Pergunte a si mesmo: se amanhã sua empresa extinguisse o departamento de inovação, o que realmente deixaria de existir? Para a maioria das companhias, a resposta é vaga e desconfortável, focada mais no processo do que no resultado. Traduzindo: pouca gente sabe, de fato, o que está fazendo quando o assunto é inovar.
A maioria das empresas não consegue dizer, de forma objetiva, se suas iniciativas geram resultados reais. E aqui não estamos falando de ideias interessantes, mas de impacto no negócio: geração de novas receitas — com produtos e serviços inéditos —, redução de custos, aumento de eficiência operacional e mitigação de riscos. Sem isso, inovação é apenas um gasto disfarçado de futuro.
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Quando inovar vira apenas um rótulo
Mas por que isso acontece? Porque, ao longo dos anos, esse investimento foi tratado como um rótulo — uma forma de parecer moderno aos olhos do mercado. Só que o cenário mudou. O ciclo do hype acabou. Em tempos de economia pressionada, com tarifas altas, juros elevados, cortes de orçamento e demissões em massa, a pergunta que realmente importa é: o departamento de inovação deveria ser o primeiro da fila a ser cortado?
Minha visão: depende. Se, na sua empresa, ele existe apenas “para inglês ver”, sim — corte sem dó. Mas, se entrega valor tangível, reduz custos e gera resultados, deveria ser blindado como qualquer outro departamento essencial, como vendas, marketing ou operações.
Da sobrevivência ao impacto: o novo papel da inovação
Olhe ao redor: grandes companhias brasileiras já estão fechando fundos, desativando labs e redirecionando verbas. Isso não representa o fim da transformação, mas um ajuste necessário para manter apenas o que funciona. O que sobrevive é a inovação aberta com startups, soluções que entregam resultados no curto prazo e comprovam ganhos de eficiência.
Os números confirmam esse movimento. A parcela de indústrias brasileiras que inovaram em produtos ou processos caiu para 64,6% em 2023, segundo a Pesquisa de Inovação (Pintec), do IBGE. O percentual vem diminuindo: era de 68,1% em 2022 e 70,5% em 2021. Ou seja, apesar do discurso, o ritmo da inovação está desacelerando.
Mas a resposta não é parar de inovar — e sim inovar de forma mais assertiva. Um estudo da McKinsey realizado no Brasil em 2024 com mais de 200 empresas listadas na B3 revelou que 81% das companhias com maior crescimento mantêm forte conexão com a inovação, por meio de mecanismos como hubs e Corporate Venture Capital (CVC). Investir de forma estruturada e alinhada ao negócio continua sendo um diferencial competitivo.
A provocação que deixo é simples: o que sua inovação entregou nos últimos 12 meses que você pode apresentar ao conselho, em números? Se a resposta for “não sei”, está na hora de mudar a rota.
No fim das contas, a pergunta que todo CEO deveria se fazer não é se deve ou não cortar a inovação, mas se ela está estruturada para resistir a qualquer corte. E essa resposta só aparece quando é possível mostrar impacto de forma clara.
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