CEO do WowApp vem ao Brasil e fala sobre pirâmide, dinheiro e futuro do app

10 min de leitura
Imagem de: CEO do WowApp vem ao Brasil e fala sobre pirâmide, dinheiro e futuro do app

Alguns poucos meses depois de causar um burburinho considerável entre os brasileiros que não dispensam um bate-papo via celular, o WowApp recebeu seu primeiro evento oficial no Brasil na manhã desta quarta-feira (9). Realizado em um hotel na cidade de São Paulo, o encontro foi encabeçado por Thomas C. Knobel, o criador do aplicativo, e se focou tanto em falar sobre o futuro do app como em tirar quaisquer dúvidas a respeito do funcionamento do serviço, que promete dividir cerca de 70% de sua renda com os usuários.

A ideia básica é que, além de servir como um comunicador instantâneo robusto – agregando funções de diversos concorrentes desse setor –, o programa gere rendimentos com base na sua atividade na rede e no número de contatos convidados para seu círculo de amizades. Quanto mais pessoas você tiver na lista e mais usuários elas trouxerem para a plataforma, mais dinheiro virtual – chamado de Wowcoin – é creditado no seu perfil, com a opção de saque, compra de créditos para ligações internacionais e doações para ONGs.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Ele diz ter entendido que faz parte do seu trabalho como CEO dar uma cara ao produto para que as pessoas pudessem confiar que não se trata de nenhum golpe

Como a perspectiva de ganhos reais se tornou tanto um atrativo como uma polêmica para quem ficou sabendo de forma superficial sobre o software, ele diz ter entendido que faz parte do seu trabalho como CEO dar uma cara ao produto para que as pessoas pudessem confiar que não se trata de nenhum golpe. A estratégia do suíço para esclarecer tudo foi contar um pouco da sua história e do que o levou a investir dinheiro – 30 milhões de euros, do próprio bolso – e tempo em um novo projeto, mesmo já sendo bem-sucedido financeiramente.

“O WowApp é completamente gratuito e não exige nenhum tipo de pagamento das pessoas, sendo assim não tem como sermos um golpe ou prejudicarmos alguém”, explicou adiantadamente o autor do serviço, rebatendo uma das dúvidas mais comuns a respeito do app, que é se ele é algum tipo de esquema de pirâmide. Bem-humorado, ele disse entender a preocupação das pessoas, mas garante que a forma como o programa opera não possibilita qualquer chance de prejuízo para quem resolver testá-lo.

O histórico por trás da empreitada

Empreendedor desde a infância e fundador da Nobel, uma grande telecom europeia, Thomas explicou que a semente para a produção do WowApp foi plantada em 2009, a partir de uma visão de uma impossível internet mais justa na divisão de lucros. Segundo o executivo, o fato de bilhões de pessoas gerarem ganhos econômicos por meio de ações rotineiras na web – seja por meio de mídias digitais ou através de seus dados – e de todo esse dinheiro ir para as mãos de algumas poucas gigantes de tecnologia é algo que começou a incomodá-lo bastante.

Esse é um conceito que ele chama de Freeism (algo como Gratismo) e que, embora o empresário não tenha citado nomes, diz respeito a como uma boa parte dos negócios de empresas como Facebook e Google funciona – negociando os dados de seu público. “Uma internet onde todo mundo trabalha de graça não faz sentido para mim, não é algo sustentável a longo prazo”, analisou o suíço, que acredita que essa e outras desigualdades promovem instabilidade na sociedade como um todo.

Sua solução para o problema foi criar um aplicativo que usa os preceitos do Wowism (Uauísmo) para, teoricamente, criar uma nova economia mundial. Com um plano que pode ser definido como ousado, no mínimo, Thomas deu início à empreitada ainda em 2011, com a expectativa de liberar uma versão inicial do programa em cerca de dois anos e meio. Claro que o tempo não foi suficiente para criar um produto minimamente viável, e o processo acabou levando quase cinco anos para ser concluído.

O resultado foi o lançamento do WowApp em outubro de 2015 em seu país sede, a Romênia, com o aplicativo sendo oferecido para as principais plataformas desktop e mobile e oferecendo ferramentas como chat via texto, ligações, chamadas em vídeo e até mesmo os queridinhos stickers. Com recursos robustos e atrativos financeiros, em apenas quatro meses e meio o serviço atingiu a marca de 1,3 milhão de usuários pelo mundo, um número que Thomas tem bastante orgulho em comunicar, já que afirma não ter gastado nada em publicidade.

