palavras digitadas e tirar prints a cada cinco minutos, as autoridades norte-coreanas podem confiscar os telefones.

Avatar do(a) autor(a): André Luiz Dias Gonçalves

02/06/2025, às 18:30

Autoridades da Coreia do Norte vigiam tudo o que os moradores do país fazem em seus celulares, inclusive tirando prints de tela várias vezes ao longo do dia e monitorando o que é digitado nos aparelhos. É o que revela uma reportagem divulgada pela BBC no último sábado (31).

O aparelho utilizado na análise que mostra como a população é controlada pelo governo foi contrabandeado do país liderado por Kim Jong-Un. No final do ano passado, o jornal Daily NK, da Coreia do Sul, conseguiu obter uma unidade para demonstrar a ação dos censores locais.

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Os celulares norte-coreanos são versões modificadas de aparelhos convencionais. (Imagem: Getty Images)

Como funciona um celular na Coreia do Norte?

Embora se pareça com um smartphone convencional, o telefone usado pelos norte-coreanos se revela um aparelho totalmente modificado assim que é ligado. O sistema instalado nele monitora tudo o que o usuário digita, podendo fazer correções automaticamente se identificar algo “ilegal”.

  • Durante o teste, o telefone emitiu alertas ao digitar o termo “oppa”, que significa irmão mais velho em coreano e é usado para se referir a namorado na gíria sul-coreana;
  • O celular o substituía pela palavra “camarada”, mais alinhada à ideologia norte-coreana, e avisava que “oppa” só pode ser usado no país em menção a irmãos mais velhos;
  • Correções também eram feitas ao digitar “Coreia do Sul” em qualquer app, com o sistema trocando-a pela expressão “estado fantoche”;
  • Outra ação de vigilância que chamou a atenção foi o aparelho realizando capturas de tela automaticamente de cinco em cinco minutos;
  • As imagens eram armazenadas em uma pasta oculta inacessível ao usuário, mas provavelmente aberta às autoridades, remotamente.

Segundo o relatório, esses são apenas alguns dos exemplos do controle rígido feito pela ditadura de Kim Jong-Un em celulares adquiridos pela população. O governo estaria se aproveitando da tecnologia para barrar as tentativas da Coreia do Sul de mostrar como a vida pode ser diferente fora dali.

“Os smartphones agora são parte fundamental da maneira como a Coreia do Norte tenta doutrinar as pessoas”, afirmou o especialista em tecnologia norte-coreana, Martyn Williams, à reportagem. Para ele, o governo de Jong-Un já está à frente na guerra de informações.

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Kim Jong-Un está de olho em tudo o que é digitado nos celulares do país. (Imagem: Getty Images)

Celulares também podem ser confiscados

Além de monitorar os smartphones remotamente, autoridades norte-coreanas podem confiscar celulares da população caso desconfiem de que as normas não estejam sendo seguidas. Foi o que aconteceu com Kang Gyuri, que fugiu do país em 2023, após ser perseguida.

A jovem teve o telefone vasculhado em busca de conteúdos proibidos no país. Ela também disse que era constantemente parada nas ruas devido ao uso de roupas e penteados que seguiam o estilo adotado na nação vizinha, onde mora atualmente depois de uma fuga de barco.

Vale lembrar que o governo da Coreia do Norte também proíbe a circulação de jornais estrangeiros e a veiculação de canais sediados no exterior. Porém, os moradores conseguem ter acesso às notícias de fora por meio de transmissões via rádio durante a madrugada, aproveitando o alcance das ondas curtas e médias.

Outra forma de ter contato com conteúdos gerados em outros países está nos cartões de memória e pendrives que cruzam a fronteira rotineiramente, geralmente disfarçados em caixas de frutas. Neles, há filmes e séries produzidas na Coreia do Sul, bem como músicas do estilo k-pop.

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Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.