Ex-diretor diz que Facebook discrimina negros dentro e fora da empresa

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O ex-diretor de parcerias estratégias para influenciadores globais da companhia Mark S. Luckie afirmou que o Facebook mantém práticas discriminatórias em relação a trabalhadores e usuários negros. Ele divulgou nesta semana o manifesto que enviou a todos os funcionários do Facebook ao redor do mundo no dia 8 de novembro, antes de deixar a companhia.

No texto, Luckie afirma que “o Facebook tem um problema com pessoas negras” e cita a negligência da empresa em casos como conteúdos e perfis de negros sendo removidos sem aviso e de maneira definitiva. Ele cita casos que ganharam a atenção da empresa após destaque na mídia, como a página falsa do movimento Black Lives Matter.

“Pessoas negras estão descobrindo que as suas tentativas de criar ‘espaços seguros’ dentro do Facebook para conversarem entre si estão sendo descarrilhadas pela própria plataforma”, escreve o ex-diretor.

E, segundo Luckie, tudo isso acontece apesar de os negros comporem um dos públicos “mais engajados” no Facebook nos Estados Unidos, “superando de longe outros grupos na plataforma em uma imensa quantidade de métricas de engajamento” — ele cita pesquisas independentes de grupos como Pew Research Center e Nielsen para defender esse ponto.

Problema ‘sistemático’

Para Luckie, há uma perseguição sistemática contra minorias sociais no Facebook. “Você pode ver isso refletido em tudo, em uma lista de convidados de um programa externo do Facebook, em criadores e influenciadores que aparece na aba Explorar, do Instagram, nos superusuários que estão [com páginas] verificadas e muito mais”, escreve.

O ex-diretor cita, ainda, os problemas da empresa em criar um ambiente inclusivo dentro da rede social, usando alguns de seus trabalhadores negros para fazer marketing durante exibições públicas.

“Embora mudanças incrementais estejam sendo realizadas, o fato é que a população de funcionários do Facebook não reflete a sua base de usuários mais engajada. Muitas vezes há mais diversidade nos keynotes do que as equipes que os apresentam”, registra Lucki.

“Em alguns edifícios há mais pôsteres do “Black Live Matter” do que pessoas negras de verdade. O Facewbook não pode afirmar que está conectando comunidades se essas comunidades não estiverem proporcionalmente representadas em sua equipe”, complementa.

mark luckieMark S. Luckie, ex-diretor de parcerias do Facebook, acusa empresa de manter práticas discriminatórias contra negros. (Fonte: Facebook/Mark S. Luckie)

O ex-funcionário do Facebook prossegue e afirma que negros são comumente repreendidos por agirem da mesma forma que seus colegas não negros.

“No meu período na companhia, eu ouvir diversas histórias de funcionários negros de que um colega ou gerente os chamou de ‘hostil’ ou ‘agressivo’ pelo simples compartilhamento de ideias de um jeito nada distinto do de seus colegas de equipe não negros”, escreve Luckie.

“Alguns empregados disseram terem sido especificamente convencidos por seus gestores a não se tornarem ativos no grupo [interno] Black@ ou fazerem ‘coisas de negro’, mesmo que isso acontecesse fora do seu horário de trabalho”, comenta.

Recomendações

Ao final do texto, Luckie faz recomendações para solucionar os problemas levantados no seu manifesto. Ele cita, por exemplo, que os índices demográficos do Facebook deveriam ser refletidos nas políticas de parcerias e afins da empresa, a criação de um canal interno para denúncias anônimas relacionadas à discriminação e que negros não sejam convidados para eventos apenas por motivo de “diversidade”.

Controvérsia

No Twitter, Luckie publicou uma série de capturas de tela de uma conversa mantida com Ime Archibong, novo chefe de parcerias do Facebook. Na troca de mensagens, Archibong afirma que o ex-colega foi “egoísta e dissimulado” em seu texto e que a publicação do manifesto tinha como objetivo servir a uma “agenda própria”.

Archibong respondeu Luckie no Twitter e garantiu “manter tudo” o que disse na conversa e que “há sempre mais trabalho a ser feito”. Entretanto, ele reconheceu que pessoas diferentes podem ter experiências diferentes na vida.

“Como na vida, nós todos temos experiências diversas e eu não posso falar pela sua experiência pessoal no Facebook — mas a sua experiência não é a minha nem a de muitos outros aqui. Para qualquer um de nós, afirmar que a nossa experiência é representativa de todas as experiências aqui é simplesmente falso”, finalizou.

O Facebook ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.

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