Um motivo nobre para a movimentação financeira

Segundo o CEO, o principal ponto do app é a distribuição e o compartilhamento de renda entre as pessoas que acreditarem no produto. Embora isso, em um primeiro momento, possa dizer respeito aos lucros de cada integrante da rede, também é verdadeiro para as doações feitas às mais de 2 mil instituições – distribuídas em 110 países, incluindo o Brasil – que têm parceria com a empresa. Ele acredita que um dos objetivos primordiais do serviço é levar o dinheiro para as causas certas, tornando-se a “maior plataforma de caridade do mundo”.

A companhia espera que cerca de 8% de todos os ganhos sejam convertidos em doações, confiando que a própria natureza do aplicativo vai fazer com que essa marca seja alcançada. Embora não tenha números para compartilhar sobre o tema no momento, Thomas comenta que as caridades são feitas diariamente por pessoas de todo o globo, o que mostra que, pelo menos de uma forma rudimentar, o projeto está refletindo sua visão econômica.

Um dos objetivos primordiais do serviço é levar o dinheiro para as causas certas, tornando-se a 'maior plataforma de caridade do mundo'

Mesmo com esse cenário favorável, ele também se diz pronto para modificar as regras e aperfeiçoar a brincadeira se for preciso. Um dos incentivos futuros que já está sendo planejado, por exemplo, são conquistas, medalhas e rankings para exaltar as doações, com essas informações podendo ser exibidas no perfil de cada integrante – e fazendo a própria comunidade cobrar a galera com muitos rendimentos que nunca ajudam as instituições. Outra medida pode ser uma taxa fixa de 8% para as ONGs na hora de sacar seu dinheiro.

Ok, mas o que EU ganho?

Para levar essa ideia adiante e cultivar nas pessoas o costume de doar, Thomas explica que é preciso primeiro que os usuários consigam lucrar bem por meio do sistema. Atualmente, o autor do projeto confirma que realmente os ganhos estão abaixo do que eles esperavam, já que há apenas duas formas de adquirir Wowcoins: visualização de banners e atividade dos seus contatos na rede. Assim, o plano é que a equipe de desenvolvimento do aplicativo comece a ficar quase inteiramente focada em implementar novos meios de gerar renda.

Nesse sentido, os próximos 18 meses devem ser essenciais tanto para a companhia quanto para o público, já que estão programados de sete a nove novos meios de ganhar dinheiro com o programa. O próximo desses itens, por exemplo, deve ser o pagamento da moeda digital quando o internauta se aventurar por alguns joguinhos simples, com essa “gamificação” da plataforma ficando agendada para o próximo mês de abril – que também deve trazer o bastante aguardado recursos de mensagens de voz, um vício dos veteranos do WhatsApp.

Uma vez que o usuário tiver uma graninha na conta, pode fazer o saque diretamente para seu cartão de crédito por uma tarifa de US$ 1 + 8% de impostos, um valor bastante em conta se contarmos que a conversão básica é de uma Wowcoin para um centavo de dólar. Com isso, a expectativa é que os usuários não esperem muito para retirar o dinheiro da conta, evitando que o montante reservado para o pagamento dos clientes se torne muito grande – um fundo usado única e exclusivamente para isso, que não faz parte do caixa geral da empresa.

Abordando outra dúvida bastante frequente, Thomas explica que há sim vantagens para o pessoal que se registrou nas levas iniciais, mas que isso não prejudica o restante dos internautas. “Há planos para deixar esse pessoal mais contente, afinal essas são as pessoas que apostaram no WowApp desde o começo”, dispara. Ao mesmo tempo, ele garante que, como a base de usuários ainda é pequena, há muito espaço para cada pessoa crescer na rede. “Quando tivermos centenas de milhões de usuários, podemos rever o sistema”, brinca.

Força brasileira

No dia anterior ao evento oficial do aplicativo, conseguimos bater um papo em particular com o CEO, e ele acabou revelando algumas curiosidades acerca da relação do WowApp com o Brasil e os planos futuros para a plataforma. Ao ser questionado por que havia escolhido o país para receber sua visita e lançar o app – depois de ele ser disponibilizado e divulgado apenas na Romênia –, o executivo foi enfático: “Não fomos nós que escolhemos o Brasil, foi o Brasil que nos escolheu”.

