Spotify: por que o serviço de streaming não dá lucro?

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O Spotify anunciou nesta semana sua terceira rodada de demissões do ano: desta vez 17% de sua força de trabalho vai perder o emprego, o que representa em torno de 1,5 mil profissionais. Segundo Daniel Ek, CEO da empresa, a decisão visa reduzir custos operacionais. 

O “estranho” disso tudo é que a empresa de streaming exibiu crescimento de 11% na receita no terceiro trimestre de 2023 em comparação ao período anterior, passando de US$ 3,2 bilhões para US$ 3,57 bilhões. 

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O número de usuários ativos também saiu de 551 milhões (segundo tri) para 574 milhões. O volume de pagantes, por sua vez, saltou 16% (6 milhões adicionais) em relação ao primeiro trimestre do ano. Então, por que o Spotify está demitindo? Estaria o futuro da companhia ameaçado? 

 Spotify exibiu seis balanços lucrativos desde 2017 

A plataforma de streaming de música está quase sempre em alta, tornou-se a maior do mundo e criou a tradição do aguardado Spotify Wrapped um verdadeiro case de sucesso de marketing. Porém, vem enfrentando um baita problema: gerar lucro. No terceiro trimestre de 2023, por exemplo, a porcentagem arrecadada foi de apenas 1%.

  • Ainda assim é um número melhor em comparação ao segundo trimestre de 2023, no qual o prejuízo chegou a cerca de US$ 267 milhões. E não termina aí: desde 2017, a companhia exibiu somente 6 balanços lucrativos (ver imagem a seguir). 

 Gráfico Spotify lucroLucro e perda operacional do Spotify em todo o mundo do 1º trimestre de 2017 ao 3º trimestre de 2023 (em milhões de euros)Fonte: Statista/Reprodução

Ek argumentou em um memorando interno que o Spotify vem sentindo o impacto de um crescimento econômico lento no mundo, combinado a elevados custos operacionais – problema repetido por startups e big techs em anúncios de layoffs. O executivo também classificou a decisão como “substancial” para garantir equilíbrio entre os gastos operacionais e objetivos financeiros da empresa. 

Modelo de negócios de streaming e pressão de investidores 

Os números acima mostram que o sucesso com o público e seus compartilháveis tops globais não têm sido o suficiente para gerar grana de verdade. O saturado mercado de podcasts, que tem o YouTube como rival, também indica sinais de crise. 

Em junho de 2023, o Spotify fez demissões nessa divisão, e na rodada de desligamentos desta semana encerrou a parceria com dois podcasts de sucessona gringa: Heavyweight e Stolen, ambos produzidos in house. 

“O Spotify é atormentado por um modelo de negócios pouco confiável, no qual as gravadoras ficam sentadas e arrecadam pagamentos de royalties enquanto os artistas lutam para ganhar o suficiente [por meio da plataforma]”, avalia uma matéria da revista Wired. 

“Os investidores estão cada vez mais impacientes em 2023 para que empresas de tecnologia comecem a ganhar dinheiro”, explicou ao veículo Phil Bird, head de direitos autoriais e royalties da Vistex, firma de soluções go-to-market. 

Existe ainda o rolê da enorme demanda por profissionais na pandemia, o que levou a uma alta de contratações no ramo de tecnologia. A questão é que essas empresas não pensaram nos efeitos dessas movimentações no longo prazo. 

Capas de playlists spotifyPlaylists especiais no Spotify se tornaram um reflexo de assuntos do momento e movimentos culturais

Com o boom da retomada em vários segmentos, além do retorno à vida profissional, pessoal e de lazer no presencial, seria possível prever uma crise e ampla necessidade de recursos (como petróleo) que, em efeito cascata, iriam encarecer diversas despesas.  

Foram 253,6 mil demissões no mundo só em 2023, segundo o Layoffs.fyi. A exceção foi a Apple que fez poucos cortes de pessoal por ter mantido um número equilibrado de funcionários, além de contratações pontuais/eficientes no período da crise sanitária. 

 Big techs também disputam os plays 

De volta à questão do Spotify, há também o alto custo de licenciamento de música, que acaba pesando na hora de faturar mais. A cantora Taylor Swift, por exemplo, foi top 1 mundial com 26 bilhões de reproduções na plataforma e deve receber mais de US$ 100 milhões só do Spotify, de acordo com estimativas da revista Variety. 

  • Obviamente a grana que a loirinha vai levar deve ser encarada como uma exceção, pois especula-se que cada stream valha US$ 0,0035.  

O maior streaming do mundo ainda lida com rivais gigantes, como Amazon Music, YouTube Music e Apple Music, que não dependem somente desse tipo de produto para manter os negócios. Essa inclusive foi uma preocupação da Netflix por um tempo, entretanto, o Tudum têm buscado diversificar o catálogo tanto com títulos antigos quanto novos de filmes, séries e realities.

A empresa ainda está investindo em games: anunciou que vai adicionar ao seu catálogo, por exemplo, os jogos GTA III, San Andreas e Vice City. Ou seja, para o público pode ser mais aceitável um reajuste no valor da assinatura daqui uns tempos.  

Já o Spotify está lançando audiobooks em seu catálogo na gringa - a novidade deve rolar por aqui em breve. A companhia ainda anunciou que em 2024 vai monetizar somente faixas que atingirem pelo menos 1.000 streams nos últimos 12 meses. Mas será isso o suficiente para gerar altos lucros? 

Matéria atualizada em 7 de dezembro às 21h15.

 *Este é um conteúdo exclusivo The BRIEF: desde 2017 falamos sobre tecnologia, mercado e comportamento. Vem ser briefer você também, assina aí! 

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