Maldivas diverte ao entregar Desesperate Housewives tropical (Crítica)

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Imagem: Netflix

A princípio, a badalada Maldivas — série brasileira da Netflix cujo marketing tem sido construído pelo menos desde janeiro — não me chamou a atenção. Talvez isso tenha ocorrido pela presença de artistas como Bruna Marquezine e Manu Gavassi, cujas famas têm mais a ver com o buzz que elas conseguem gerar na internet do que com, efetivamente, a qualidade dos trabalhos que fazem. Mas, vendo alguns comentários positivos nas redes sociais, resolvi dar uma chance.

E fiz bem: já no primeiro episódio, dá para notar que Maldivas é bem diferente do que talvez sugira o material de divulgação, que exibe mulheres lindas, ricas e coloridas, dando margem para que se imagine certa trama vazia. A primeira boa surpresa é que toda a ambientação alegre e tropical é, na verdade, uma espécie de deboche às posturas elitistas de uma classe média (que se julga alta) em algum lugar do Rio de Janeiro.

A segunda boa surpresa é que o texto é bom e a trama até que surpreende. A história, escrita e narrada por Natalia Klein (que faz Verônica, uma das atrizes centrais de Maldivas), é cheia de reviravoltas em cada episódio e consegue transitar bem entre a comédia e o suspense, dando um bom equilíbrio entre os gêneros.

Mulheres (meio) ricas à beira da piscina

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)Fonte:  Netflix 

A série se inicia contextualizando o espaço onde praticamente toda a trama vai se desenrolar: um condomínio chamado Maldivas, localizado em algum lugar na Barra da Tijuca. Lá, aparentemente, algumas mulheres (amigas ou rivais?) passam boa parte dos dias desocupadas na piscina tomando bons drinks sem grandes preocupações.

As mais próximas são Milene (Manu Gavassi), uma dona de casa neurótica pela aparência cuja única ocupação é ser síndica do Maldivas; Rayssa (Sheron Menezzes), uma mulher exuberante que há 15 anos mantém um grupo de axé de sucesso com o marido e planeja expandir os negócios para um SPA; e Kat (Carol Castro), dona de casa, mãe de gêmeos e casada com um cara que está em prisão domiciliar por lavagem de dinheiro.

Na piscina, elas convivem com Verônica — a quem chamam de "Mortícia", pelos looks meio sombrios — e com uma mulher mais velha chamada Patrícia (Vanessa Gerbelli), que fingem tolerar, mas de quem falam mal a cada oportunidade que surge. Patrícia logo descobre alguns podres de cada uma das "amigas" e, misteriosamente, morre em um incêndio no próprio apartamento, levantando várias suspeitas; todas, a princípio, teriam razões para querer liquidá-la.

Mas essa não é exatamente uma série estilo whodunnit, ou seja, que gira em torno da descoberta de quem é o assassino. Há mais tramas por trás desse assassinato e que envolvem a chegada de Liz (Bruna Marquezine), a filha de Patrícia que foi afastada dela ainda criança e criada pela avó (Ângela Vieira) em Goiás. Desesperada para conhecer a mãe, Liz chega ao Maldivas no dia da morte de Patrícia e passa a atuar, de forma meio camuflada, na investigação do crime.

Donas de casa desesperadas à brasileira

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)Fonte:  Netflix 

Uma das grandes sacadas de Maldivas está na construção sutil do universo em que essas mulheres habitam. Elas são basicamente peruas que acreditam viver vidas maravilhosas dentro de um condomínio bem artificial e pouco realista (soar verossímil não é uma preocupação da série, assumidamente over). No local, tem bar sempre aberto, piscinas com coqueiros iluminados com neon, SPA e palco para shows.

Por outro lado, quando os apartamentos são enquadrados do lado de dentro, parecem estranhamente simples e apertados em relação à suntuosidade daquele espaço. Fica bastante evidente que a vida luxuosa daquele grupo ocorre apenas na superfície e que ele se julga mais importante e glamoroso do que é.

A referência mais óbvia da série, e já apontada em várias críticas, é a de Desperate Housewives, trama icônica da ABC produzida entre 2004 e 2012 que fez muito sucesso ao explorar a ideia de que a fachada de lares americanos perfeitos escondia muita podridão, inclusive crimes. As donas de casa desesperadas do Maldivas têm algo em comum com as estadunidenses, embora menos drama (no sentido de menos profundidade) que as "concorrentes".

Assim como na série da ABC, um dos trunfos de Maldivas é conseguir dar alguma surpresa ao fim de cada episódio. Tem algo que imaginávamos já saber que se desmente toda vez, gerando uma expectativa quanto ao próximo capítulo. Consequentemente, o espectador se sente incitado a ir até o fim.

Performances irregulares

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)Fonte:  Netflix 

Maldivas aposta em um elenco estelar (para certos padrões), o que tem a ver com uma expectativa de repercussão em mídias sociais. Não obstante, há alguma irregularidade entre os atores — às vezes por conta de recursos, às vezes por conta do que eles tinham à disposição para explorar nos personagens.

Manu Gavassi e Bruna Marquezine parecem, na minha visão, a ponta mais fraca do elenco. Manu, que faz a personagem mais fútil e criticável do grupo, está bastante caricaturada como Milene, uma mulher com duas fixações: as cirurgias plásticas e o interesse do marido. Ela está um tanto fora do tom do que conseguiria, de fato, tornar Milene uma personagem cômica.

Bruna, por outro lado, parece ter o problema contrário e estar sempre no mesmo tom, condizente com a figura midiática dela já explorada à exaustão: da linda moça meio ingênua meio sedutora a quem os homens não conseguem resistir. Infelizmente, Liz não consegue colocar novas nuances no repertório da atriz.

Já Carol Castro e Sheron Menezzes têm tramas bem interessantes e divertidas ao lado dos maridos, o corrupto Gustavo (Guilherme Winter) e o muito "desenvolto" Cauã (Samuel Melo), com quem Rayssa mantém um relacionamento aberto.

Mas, em termos de performance, penso que as melhores entregas são da experiente Vanessa Gerbelli (que parece menos explorada na trama do que poderia ser) e da engraçada Natalia Klein, que, na verdade, é a cabeça da série toda e conseguiu guardar uma ótima personagem para si. A série é inteira narrada em off por Mortícia/Verônica – recurso que, embora às vezes pareça menosprezar o espectador pelo excesso de explicações, também carrega boa parte do humor de Maldivas.

Embora não faça jus a todo o buzz que a Netflix gerou em cima da série, Maldivas vale a pena ser conferida naqueles momentos em que procuramos uma série para não pensar (nem sofrer) muito.

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