Mesmo sendo veterano na indústria, Thomas afirma que ficou muito surpreso com a recepção do serviço por aqui, principalmente porque, até o momento, a empresa não tinha feito nenhum tipo de iniciativa por essas bandas. “Vi os números do Brasil aumentando e não conseguia acreditar, tinha que ser algum tipo de erro. Assim que me certifiquei de que os dados eram reais, coloquei a versão em português do aplicativo como prioridade máxima”, disse o empresário com um sorriso de orelha a orelha.

O suíço acredita que a cultura brasileira e o jeito amistoso do povo exercem um papel fundamental na adoção do WowApp por aqui

Atualmente, o público brasileiro é o segundo maior do mundo, atrás apenas da Romênia, com cerca de 190 mil usuários e picos de 5 mil novos integrantes por dia. Nesse ritmo, a expectativa é de que a base tupiniquim fique em primeiro lugar em um tempo bastante curto, dentro de 20 a 40 dias. O suíço acredita que a cultura brasileira e o jeito amistoso do povo exercem um papel fundamental na adoção do WowApp por aqui. Com isso, a abertura de um escritório no Brasil não está descartada, mas exige um número bem maior de clientes ativos.

Ele também ficou surpreso com o engajamento do público local, que recorre a tradutores online para entrar em contato com a equipe para sugerir mudanças, apontar bugs e recursos e problemas específicos dos brasileiros com o app. O número de vídeos e montagens postados na web em relação ao aplicativo também chamou atenção do empreendedor, que ao reconhecer essa paixão prometeu que o Brasil seria o primeiro país na “tour” de divulgação do produto – que ainda deve passar por Argentina, México, Guatemala e Panamá.

O charme nacional é tão grande que também estão programados novos modos de saque para o Brasil, como a opção de transferir os créditos de Wowcoins diretamente para a sua conta bancária. Ainda não há uma data específica para que isso aconteça – já que a operação demanda uma boa dose de burocracia –, mas a possibilidade de haver transações locais, pelo mesmo custo do crédito feito em cartão, mostra a importância do mercado local para a desenvolvedora.

Futuro da empreitada

Quando o assunto são novidades, Thomas demonstrou que não está brincando em serviço. Para o executivo, o estado atual do WowApp representa apenas uma fração do que ele imagina para o programa. Abrindo uma planilha online em seu notebook, ele deu uma prévia do número de recursos a serem implementados na plataforma, com quase uma centena de adições de todos os tamanhos programadas para os próximos meses, entre itens de segurança, novos modos de privacidade e, claro, os novos meios de gerar renda.

Segundo o suíço, a ideia é que todas as grandes funcionalidades a serem implementadas no software – além dos recursos mais básicos dos comunicadores instantâneos – estejam atreladas a formas de ganhar dinheiro. Outras mudanças incluem possíveis parcerias com empresas de mentalidade semelhante à da desenvolvedora para expansão e popularização da plataforma, já havendo até conversas sem compromisso com marcas como Uber e Airbnb.

Ao mesmo tempo, as propostas de investidores estão sendo educadamente negadas, uma vez que o idealizador do projeto pretende manter o controle do serviço em suas mãos pelo máximo de tempo possível para que possa continuar a trabalhar em sua visão sobre o Wowism. O CEO também promete se manter fiel ao sistema de convites, que é o centro de todo o sistema de rendimentos para os usuários, o que significa que você não deve ver o WowApp como um software embarcado nos celulares vendidos por operadoras de telefonia, por exemplo.

Com essa avalanche de informações e a aparente seriedade com que Thomas e sua equipe andam tocando o negócio, as chances são de que você não vai ser ludibriado se resolver testar o brinquedinho. No fim, como dissemos anteriormente, mesmo se sua missão não for fazer rios de dinheiro com um serviço online e todo o papo parecer bom demais para ser verdade, o WowApp ainda se mostra um mensageiro de qualidade, com potencial para o futuro e que facilita a prática das doações – algo que nem sempre está na rotina das pessoas.

Você acha que o WowApp tem chances de vingar com seu conceito de compartilhamento? Comente no Fórum do TecMundo!

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.