Review: pulseira inteligente FitBit Flex

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O conceito de tecnologia vestível veio para ficar. Um relatório divulgado recentemente pelo instituto ON World previu que 700 milhões de wearable devices serão comercializados ao redor do mundo durante os próximos cinco anos, gerando uma receita total de pelo menos US$ 47,4 bilhões. Em comparação, pouco mais de 1 bilhão de smartphones foram vendidos ao longo de 2013.

Ainda que a ideia de carregar um computador no pulso pareça estranha para pessoas mais “conservadoras”, a verdade é que já existem diversos produtos disponíveis nas gôndolas internacionais que servem como uma excelente porta de entrada para essa nova categoria de gadgets. As pulseiras inteligentes – ou smartbands, como estão sendo chamadas – são eletrônicos cada vez mais comuns na vida de muitas pessoas, sendo possível até mesmo encontrar vários modelos à venda aqui mesmo no território brasileiro.

Dentro desse segmento, é inegável que os holofotes estão centralizados sobre a FitBit, uma startup californiana fundada em 2007 por James Park. Pesquisas realizadas nos primeiros meses de 2014 mostraram que a empresa detém quase 50% do market share de dispositivos vestíveis a nível internacional. Seu principal produto, a pulseira Flex, ficou famosa no Brasil após fazer uma aparição especial na última edição do reality show Big Brother Brasil; todos os brothers precisaram utilizá-la o tempo todo para que a equipe técnica pudesse analisar em tempo real a saúde de cada um deles.

Vendida lá fora por US$ 99 e encontrada aqui por cerca de R$ 450, a FitBit Flex promete monitorar seu usuário 24 horas por dia obtendo dados diversos, como número de passos, distância percorrida, calorias queimadas, horas dormidas e até mesmo a qualidade de seu sono. Visivelmente voltada para quem gosta de praticar atividades físicas, a pulseira tem ganhado cada vez mais adeptos entre os geeks brasileiros – mas será que vale a pena investir na compra desse dispositivo ou é muito cedo para entrar no campo da tecnologia vestível?

Simples, discreta e versátil

O design da FitBit Flex divide opiniões – há quem a considere um acessório de visual minimalista e discreto, perfeito para ser utilizado sem chamar a atenção de eventuais meliantes. Por outro lado, há quem compare a pulseira com relógios infantis de plástico barato. Em geral, gostamos bastante da aparência do dispositivo, com um pensamento que se enquadra mais com o primeiro grupo citado. Ainda que não seja tão atraente quanto a Jawbone UP, a Flex agrada por adotar um conceito simplista e seguir a tendência de “mais é menos”.

Vale observar que o rastreador em si resume-se a um pequenino módulo que pode ser retirado facilmente de dentro da pulseira – o bracelete plástico pode ser trocado de acordo com a vontade do usuário, sendo possível encontrá-lo em diversas cores e tamanhos diferentes (sendo que a caixa do gadget acompanha uma pulseira em tamanho pequeno e outra em tamanho grande).

Essa versatilidade da Flex abre possibilidades interessantes; como noticiamos recentemente, a grife de luxo Tory Burch anunciou um belíssimo bracelete banhado a ouro para quem deseja transformar seu rastreador em uma verdadeira “joia eletrônica”. Além disso, a pulseira pode ser facilmente trocada caso acabe estragando com o tempo, sendo possível adquirir um pacote com três unidades sobressalentes por US$ 30 (R$ 150 em algumas lojas brasileiras).

Comunicação sem fio e com qualquer dispositivo

A FitBit Flex é uma pulseira wireless – ou seja, toda a comunicação do rastreador com seu computador ou dispositivo móvel é feita sem intermédio de fios. Ela usa a tecnologia Bluetooth 4.0 para fazer a transferência de dados, cujo consumo de energia é bem menor do que as versões anteriores de tal protocolo de comunicação.

O processo para ativá-la é bastante simples: com o bracelete devidamente “vestido”, tudo o que você precisa fazer é conectar um pequeno dongle USB (que acompanha o dispositivo) em seu computador e abrir o software de sincronização que pode ser encontrado neste link. Em seguida, basta criar uma conta no serviço e aguardar o primeiro pareamento entre o software e o dispositivo vestível. Em pouco menos de cinco minutos nossa Flex já estava devidamente configurada.

O processo para ligá-la aos seus tablets e smartphones é igual: baixe o aplicativo oficial do FitBit para seu gadget (há uma versão para iPhone e outra para Android; Windows Phone ganhará uma em breve) e realize o pareamento. A partir do momento em que a Flex está sincronizada com determinado computador/dispositivo móvel, a troca de dados é feita automaticamente a cada 20 minutos – obviamente, o dongle USB deve estar conectado na máquina e o Bluetooth do tablet/celular em questão deve estar sempre ativado.

