Os Assassinos da Lua das Flores: veja crítica do filme indicado ao Oscar

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Lançado em 19 de outubro de 2023 nos cinemas brasileiros, Os Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, no original) marca o retorno triunfal de um dos maiores nomes da história do cinema: Martin Scorsese.

Após o lançamento de O Irlandês (The Irishman), em 2019, o lendário diretor voltou às telonas quatro anos depois em grande estilo, com uma obra sensível, histórica e altamente competente, que recebeu, inclusive, nada mais, nada menos do que 10 indicações ao Oscar 2024.

Produzido pela Apple Studios e com roteiro assinado pelo próprio Scorsese, ao lado de Eric Roth e David Grann, Os Assassinos da Lua das Flores narra uma trama real e se baseia no livro homônimo do escritor norte-americano David Grann, lançado em 2017, responsável por resgatar uma das histórias mais trágicas e tristes dos Estados Unidos. Inclusive, o longa consegue respeitar bastante os fatos de sua fonte original.

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A trama de Os Assassinos da Lua das Flores

Em Os Assassinos da Lua das Flores, de maneira resumida, conhecemos a história do povo indígena Osage, que se assentou no estado de Oklahoma, nos Estados Unidos, em busca de paz e prosperidade. Algo que eles conquistam rapidamente após descobrirem grandes fontes de petróleo em suas terras, o que fez dos Osage o povo com maior patrimônio financeiro per capita do planeta.

Porém, a surpreendente descoberta e riqueza adquirida pelos indígenas não foi tão bem aceita assim pelo "povo branco" que habitava a mesma região, o que desencadeou uma série de assassinatos misteriosos dos Osage.

Neste cenário caótico e complexo, surge Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), um veterano da Primeira Guerra que retorna do combate e encontra abrigo na fazenda de seu tio rico e influente, William Hale (Robert De Niro), que fica localizada justamente na região Osage.

Pouco tempo depois, após seguir os conselhos do tio, Ernest se casa com Mollie (Lily Gladstone), uma das quatro irmãs Osage que, em conjunto com sua mãe, Lizzie Q (Tantoo Cardinal), eram donas de um dos maiores patrimônios do estado.

A partir deste ponto, Os Assassinos da Lua das Flores nos mostra como se desenvolve o casamento entre Ernest e Mollie, os reais planos de William, a rica história dos Osage e, claro, investiga os assassinatos misteriosos que assolaram os indígenas norte-americanos.

Eles, mesmo tendo se tornado um dos povos mais ricos do mundo, ainda corriam riscos e eram alvos constantes de ataques e preconceitos (mesmo que estes fossem muito bem escondidos por quem estava ao seu redor).

Os Assassinos da Lua das Flores: uma obra necessária, coesa e digna de elogios

Com mais de três horas de duração, Os Assassinos da Lua das Flores vale cada um de seus minutos, apesar de seu ritmo mais cadenciado. Diferente de outras obras consagradas de Scorsese, como Os Bons Companheiros (1990), O Lobo de Wall Street (2013) e Os Infiltrados (2006), por exemplo, o longa de 2023 não apela para sequências de ação ou de comédia para empolgar ou divertir, tampouco para reviravoltas malucas para chocar.

Pelo contrário, Os Assassinos da Lua das Flores é uma adaptação bem fiel à publicação de Grann, se preocupando em contar a real história dos Osage e de tudo o que aconteceu entre 1921 e 1926, quando cerca de 60 membros da nação indígena foram assassinados.

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Desta maneira, Scorsese consegue organizar os fatos do livro de maneira extremamente coesa, criando uma narrativa linear e de simples entendimento (o que é ótimo e preferível para que todos que assistam ao filme tenham uma noção clara do que aconteceu com os Osage).

Misturando elementos históricos, românticos, investigativos e dramáticos, que culminam em uma obra de várias facetas, o filme pode ser encarado como um belíssimo registro histórico, uma tragédia romântica, um suspense competente e, pontualmente, até um western.

Esta organização, aliás, é bem visível durante os três atos do filme. No primeiro deles, conhecemos Ernest, William, Mollie e os demais personagens centrais da obra, bem como a dinâmica entre eles. Também vemos como está a vida dos Osage após o descobrimento do petróleo, quando ocorre uma inversão social interessantíssima: os indígenas, com dinheiro, se tornam a elite econômica da região, enquanto os brancos, até então acostumados a viver por cima, passam a ser subalternos e não mais a classe dominante.

E, logo neste primeiro ato, a narrativa deixa claro que isso era visto como um "problema" pelos brancos.

Mas, afinal, como os brancos poderiam minar a dominância indígena? Bem, como denota o ditado, se você não pode vencê-los, junte-se a eles. E foi exatamente isso o que aconteceu na época. Homens brancos de todo o país se encaminhavam para Oklahoma com um objetivo bem claro em mente: explorar os novos ricaços e, se possível, casar com as milionárias, herdando, posteriormente, suas posses, terras e direitos.

Mas para que isso fosse possível, as mulheres indígenas detentoras de riquezas precisavam morrer em algum momento. E é aí que os assassinatos se intensificam, mostrando toda a crueza, frieza e maldade que a ganância pode causar.

Ganância, aliás, que é muito bem personificada por William Hale, o tio de Ernest. Afinal, era ele quem colocava uma máscara de bom moço e, nos bastidores, orquestrava as mortes de vários Osage a fim de que sua família (e ele, principalmente) assumisse o controle de seus bens.

Ernest, por outro lado, apesar de ajudar o tio, não poderia ser considerado exatamente um homem puramente ganancioso (apesar de ter culpa, sim). Ele diz amar dinheiro, mas a verdade é que a figura vivida por DiCaprio se apresenta como um homem de pouquíssima inteligência e extremamente manipulável. E, quando ele percebe o que seu tio fez e o seu papel dentro de todo o esquema, já é tarde demais.

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Neste sentido, DiCaprio faz um ótimo trabalho ao entregar um Ernest que não apenas deixa transparecer sua estupidez por várias vezes, mas que também tem uma certa dualidade. Repare, por exemplo, em como ele está quase sempre com um olhar vago, um sorriso contido (nunca genuíno) e uma expressão apreensiva, como se soubesse que o que está fazendo não é certo (diferente de seu tio, que parece já ter abraçado seu lado ruim).

Por outro lado, Gladstone também brilha ao interpretar uma Mollie determinada, segura e que parece disposta a dar uma chance aos brancos antes de tomar decisões mais drásticas (como ela faz com Ernest, se casando com o rapaz mesmo sabendo que este tinha interesse em seu dinheiro).

Aliás, é interessante notar como Mollie personifica toda a dor dos Osage, representando não apenas uma mulher forte, mas todo um povo. Não à toa, ela vai ficando cada vez mais doente conforme mais indígenas vão morrendo (doença, aliás, que é agravada por seu próprio marido, um homem branco).

Por fim, Os Assassinos da Lua das Flores não só resgata uma história essencial, mas também apresenta uma identidade cultural riquíssima aos espectadores. Em nenhum momento o filme negligencia os costumes e tradições dos Osage. Pelo contrário, tenta mostrar tudo da maneira mais real e autêntica possível, apresentando um respeito louvável à trajetória daquele povo e ao seu sofrimento.

Em suma, o longa trata de vários temas diferentes, incluindo política e ganância, mas, em sua essência faz algo que já deveria ter sido feito há muito tempo: honra a história de um povo forte e guerreiro que teve lidar com o descaso e a maldade.

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Fontes

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