O sonho de ter a sua própria usina de energia em casa já é realidade

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It’s a game changer. Entre todas as expressões que a indústria persegue, talvez não exista uma mais importante do que essa. Em tradução direta estamos falando de “uma mudança no jogo”, um produto tão revolucionário que seja capaz de não apenas criar um novo mercado, mas também de ser desejado efetivamente pela grande maioria dos consumidores.

Ao longo da História, poucos tiveram o prazer de conseguir essa façanha. Nas últimas décadas, podemos resumir em no máximo duas dezenas as invenções que, de fato, transformaram as relações entre os seres humanos. Você consegue se imaginar hoje sem um celular ou um smartphone? Se a sua resposta foi “não” saiba que você está diante de um “game changer”.

Quando nos referimos a isso, não queremos dizer que seja preciso reinventar a roda. Celulares já existiam. Aplicativos nos PCs também. Porém, softwares avançados rodando em celulares deram origens aos smartphones, produto que hoje talvez seja o maior ícone de revolução em nossa sociedade.

Elon Musk, o Tony Stark da vida real

Diariamente nas páginas do TecMundo temos a oportunidade de acompanhar uma porção de ideias distintas, vindas de muitos executivos e de diversas empresas. Porém, são poucos que merecem ganhar o título de gênio. Steve Jobs foi um. Bill Gates, Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg são outros nomes que podemos citar. Mas há um que merece atenção especial nesse momento: Elon Musk.

Aos 43 anos, o sul-africano filho de uma modelo e um engenheiro mecânico, parece ainda estar procurando o ponto mais alto de sua carreira, cujo currículo já conta com uma boa dose de sucessos. Empresário, inventor e investidor, Musk hoje é responsável pela Tesla Motors, pela Space X e pela Solar City.

Praticamente do zero ele levou a Tesla Motors, somente com carros elétricos, a conquistar quase 10% do mercado de veículos de luxo nos EUA, concorrendo diretamente com as montadoras tradicionais. De quebra, eliminou concessionárias e adotou um plano de venda direto ao consumidor, com atendimento personalizado, algo que despertou a ira das fabricantes rivais.

É sua intenção também levar os primeiros voos tripulados para o espaço, por meio das tecnologias da SpaceX, desenvolvidas em parceria com a NASA. A companhia, visa ainda criar o Hyperloop, uma espécie de trem capaz de percorrer os 560 km que separam Los Angeles de San Francisco em apenas 35 minutos.

Contudo, todas essas tecnologias que por si só já seriam suficientes para inscrever o seu nome na História podem ficar em segundo plano caso seu mais novo anúncio se torne uma realidade no dia a dia.

Powerwall: uma usina elétrica na sua casa

A novidade atende pelo nome de Powerwall. Trata-se de uma grande bateria, com capacidade de 10 kWh, que pode acumular energia a partir de painéis solares. Baterias como essas já existem e captar energia do Sol não é uma novidade, então qual é a revolução que temos aqui? Vamos explicar.

A produção de energia elétrica é hoje um problema em praticamente todos os países. No Brasil, por exemplo, são constantes os “apagões” por conta da falta de infraestrutura necessária para atender as demandas cada vez maiores de um mundo cada vez mais digital.

Por aqui, as usinas hidroelétricas ainda são a maneira mais utilizada para gerar energia. Embora elas sejam menos poluentes que outras, a construção de um sistema como esse demanda profundas modificações na natureza, mudando leitos de rios e obrigando a extinção de ecossistemas inteiros em algumas regiões.

Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo dados da U.S. Energy Information Administration, 39% da energia é gerada por meio de usinas de carvão, 27% por meio de gás natural e outros 19% a partir de energia nuclear. As chamadas energias renováveis representam apenas 7% desse montante. Os índices de poluição, infelizmente, acompanham esses percentuais, num cenário longe do ideal.

O futuro a partir da energia solar

Aquela que poderia ser a nossa principal fonte de energia é gratuita e praticamente infinita. Todos os dias quando o sol nasce, os raios que banham a Terra também poderiam servir como fonte de alimentação energética caso tivéssemos um ecossistema preparado para isso.

Entretanto, mesmo em países desenvolvidos, o uso de painéis solares ainda é caro e montar uma estrutura de armazenamento de energia, principalmente para o uso noturno, era um problema até então. É justamente nesse cenário que Elon Musk tentará implantar a sua ideia: e se não fosse tão difícil armazenar essa energia, porque continuaríamos pagando por algo que o sol nos dá de graça? E é aí que entra em cena o Powerwall.

Em um primeiro momento, esqueça o preço. As primeiras unidades devem custar cerca de US$ 3,5 mil cada. O valor pode ser considerado um investimento. Levando-se em consideração que um americano gasta cerca de US$ 100 por mês com sua conta de luz, seriam necessários 35 meses para que o produto valesse a pena. Depois disso, custo zero para sempre.