A pulseira, o rastreador e o dongle USB necessário para a comunicação sem fio

Transformando sua vida em jogo desafiador

Em resumo, a pulseira inteligente da FitBit possui cinco funcionalidades distintas. Ela rastreia seus passos, a distância percorrida, as calorias gastas, a qualidade do sono e também atua como um despertador alternativo, vibrando de maneira suave no pulso do usuário em um horário pré-determinado. Infelizmente, o modelo não possui um altímetro para contabilizar degraus de escada que você sobre ou desce. Todos esses dados coletados ficam armazenados localmente durante o prazo máximo de sete dias – ou seja, caso você não sincronize sua Flex durante uma semana, quaisquer informações antigas serão automaticamente apagadas e será impossível reavê-las.

Mais do que simplesmente contar quantos passos você deu no último sábado, o gadget também serve como um incentivo a uma vida mais saudável ao aplicar o conceito de gamification em seu sistema de rastreio. É possível determinar uma meta diária pessoal de passos que você precisa caminhar para se manter em forma – por padrão, essa meta é de 10 mil passos por dia. Conforme você se exercita, a Flex vai te parabenizando com a oferta de medalhas virtuais colecionáveis em um sistema que lembra muito os Achievements encontrados em jogos eletrônicos.

O fator social não foi esquecido pela FitBit: caso você conheça alguém que também utilize a pulseira, é possível adicioná-la ao seu rol de amigos e competir para ver quem faz as caminhadas mais longas em determinado intervalo de tempo. Esse sistema pode parecer um tanto “tosco” para quem está olhando de longe, mas acredite: o simples fato de saber que há um computador analisando tudo o que você faz e que existe uma meta diária esperando para ser cumprida é o suficiente para incentivar você a usar mais as pernas e menos o carro.

Uma interface de usuário eficiente, mas com falhas

A interface de usuário da FitBit Flex é tão simplista quanto o seu próprio design. Diferente do Galaxy Gear Fit, por exemplo, a pulseira analisada não possui uma tela LCD. Em vez disso, ela conta com cinco pequeninas luzes LED que são utilizadas pelo produto para se comunicar com o usuário.

Ao dar dois “tapinhas” na pulseira, ela acende uma quantidade de luzes referente à porcentagem concluída da meta de passos estabelecida. Sendo assim, dois LEDs acesos significam que 40% da quantia desejada de passos diários já foi alcançada. Quando você bate sua meta, a Flex vibra e se acende para congratulá-lo.

Cinco tapinhas na pulseira fazem com que ela entre no modo de sono, sendo necessário fazê-lo sempre que você for dormir. A partir desse momento, a Flex passa a analisar o quanto você se movimenta durante a noite, criando relatórios sobre a qualidade de seu sono; dar dois tapas nela apenas fará com que uma dupla de LEDs se acendam rapidamente, lembrando que você está no modo de sono.

Por fim, na hora de servir como despertador, o bracelete também vibra durante alguns segundos e acende uma única luz LED para alertar seu usuário. Se você não dispensar o alarme (dando pequenos toques no dispositivo), ele entrará em um “modo soneca” e tocará mais uma vez dentro de nove minutos.

Essa interface baseada em pequenos tapas no aparelho é bem simples e agradável, mas se mostra um pouco ineficiente em alguns momentos. Durante os testes, a Flex entrou no modo de sono sozinha enquanto se andava de bicicleta em um terreno acidentado, entendendo as altas vibrações do veículo como toques humanos. Também encontramos depoimentos de usuários norte-americanos que tiveram o mesmo problema enquanto dirigiam carros usando o bracelete.

Um ecossistema vasto e aberto

Assim como seus aplicativos móveis, o painel online da FitBit se mostra bem simples e fácil de compreender. Ele exibe todos os dados coletados pela Flex de uma forma bastante organizada, separando os diferentes tipos de informações em blocos que podem ser organizados de acordo com sua necessidade. O relatório é razoavelmente completo, mostrando um histórico de atividades feitas durante os últimos dias, porcentagem da meta diária de passos e minutos que você gastou fazendo exercícios físicos pesados. O monitor de sono mostra o quanto você dormiu na noite passada e quantas vezes você despertou durante o período.

Mais do que simplesmente visualizar dados de sua vida, o painel da FitBit também possibilita que seus usuários insiram manualmente algumas informações que não podem ser rastreadas pelo gadget, como calorias consumidas durante as refeições e quantia de água ingerida ao longo do dia.

Contudo, tal opção não pode ser plenamente aproveitada por usuários brasileiros, visto que o banco de dados de alimentos do serviço conta com muitos lanches específicos da América do Norte. Além disso, esse recurso é obviamente voltado para usuários mais atenciosos quanto aos seus próprios hábitos alimentares – afinal, nem todo mundo consegue dizer quantos milimetros de água ela ingere diariamente.

