What We Do in The Shadows é o novo The Office, mas com vampiros (crítica)

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O universo das séries é lotado de pessoas que amam The Office, e que, 9 anos após o fim de sua comédia favorita, continuam órfãos de um programa de humor na mesma linha. É difícil explicar por que a versão norte-americana de The Office é tão engraçada – a resposta mais comum é dizer que simplesmente é.

Mas, se prestarmos atenção, veremos que a série estrelada por Steve Carell tem algumas características bastante específicas. Primeiramente, os personagens bem desenhados: o perturbado Dwight Schrute (Rainn Wilson), um puxa-saco que vive num mundo paralelo; o casal Jim (John Krasinski) e Pam (Jenna Fischer), os únicos “normais” num ambiente cheio de funcionários estranhos; e, claro, o impagável Michael Scott, que tem uma autoimagem claramente distorcida (e megalomaníaca). Soma-se isso a um texto afiado e um ambiente de trabalho escolhido a dedo: um escritório medíocre, igualzinho a tantas empresas espalhadas nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Abro o texto fazendo este comentário porque acredito que nós, os órfãos de The Office, podemos finalmente ter encontrado um novo programa para chamar de nosso. E pasme: os personagens são vampiros, e o formato mockumentary (que brinca com a ideia de um falso documentário) é o mesmo.

Falo da pérola chamada What we do in the shadows, comédia do canal FX, atualmente em sua terceira temporada. É um programa que nos entrega um tipo de diversão muito parecido com The Office: umas boas risadas baseadas em ver o constrangimento passado por pessoas um tanto ridículas.

É preciso dizer que What we do in the shadows tem um premissa um tanto corajosa: ela leva os vampiros – que costumamos assistir em filmes de terror ou mesmo em dramas – para o humor. Se normalmente nos apegamos a eles por conta de sua característica sedutora, experiente, o fato é que é possível termos vampiros que são tudo isso e, ao mesmo tempo, são bem patéticos.

Este é o caso dos quatro vampiros irresistíveis de What we do in the shadows. Três deles são vindos da Europa e que, depois de séculos de vida gloriosa, vão parar em Staten Island, em Nova York, com a missão de estabelecer a hegemonia vampírica no chamado Novo Mundo – mas, na prática, mal conseguem limpar a própria casa.

Uma casa de vampiros inusitados

(Fonte: FX)(Fonte: FX)Fonte:  FX 

O primeiro é Nandor (Kayvan Novak, ator britânico de ascendência iraniana), um antigo guerreiro – apelidado de “Nandor, o implacável” - mas que, na sua vida doméstica, depende de seu “familiar” (como são chamados os ajudantes humanos de vampiros) para praticamente tudo.

Em seguida, vem o espevitado casal formado pelo inglês Laszlo (Matt Berry) e pela grega Nadja (Natasia Demetriou), que vivem uma espécie de casamento aberto: ele atuou como “ator vampiro pornô” no passado e ela está sempre atrás de seus antigos amantes reencarnados (na maioria das vezes, em humanos bem sem atrativos).

Por fim, a cereja do bolo está no quarto vampiro, Colin Robinson (Mark Proksch), sempre mencionado por nome e sobrenome, que é uma espécie de agregado da casa, onde habita um quartinho no porão. A construção deste personagem é fantástica: ele é um “vampiro de energia”. Isto quer dizer que Colin Robinson não bebe sangue, mas se alimenta pela energia das outras pessoas, a qual suga por meio de sua chatice, com longuíssimas conversas aleatórias que ninguém aguenta. Suas vítimas, inclusive, costumam cair no sono quando Colin Robinson começa seu falatório.

Este personagem é impecável, pois tira sarro dos ambientes corporativos, tal como ocorria em The Office. Isto porque Colin Robinson dedica seus dias se empregando em escritórios enfadonhos onde não faz nada, mas pode sugar o tédio dos colegas que são obrigados a estar ali. Sua chatice funciona como o contraponto perfeito aos lascivos vampiros com quem divide a casa, e nos faz pensar com quantos Colin Robinson já cruzamos na vida. Ele é, de alguma forma, o Dwight Schrute de What we do in the shadows. Inclusive, Mark Proksch participou de alguns episódios de The Office, quando fazia um assistente de... Dwight Schrute!

Humor constrangedor

(Fonte: FX)(Fonte: FX)Fonte:  FX 

Praticamente todos os episódios das três temporadas de What we do in the shadows são impagáveis – especialmente, claro, para quem aprecia este tipo de humor meio constrangedor, meio debochado, que tira sarro de muita coisa. O primeiro alvo, claro, é a própria mítica em torno dos vampiros como sujeitos mais elevados do que os humanos.

Na série, Nandor, Lazslo e Nadja são o exato contraponto de tudo que se espera dos vampiros: são preguiçosos, interesseiros e meio abobados. Algumas das melhores piadas se dão nas interações deles com o “familiar” (na verdade, um funcionário sem salário) Guillermo (Harvey Guillen), um “pau-para-toda-obra” que gravita em torno dos chefes na expectativa de que, um dia, se tornará também um vampiro. Claramente, está sendo enrolado: Guillermo atende seu mestre há 11 anos e nunca teve o retorno esperado.

Guillermo, que é latino, acaba por simbolizar um universo de pessoas subempregadas e exploradas por um “vampiro” que pode ser entendido como o próprio Estados Unidos e seu american dream. O personagem é riquíssimo, e seu arco tem algumas ótimas viradas no roteiro. Ao longo das temporadas, ele descobre (por acidente!) que descende de Van Helsing, o famoso caçador de vampiros que aparece no romance Drácula, de Bram Stocker. A partir daí, a “vocação” de Guillermo passa a se confrontar com sua permanente submissão aos chefes.

Os criadores

(Fonte: FX)(Fonte: FX)Fonte:  FX 

Vale aqui lembrar que What we do in the shadows é, originalmente, um filme de 2014. What we do in the shadows é uma comédia em estilo mockumentary escrita, dirigida e estrelada pelos neozelandeses Jemaine Clement e Taika Waititi (que também dirigiu Jojo Rabbit). O filme se tornou cult, e abriu a oportunidade para que os criadores filmassem um piloto de uma série para o FX, que se tornou um sucesso.

Clement e Waititi são as duas mentes à frente da série, mas deixaram os personagens principais para os cinco excelentes atores, numa escolha muito acertada. Ainda assim, os diretores fazem pontas como membros do Conselho Vampírico, uma espécie de sindicato dos vampiros que regula as atividades realizadas por eles.

Por fim, destaco que uma das grandes sacadas do roteiro de What we do in the shadows é que ele dialoga o tempo todo com outros produtos deste universo vampírico – incluindo participações especiais de atores que incorporaram os “imortais” em outros filmes.

Em um dos melhores episódios da primeira temporada, os vampiros são convocados para uma reunião no Conselho em que estão presentes Tilda Swinton (de Amantes Eternos), Paul Reubens (do filme Buffy, a caça-vampiros), Danny Trejo (de Um drink no inferno), Evan Rachel Wood (de True Blood) e até Wesley Snipes, de Blade – O caçador de vampiros, que participa por uma ligação por Zoom (numa conexão de internet bem ruim, aliás).

Por isso, mais uma vez recomendo: se você sente falta de The Office, dê uma chance para What we do in the shadows. Garanto que não vai se arrepender.

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