E antes que você pule para os comentários para dizer “ah, mas no Brasil isso vai custar uns R$ 15 mil mais impostos”, aí vai outra informação. Essa tecnologia não virá para o Brasil tão cedo, não nos próximos cinco anos. E isso é ótimo, mesmo. Não é que os brasileiros não precisem disso, muito pelo contrário. Mas é que isso dará o tempo necessário para que exista demanda por aparelhos como esse e, com o aumento da demanda, o custo unitário cai.

Conheça o produto

Desenhado para ser colocado na parede, com um quadro, o Powerwall pesa cerca de 100 quilos (ele não é portátil e essa não é sua proposta) e mede 130 cm (altura) x 86 cm (largura). Haverá inicialmente modelos com capacidade de armazenar 7 kWh e 10 kWh. Traduzindo esses números: a conta de luz da minha casa, por exemplo, indica um consumo médio de 80 kWh. Isso significa que eu precisaria de umas oito cargas por mês para simplesmente dizer adeus à Copel (Companhia Paranaense de Energia) de uma vez por todas.

Mais alguns dados para você ter uma ideia de como 10 kWh é bastante coisa: uma lâmpada acesa consome 0,1 kWh por hora; um notebook na tomada consome 0,05 kWh por hora; uma máquina de lavar roupas gasta 2,3 kWh por ciclo. Ou seja, já deu pra entender que a capacidade é mais do que suficiente para gerenciar a sua casa ao longo dos dias.

Para quem mora em uma cidade grande, como Curitiba, em um primeiro momento a ideia de substituir a sua conta de luz por uma usina elétrica própria pode até parecer algo desnecessário. Porém, analise a questão por outro lado: e aquelas cidades no interior, cujas fazendas isoladas não têm ainda a infraestrutura necessária para ter luz elétrica? Basta um Powerwall na parede e tudo estará resolvido.

Um projeto open source

De nada adianta uma boa ideia se ela não é colocada em prática. No caso da indústria, de nada adianta um bom produto se não existe mercado para ele. Elon Musk está ciente disso e sabe que, provavelmente, se ele for o único fabricante de baterias no mercado é possível que esse “mercado” nem chegue a existir.

Por conta disso, ele anunciou também durante a apresentação que a utilização de todas as tecnologias envolvidas no processo é gratuita e aberta. Ou seja: qualquer um que queira copiar a sua ideia não precisa pagar nada por isso. Da parte dele, ele garante que haverá infraestrutura necessária para construir quantas baterias forem preciso.

No final do ano passado, a Tesla anunciou a construção da primeira Gigafactory, uma fábrica localizada no estado de Nevada, nos Estados Unidos, que será capaz de produzir 50 GWh em bateria. As instalações serão também o “projeto-piloto” para por à prova à sua ideia, já que a fábrica será mantida 100% por energias renováveis. É como se tivéssemos um gigantesco painel solar no deserto, absorvendo energia para gerar mais energia. Energia infinita, em outras palavras.

Quanto ao projeto da fábrica, nada de segredos: ele também é open source e pode ser copiado por quem quiser. A expectativa é que a unidade fique pronta em 2020.

Energias renováveis podem mudar o futuro?

Fazer qualquer tipo de previsão para o futuro sempre é algo perigoso e, obviamente, incerto. Entretanto, entre as certezas que temos é que cada vez o uso de energia elétrica será maior, pois ela está mais acessível e há cada vez mais produtos que precisam dela. Entretanto, boa parte das fontes de geração de energia utilizadas são finitas – e, para piorar, poluentes.

Experiências com energias renováveis, como a eólica (a partir do vento) e a solar, têm se mostrado o caminho menos danoso ao meio ambiente e mais confiável a se seguir. Contudo, mudar o modelo de negócios, nesse caso, não é algo que acontecerá da noite para o dia, não apenas pela tecnologia necessária, mas pela complexidade do cenário e dos fatores políticos envolvidos.

A proposta de Elon Musk é viável e, em um primeiro momento, depende mais da sua adoção para que se torne mais acessível. Assim como fez na indústria automotiva, eliminando os intermediários e vendendo seus veículos diretamente para o consumidor, sua proposta é fazer o mesmo com a geração de energia elétrica. E não tenha dúvida que empecilhos não vão faltar no seu caminho até que isso esteja próximo de se tornar realidade.

Tímido, mas bastante objetivo, Elon Musk resumiu a sua proposta em apenas 20 minutos na conferência que apresentou (vídeo abaixo, em inglês). Ele apresentou a novidade à imprensa como se estivesse em uma reunião de amigos – um tom informal quase impensável nos dias de hoje, repletos de keynotes coreografadas e cheias de imagens de impacto para vender produtos que fazem mais do mesmo.

Assim como alguns gênios que listamos aqui foram capazes de transformar o mundo introduzindo novos produtos que “mudaram as regras do jogo”, talvez tenha chegado a hora de Elon Musk dar a sua principal contribuição à sociedade. O “Tony Stark da vida real” tem em suas mãos o poder de iniciar aquela que poderá ser uma das maiores transformações já vistas na indústria. E por um mundo melhor, torcemos muito para que tudo isso se torne realidade o mais rápido possível.

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