Screenshot do painel online da FitBit

Um dos pontos mais interessantes da FitBit Flex em relação aos seus consumidores é o fato de que ela é uma “pulseira sem frescuras”, falando da forma mais direta possível. Diferente de outros smartbands disponíveis no mercado, o gadget conta com uma API aberta que pode ser utilizada por qualquer desenvolvedor interessado em criar soluções que dialogam com o produto. Graças a isso, o ecossistema da Flex é vasto e crescente, sendo possível conectar sua conta do serviço com diversos outros apps e sites que façam um uso avançado dos dados coletados pelo rastreador.

Lose It!, MyFitnessPal, Microsoft HealthVault e MyFitLeague são apenas alguns dos diversos serviços que se comunicam de maneira fantástica com a pulseira inteligente da FitBit. Estivemos usando o bracelete em conjunto com o Endomondo (no Windows Phone) e podemos dizer que o resultado é bem interessante, com trocas constantes de informações entre ambas as partes conectadas.

Até mesmo o IFTTT pode ser usado em conjunto com sua FitBit: que tal programá-lo para publicar um tweet em seu perfil quando você atingir 5 mil passos, ou enviar um SMS quando a bateria da pulseira estiver acabando? As possibilidades são praticamente infinitas: tudo depende da sua criatividade e perfil de uso.

App oficial do FitBit para iOS

Uma rotina high-tech

Após usar a FitBit Flex durante vários dias e sem tirá-la em nenhum momento, podemos dizer que a pulseira atinge seu objetivo de incentivar seus usuários a levar uma vida mais saudável com sucesso. Você pode se sentir desconfortável com o gadget em seu braço durante as primeiras horas de uso, mas é fácil se acostumar com ele após dois ou três dias. A bateria da Flex é competente, durante cerca de cinco dias e recarregando em míseras duas horas – para enchê-la de energia, basta plugá-la no carregador USB que acompanha o acessório.

Sendo resistente à água, não retiramos a pulseira nem mesmo para tomar banho – vale observar, contudo, que notamos a presença de um pouco de umidade dentro do visor do bracelete após tal experiência. Mesmo que esse líquido retido não faça mal ao dispositivo eletrônico, ele não deixa de ser bastante incômodo, o que nos obrigou a secar o produto após colocá-lo na água.

Também é necessário se acostumar a lembrar de ativar e desativar o modo de sono nos momentos corretos: nos esquecemos de fazer isso em duas ocasiões, fazendo com que a Flex registrasse cochilos bem mais longos e armazenasse dados incompatíveis com a realidade. Seria interessante caso o produto fosse capaz de detectar sozinho sempre que você está efetivamente dormindo, entendendo a falta de movimentação como um período de descanso merecido.

FitBit Flex sendo recarregada através de uma porta USB

Vale a pena?

A utilidade da FitBit Flex depende muito do perfil de seu utilizador. Se você procura uma pulseira cuja principal função seja agir como uma extensão de seu telefone celular – enviando notificações e rodando aplicativos simples, como é o caso da Razer Nabu e da Gear Fit –, a Flex definitivamente não foi feita para você. Como explicitamos nesta análise, o produto é um tanto simplista em sua comunicação com o usuário e atua de forma discreta em seu pulso, se limitando apenas a rastrear informações, e não exibi-las.

Por outro lado, se você é uma pessoa que pratica caminhadas com frequência e se esforça para levar uma vida saudável, o produto se mostra um gadget sensacional capaz de automatizar a sua rotina de uma maneira mágica. Ela também serve como um belo incentivo para iniciar um cotidiano fitness, já que é impossível não se sentir motivado a bater suas metas diárias, desbloquear conquistas e competir contra seus amigos através do painel online do serviço.

Pessoalmente falando, eu mesmo ando caminhando bem mais do que o de costume, tendo desenvolvido certa “paranoia” em ver as cinco luzes LED da Flex me parabenizando pelo cumprimento dos 10 mil passos ao fim de cada dia: a sensação de dever cumprido é gratificante e faz com que você se sinta dentro de um jogo eletrônico.

Se essas são as características que você espera de uma smartband, não hesite em comprar uma FitBit Flex – e, se possível, tente fazê-lo fora do país, pois R$ 450 não é um valor apropriado para os recursos que o bracelete tem a oferecer. Os US$ 99 (cerca de R$ 250) praticados no mercado internacional são perfeitamente condizentes com os pontos fortes e fracos do aparelho, sendo possível até mesmo relevar a falta de um altímetro.

De fato, usar uma Flex é uma excelente maneira de entrar no mundo dos dispositivos vestíveis. Esse mercado ainda não mostrou seu real poder, mas um gadget razoavelmente barato e simples como este da FitBit tem um papel importante para que comecemos a nos acostumar com a ideia de ter um computador nos observando de forma íntima durante dia e noite, se transformando em mais um eletrônico que nos acompanha em qualquer lugar que formos. Aprovado!

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