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The BRIEF

Entre ansiedade e adaptação: o que a reforma tributária reserva às PMEs e por que agora importa se preparar

A reforma tributária exige que PMEs revisem precificação e créditos, pois o IVA dual torna a gestão de dados vital para a competitividade além do Simples Nacional.

Avatar do(a) autor(a): Felippe Galeb

schedule26/12/2025, às 10:00

Aqui na Olist, a reforma tributária deixou de ser um tema jurídico há meses. Não está restrita ao time fiscal ou ao contador. Temos pessoas de produto, financeiro, dados e operações debruçadas sobre o assunto, porque ficou claro para nós que essa mudança vai muito além de alíquotas. Ela atravessa precificação, margem, contratos, tecnologia e, no limite, o modelo de negócio das PMEs.

Existe um mar de temas, e também de oportunidades, que ainda estão fora do radar da maioria das pequenas e médias empresas. E é justamente por isso que resolvi trazer minha visão sobre o assunto. Não como especialista tributário, mas como alguém que acompanha de perto a realidade operacional das PMEs brasileiras.

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A crença mais comum que escuto é simples: “isso é coisa para empresa grande”. A segunda vem logo em seguida: “estando no Simples, está tudo bem”. Ambas são confortáveis e perigosas. A reforma do consumo inaugura um novo sistema baseado no IBS e na CBS, substituindo tributos conhecidos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. Em teoria, o modelo de IVA dual promete simplificação e menos sobreposição de impostos. Entre 2026 e 2033, empresas vão conviver com dois sistemas em paralelo, recalculando preços, adaptando sistemas, revendo contratos e aprendendo uma nova lógica de crédito tributário, tudo isso enquanto continuam operando.

A partir daqui, não dá mais para simplesmente copiar a estratégia do concorrente, seguir um preço “de mercado” ou esperar que o contador resolva tudo sozinho. Cada empresa vai precisar entender sua própria cadeia, seu mix de clientes, sua forma de faturar e onde gera ou perde valor.

O Simples Nacional continua existindo, mas deixa de ser automaticamente a melhor resposta em muitos casos. Especialmente para quem vende para outras empresas, o papel do crédito tributário passa a ser estratégico. Empresas que não geram ou não aproveitam crédito podem se tornar menos competitivas dentro da cadeia, mesmo tendo um produto bom e um preço aparentemente correto. Nestes casos, conforto tributário não é o mesmo que eficiência econômica.

Outro ponto pouco discutido é o impacto operacional no curto prazo. Durante a transição, cálculos antigos e novos vão coexistir. A lógica de precificação muda, o tributo passa a ser destacado de forma mais transparente e contratos de longo prazo precisam ser revisitados. Sem revisão de preços e modelos de cobrança, muitos empresários podem acabar absorvendo custos sem perceber, comprimindo margens silenciosamente.

Por outro lado, há oportunidades reais para quem se preparar. Um sistema mais transparente tende a reduzir a cumulatividade e a dar mais clareza sobre o custo real dos insumos. PMEs que hoje “pagam imposto sobre imposto” podem se beneficiar ao tributar apenas o valor que efetivamente agregam. A reforma também tende a diminuir a guerra fiscal baseada na origem da produção e deslocar o jogo para onde e para quem se vende. Isso muda decisões de mercado, canais e posicionamento.

Tenho visto, inclusive, um efeito colateral positivo: a profissionalização da gestão. Controle, planejamento, dados organizados e tecnologia deixam de ser preocupação de “empresa grande” e passam a ser condição mínima de sobrevivência. O governo está investindo pesado em automação e fiscalização. Tudo será mais rápido. Quem não contar com sistemas preparados, dados confiáveis e processos claros ficará à mercê do que o sistema impuser.

Na prática, isso significa avaliar se o Simples ainda faz sentido, simular cenários, revisar contratos, entender como o crédito tributário se comporta conforme o tipo de cliente e investir em tecnologia que ajude a traduzir a complexidade em decisões práticas.

Não existe fórmula mágica, nem decisão única. O enquadramento ideal hoje pode não ser o mesmo daqui a dois anos. O acompanhamento contínuo passa a ser parte da gestão. Não existe resposta universal, o impacto da reforma vai variar conforme o segmento, o regime, a maturidade operacional e o momento financeiro de cada negócio. Algumas PMEs podem ganhar competitividade fora do Simples. Outras farão bem em esperar, organizar dados e se preparar antes de qualquer movimento.

As PMEs que atravessarem esse período com informação, planejamento e organização têm a chance de sair mais fortes do que entraram. A reforma cria desafios reais, mas também abre espaço para eficiência, reposicionamento e decisões mais conscientes. Quem começar a se preparar agora terá mais chances de ocupar um papel protagonista na economia que está sendo redesenhada.