Três cenários tecnológicos para acompanhar em 2023, segundo MIT

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Equipe TecMundo

Por André Miceli e Rafael Coimbra.

Mal começou o ano de 2023 e uma série de desafios já se apresentaram às empresas e ao ambiente corporativo. Enquanto as companhias de tecnologia tentam recuperar o valor de mercado que perderam ao longo dos últimos meses, os países já se deparam com a necessidade de equilibrar as condições macroeconômicas diante da série de mudanças que se impôs à economia mundial.

Para auxiliar nessa tarefa, as tecnologias digitais, imprescindíveis para a transformação digital, que nos últimos anos tem alterado de forma acelerada as dinâmicas sociais e empresariais, também ganharão mais espaço. Listamos aqui alguns cenários que devem se consolidar e, efetivamente, marcar o próximo ano.

Cenário 1 – Quando a tecnologia encontra a criatividade

O primeiro surge a partir de um movimento que ganhou força nos últimos meses: as tecnologias digitais derivadas da Inteligência Artificial Generativa.

O ano passado representou um ponto de virada no segmento de ferramentas de IA voltadas para a criação. São máquinas que elaboram textos, vídeos, músicas, fotos e imagens, que vêm sendo aprimoradas ao longo dos últimos anos.

Um dos destaques nessa área foi a OpenAI, criadora do Generative Pre-Training Transformer 3, ou GPT-3, um modelo de linguagem que usa aprendizagem profunda para produzir textos. A mesma empresa desenvolveu a tecnologia DALL-E, um sistema de IA que pode criar imagens e artes realistas a partir de uma descrição em linguagem natural. Muitas outras iniciativas, no entanto, trouxeram visibilidade para esta tecnologia ao longo dos últimos meses.

O que vem agora é uma grande mudança de paradigma, pois o que estava ainda em fase de testes começa a ser disponibilizado para o público. Estamos vivendo um movimento de popularização da Inteligência Artificial. Um exemplo é o grande sucesso experimentado no Brasil por aplicativos como o Lensa, que transforma fotos em avatares realistas; e o ChatGPT, chatbot da OpenAI capaz de manter uma conversa fluida com os usuários.

Se por um lado essa popularização ajuda as empresas a recolher  mais dados sobre os usuários, por outro, leva a um maior entendimento de como melhorar esse serviço. O resultado é uma evolução cada vez mais veloz e acurada da tecnologia. A partir dessas experiências iniciais, a tendência é que surjam uma série de aplicações mais práticas, que mudam todo um segmento da Indústria Criativa. Quem trabalha com texto, imagem e design será diretamente impactado a partir de 2023.

São mudanças que, para parte dos especialistas, acendem o alerta para impactos no mercado de trabalho. Mas que também apontam o uso da Inteligência Artificial Generativa como um copiloto. Isso porque a tecnologia não vai necessariamente fazer tudo que faz um profissional da área criativa, mas servirá como um apoio para aprimorar o trabalho feito por um ser humano. E assim, poderá representar, nos setores que envolvem a criatividade, uma explosão de soluções e ferramentas.

Cenário 2: A crescente importância da cibersegurança

Outro cenário que ganha importância evoca não uma, mas um conjunto de tecnologias usadas num contexto de desafios e oportunidades no que diz respeito à cibersegurança. Há um movimento nas empresas que indica uma mudança de cultura em relação ao tema, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.

Um estudo elaborado pela MIT Technology Review Insights avaliou como 20 das principais economias do mundo adotam práticas tecnológicas para aumentar a resistência contra ataques cibernéticos, apontando que o Brasil, que ocupa o 18º lugar do ranking, vem aos poucos aprimorando suas práticas acerca da segurança digital.

cibersegurançaSerá preciso um investimento maior em cibersegurança para garantir, mais camadas de proteção aos dados tanto dos usuários como de empresas. Fonte: Gettyimages

Um dos grandes desafios apontados pelos especialistas está ligado à complexidade dos investimentos em segurança cibernética. Os gastos irão aumentar não só porque as empresas entenderam que será preciso investir mais — já que os riscos têm aumentado — mas também porque é preciso olhar para um conjunto maior de aspectos. Assim, a adoção de tecnologias como IA e machine learning de maneira mais efetiva vai compor eficientemente algumas das camadas de proteção.

