Men: o filme de terror que vai assombrar sua mente (crítica)

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Imagem: A24

Se você também é um cinéfilo de plantão, já deve saber que a produtora A24 é responsável por alguns dos filmes mais interessantes dos últimos anos, especialmente no gênero de terror. Hereditário, Midsommar, X – A Marca da Morte e A Bruxa, por exemplo, são obras que fazem parte do ótimo catálogo da marca, que segue estendendo seu alcance dentro do cinema de horror com novos títulos a cada ano.

Entre as novidades de terror mais recentes da A24, está o filme Men: Faces do Medo, lançado em setembro de 2022. Concebido no Reino Unido, o longa foi escrito e dirigido por Alex Garland, que também deu vida aos envolventes Ex_Machina: Instinto Artificial (2014), Aniquilação (2018) e Extermínio (2002).

Men, contudo, difere muito dos trabalhos anteriores de Garland ao trazer uma narrativa mais intimista, dramática, centrada em pouquíssimos personagens. Porém, não se engane: Faces do Medo entrega muito, mesmo com poucos elementos, e não deixa de assustar ao mesmo tempo em que tece críticas pesadas e pertinentes. Mas falo mais sobre isso daqui a pouco.

Antes disso, que tal entendermos um pouco mais sobre a trama de Men e o porquê dessa história ter dado o que falar em 2022, hein? Vamos nessa!

O que é Men: Faces do Medo?

A trama de Men: Faces do Medo é bem simples, na verdade. Nela, acompanhamos a personagem Harper (Jessie Buckley), uma mulher de meia-idade que aluga uma casa de campo nos arredores de Londres a fim de relaxar. Até aí, tudo certo. Porém, o motivo para ela “fugir” de Londres em busca de paz é assombroso: ela testemunhou o suicídio do próprio marido, James (Paapa Essiedu).

Após uma tremenda discussão, Harper diz que irá se divorciar de James e que não aguenta mais o comportamento do amado que, de amoroso, não tem nada. Isso porque, ao longo da narrativa, descobrimos que James era um cara extremamente obsessivo, possessivo, ciumento e violento. Motivos que levam Harper a querer a separação.

James não aceita a decisão da moça e, como “resposta”, se joga do prédio em que o casal morava, enquanto Harper está dentro de casa, vendo tudo da janela de seu apartamento. Traumatizada pelo episódio, ela decide dar um tempo de tudo e ir para a tal casa isolada no interior para esquecer o que aconteceu, se é que isso é possível.

Na residência calma, cercada de árvores, plantas e silêncio, Harper conhece o locador do espaço, Geoffrey (Rory Kinnear), um homem levemente esquisito e prestativo que, a princípio, parece inofensivo. Ele mostra a casa para Harper, dá dicas do que fazer na região e faz questão de mostrar que está sempre disponível, caso ela precise.

O único contato da protagonista com a “realidade” se dá por meio digital, nas conversas diárias pelo celular ou pelo notebook que ela tem com sua melhor amiga, Riley (Gayle Rankin), com quem compartilha sua experiência e seus pensamentos.

A estadia de Harper vai bem, até o momento em que ela dá de cara com a figura de um homem nu e assustador em um túnel durante uma caminhada na floresta que cerca a residência. A partir daí, o rapaz passa a segui-la e uma série de bizarrices começa a acontecer, colocando Harper em grande perigo.

Men consegue assustar ao passo em que trata de um tema social relevante.Men consegue assustar ao passo em que trata de um tema social relevante.Fonte:  A24 

ATENÇÃO: A PARTIR DE AGORA, O TEXTO TERÁ SPOILERS DE MEN: FACES DO MEDO. NÃO CONTINUE A LER SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU O FILME!

Análise narrativa e crítica de Men: Faces do Medo

Men é um soco no estômago, do início ao fim. Garland foi muito assertivo e eficaz ao criar uma obra que consegue não apenas causar medo e tensão, mas que também possui várias camadas narrativas, uma vez que a trama é uma grande alegoria, com diversas críticas e metáforas, sobre um tema principal: os comportamentos tóxicos dos homens em relação às mulheres.

Nesse sentido, o título do filme já entrega bastante, já que a obra retrata, essencialmente, homens e suas diferentes faces problemáticas frente a figuras femininas. Durante a história, portanto, Garland se preocupa em expor como determinados padrões e ações masculinas podem afetar e prejudicar mulheres, que não deveriam ter que "aguentá-las", mas que, infelizmente, ainda são seus principais alvos.

Para sintetizar essa ideia central, Men utiliza a protagonista Harper como uma espécie de "cobaia" e principal alvo de diversos males e atitudes terríveis. Primeiro, ela é abusada emocionalmente e fisicamente por seu marido, James, que, como já citado aqui, é ciumento, violento e imaturo emocionalmente. Quando ela decide, finalmente, deixar o homem, ele a chantageia emocionalmente e diz que irá se suicidar caso ela parta. O que ele faz, jogando toda a "responsabilidade" do casamento falho nas mãos de Harper (o que, claro, não é culpa dela).

Após essa primeira experiência horrível, Harper tenta se recompor, mas seu trauma apenas aumenta à medida em que ela tem contato com outros homens ao longo da narrativa, todos interpretados por Kinnear, que faz um ótimo trabalho ao viver diferentes personagens, todos com peculiaridades e características distintas, mas igualmente assustadores.

As interações de Harper com outros homens durante Men mostram comportamentos problemáticos.As interações de Harper com outros homens durante Men mostram comportamentos problemáticos.Fonte:  A24 

Ao retratar todos os personagens masculinos do filme através do mesmo ator, Garland passa a mensagem de que comportamentos tóxicos podem estar presentes em todos os homens. Ou seja, eles seriam iguais a partir do momento em que escolhem, conscientemente ou não, reproduzir as mesmas atitudes problemáticas.

E essa ideia é reforçada ainda mais na bizarra sequência final do longa, em que homens vão nascendo uns dos outros (sim, literalmente), dando a entender que essa toxicidade masculina em relação às mulheres seria cíclica e passada de geração para geração. E, enquanto esse padrão não for quebrado, nada mudará.

E o filme acerta ao deixar bem claro quais seriam alguns desses padrões comportamentais durante as interações de Harper com figuras masculinas. O padre, por exemplo, diz a ela que a culpa do suicídio de James é, de fato dela, já que ela não teria dado outra chance ao rapaz. Um absurdo, claro.

O mesmo padre, aliás, apresenta alguns desejos sexuais em relação à protagonista e, em uma cena específica, revela à garota que teria sido ela quem colocou esses "pensamentos" na cabeça dele. Ou seja, ela teria que deixar de ser mulher ou de sair de casa a fim de evitar que homens a desejem?

Existem diversos outros casos similares demonstrados na narrativa, mas falar de cada um deles deixaria o texto muito extenso. Mas acho que você entendeu a ideia.

Ao fim, Harper parece conseguir, mesmo que temporariamente, vencer seu trama em relação a James (que é o último homem a nascer na grotesca cena final, indicando que ele era uma das raízes do trauma da moça). Porém, a narrativa brinca conosco ao colocar em cena a melhor amiga de Harper, que aparece para socorrê-la. E, adivinhe só? Ela está grávida.

Dessa forma, o filme coloca uma dúvida na nossa cabeça: será um menino a nascer? Se sim, como ele será quando crescer? Entrará nesse ciclo vicioso de toxicidade ou o romperá? Seja como for, Men é um grande tapa na cara e ajuda a elucidar ainda mais um importante tema, que não pode, jamais, ser deixado de lado.

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Fontes

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