Pono: player para audiófilos de Neil Young chega às prateleiras

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Imagem: PonoPlayer

Aparentemente, o Pono talvez não chame muita atenção. Afinal, trata-se apenas de um aparelho de tamanho moderado com uma tela sensível ao toque bastante convencional. Entretanto, basta olhar para os números arrecadados pelo projeto do cantor Neil Young no Kickstarter para entender que há algo de distinto ali.

Com a promessa de despejar músicas em “qualidade superior à do CD”, o player conseguiu alcançar sua meta de US$ 800 mil em menos de um dia — alcançando o valor impressionante de US$ 6,2 milhões ao final do período de angariação.

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Bem, após algum tempo de desenvolvimento, eis que o Pono finalmente fez sua estreia no mercado. Entretanto, o aparelho foi disponibilizado inicialmente em apenas 80 varejistas, podendo ser adquirido pela “bagatela” de US$ 399. Quem resolver gastar o montante, levará para casa um objeto triangular com acabamento nas cores amarelo e preto — ou com carcaça completamente transparente, caso você tenha sido um dos primeiros apoiadores do projeto.

Streaming com qualidade de vinil

Conforme colocou o site The Verge, o desempenho do Pono não é totalmente livre de “engasgos”. Igualmente, além dos 64 GB de memória interna — expansível até 128 GB por meio de um cartão micro-SD —, a criação de Neil Young também não representa nenhum colosso tecnológico. Mas, tudo bem. Essa realmente não é a ideia.

Assim como o próximo (e caro) Walkman, da Sony, a ideia do Pono é oferecer uma plataforma para aquisição de faixas de música em qualidades superiores às encontradas via streaming ou em lojas virtuais tradicionais. De fato, as músicas para o aparelho trazem qualidade superior mesmo àquela encontrada em CDs. Trata-se de faixas gravadas em 24 bits e a 192 kHz — em vez dos 16 bits a 44,1 kHz encontrados na mídia física.

Preço salgado pela qualidade adicional

Mas há um preço por isso, naturalmente. Além do gasto inicial considerável com o aparelho, um audiófilo interessado na formula de Young ainda terá que despender quantias consideravelmente superiores por cada álbum ou faixa individual que adquirir. O álbum mais recente de Jack White, por exemplo, sai por US$ 24,99 na recém-inaugurada loja virtual do Pono. Para efeitos de comparação, o mesmo disco pode ser adquirido por US$ 10,99 no iTunes.

Já a edição de luxo do álbum Led Zeppelin IV, que pode ser adquirido por US$ 13,99 no iTunes, sai por US$ 27,49 na loja do Pono. O mesmo vale para o novo álbum da cantora Taylor Swift: são US$ 19,79 contra US$ 12,99 na loja da Apple e US$ 12,49 na Google Play.

Outro fato que pode fazer com que alguns usuários torçam um pouco o nariz é a impossibilidade de comprar algumas músicas separadamente. Embora algumas faixas possam ser adquiridas à parte por valores entre US$ 1,99 e US$ 2,99, muitas, muitas delas — incluindo praticamente toda a obra do próprio Neil Young — precisam ser compradas juntamente com o restante dos álbuns.

LCD, botões físicos e algum espaço

Conforme mencionado anteriormente, o Pono dificilmente representaria um primor tecnológico por si só. Trata-se, afinal, de um pequeno monitor de LCD, onde se navega com velocidade apenas razoável. Ademais, alguns poucos botões físicos dão conta do restante dos controles — enquanto que uma saída de áudio extra permite que você compartilhe suas faixas com algum bom amigo.

Em relação ao espaço de armazenamento, entretanto, a noção de que seria possível armazenar muita coisa ali pode ser ilusória. Afinal, mesmo com seus 64/128 GB de espaço, o dispositivo ainda é capaz de guardar apenas entre 100 e 500 álbuns na qualidade ofertada pelo serviço exclusivo (embora você também possa utilizar suas próprias faixas de áudio). Tudo para que você possa “experimentar as músicas na qualidade que o artista intencionou, (...) com o máximo de qualidade digital possível”, conforme as palavras de Young.

Pono traz ainda um circuito analógico que promete corrigir eventuais deficiências de amplificação encontradas entre alguns fones de ouvido menos parrudos. Por fim, o prato cheio para os ouvidos mais sensíveis é completado por uma fonte de energia separada e de baixo ruído.

Músicas cara na era do streaming

Vender músicas a preços relativamente elevados em uma era tornada notória pelos serviços de streaming e de venda de CDs a preços de banana poderia assustar mesmo um empreendedor particularmente audacioso. Mas esse não é o caso de Neil Young.

“Eu não tenho ouvido música durante os últimos 15 anos porque eu odeio a forma como elas soam; irrita-me e eu não consigo mais desfrutar isso”, disse o cantor durante a última edição da feira CES. Young faz questão de frisar que o Pono existe unicamente porque ele realmente quis — sentimento que, é claro, foi compartilhado por um número avassalador de contribuidores durante o período no Kickstarter.

“Eu sou um músico”, ele continua. “Eu quero que as pessoas ouçam a minha arte. Muitas pessoas se sentem da mesma forma. Da minha parte, considero isso um sucesso apenas por ter chegado a existir.”

E o sistema deve se tornar mais ubíquo em breve. O Pono passou a trabalhar com a companhia de áudio Harman, a fim de levar a tecnologia para os veículos em que o Harman é instalado — de forma que deve ser possível ouvir músicas “com qualidade superior à do CD” em vários lugares dentro de um futuro próximo.

“O Pono é para mim?”

Uma matemática básica revela rapidamente que o Pono não representa uma escolha fácil para grande parte dos bolsos. Afinal, além dos US$ 399 pagos pelo aparelho, ainda há uma quantia substancial a ser gasta por cada novo álbum e por cada nova música — assumindo-se que a sua faixa escolhida seja vendida separadamente pela loja exclusiva do aparelho.

Ok, é verdade que é possível utilizar o player para tocar quaisquer faixas digitais. Mas, nesse caso, você provavelmente pagará caro por um tocador de música mediano com dimensões excêntricas.

Dessa forma, vale enxergar o projeto de Neil Young menos como um aparelho e mais como uma nova proposta comercial. Uma proposta que tem um público muito bem definido — de forma que, caso você não advogue por amplificação a base de válvulas e pelo “som quente” dos vinis (em oposição aos formatos digitais mais restritivos), talvez você simplesmente não se encaixe entre os audiófilos idealizados pelo cantor.

Entretanto, qualquer um que lamente a perda progressiva de qualidade experimentada pela era digital poderia facilmente encontrar no Pono um respiro interessante — considerando-se que o sistema realmente possa vingar durante os meses e anos vindouros. É esperar para ver.

Especificações técnicas do PonoPlayer

  • Tela de LCD
  • 64 GB de armazenamento interno (expansível até 128 via cartão micro-SD)
  • Duas entradas de áudio
  • Formatos suportados: FLAC (alta definição), AIFF, AAC, ALAC, MP3 e WAV
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