Da mesma forma, haverá um aumento do investimento na capacitação das pessoas para superar um dos grandes desafios do ano: levar as pessoas para o centro das estratégias de segurança digital.

Os indivíduos são cada vez mais uma peça fundamental nesse processo de ciber resiliência, e sua associação ao uso dessas tecnologias se tornou fundamental.

Há ainda um fator geopolítico, sublinhado pelos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que ampliou significativamente o volume de ataques cibernéticos mundo afora. Além disso, 2023 é um ano de eleições em muitos países, o que coloca os Estados alertas em relação a possíveis guerras cibernéticas, tanto em relação às estratégias de defesa como de ataque, podendo gerar consequências inevitáveis para algumas empresas.

Cenário 3: O avanço dos SuperApps

Outro cenário que deve ganhar destaque em 2023 é o início do desenvolvimento de SuperApps nos países do ocidente, algo bem estabelecido na China hoje. Um SuperApp é como um ecossistema, uma grande plataforma que reúne vários aplicativos conectados. Como uma versão tecnológica do canivete suíço, esse tipo de aplicativo utiliza várias ferramentas que compartilham finalidade, trocam dados e podem ser utilizadas conforme a demanda.

O fato de serem executados na mesma plataforma facilita a integração e a personalização das experiências dos usuários, o que representa, uma grande vantagem, mas também um enorme desafio por causa das questões de privacidade de compartilhamento de dados entre essas várias ferramentas.

Levado ao universo corporativo, permite a integração de ferramentas que controlam o fluxo de trabalho, a colaboração entre os funcionários da empresa, as plataformas de mensagens, os sistemas de pagamento, a integração com CRM, e várias outras possibilidades.

Evidentemente, haverá a integração de tecnologias como IA, IoT, 5G, e experiências imersivas, como o metaverso. O fato é que, oferecendo tecnologias próprias ou integrando tecnologias de terceiros, existe a possibilidade inclusive de segmentação da atuação desse tipo de aplicativo.

Pode-se ver, por exemplo, a ascensão de um SuperApp de streaming, um grande consolidador com papel análogo ao que a TV a cabo teve num determinado momento. Ou ainda um grande SuperApp de pagamentos e investimentos, impulsionado pelo Open Banking.

O empresário Elon Musk já se posicionou dizendo que ele pode tirar da gaveta um plano que tinha para o PayPal há mais de 20 anos. Em outubro, pelo Twitter, ele afirmou que a compra do aplicativo de mensagens “é um acelerador para a criação do X, o aplicativo de tudo.”

O caminho, no entanto, especificamente para o Twitter, ainda é cheio de curvas muito sinuosas. Mas, ao que parece, há uma tese de negócio que já vem sendo validada na China, onde o WeChat incorporou todos os serviços da internet que alguém possa desejar: pagamento digital, compras, streaming, fazer networking, serviços de transporte.

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André Miceli é Mestre em Administração com ênfase em sistemas de informação, conta com um MBA em Marketing e outro em gestão de negócios - todos pelo Ibmec - , é certificado pela Harvard Law School (programas de negociação), pelo Instituto de Massachusetts (gestão inovação e tecnologia) e conta com um programa de extensão no instituto de economia da UFRJ. Também é válido destacar que Miceli atua como Coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da FGV, é CEO e Editor Chefe do MIT Technology Review Brasil e de Portugal, fundador da Infobase Consulting e da IInterativa.

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Rafael Coimbra é Jornalista (PUC-RJ), mestrando em Engenharia de Produção (PEP/Coppe UFRJ) e pós-graduado em Análise de Conjuntura (UFRJ) e com MBA em Marketing Digital (FGV), Rafael Coimbra é diretor-executivo do TEC Institute e editor-executivo de Conteúdos Digitais da MIT Technology Review. Ao longo de sua carreira, atuou por 23 anos como repórter especial, apresentador e comentarista de tecnologia, da TV Globo e é autor do livro: "Cérebro Digital".

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