Ciência

Tempestades no oceano podem gerar “terremotos” no núcleo da Terra

Um grupo de pesquisadores descobriu que tempestades no oceano podem induzir terremotos que chegam até o núcleo da Terra.

Avatar do(a) autor(a): Lucas Vinicius Santos

15/05/2025, às 18:00

Algumas tempestades podem provocar diversas consequências para a população humana, desde inundações em áreas urbanas até riscos à vida e à saúde das pessoas que estão na região. Agora, um estudo sugere que tempestades no oceano podem gerar “terremotos” que reverberam até o núcleo da Terra.

De acordo com um novo estudo publicado na revista científica Seismological Research Letters, pesquisadores da Universidade Nacional Australiana (ANU) descreveram que as tempestades de inverno mais intensas, que ocorrem perto da Groenlândia, podem gerar ondas sísmicas no interior da Terra.

Eles também identificaram sinais semelhantes provocados por tempestades em Terra Nova e Labrador, uma província do Canadá. Vale destacar que não é um terremoto em si, mas ondas sísmicas de um tipo específico.

A equipe desenvolveu uma tecnologia de detecção de ondas sísmicas, instalada em uma região remota da Austrália, capaz de identificar sinais que chegam até o interior do planeta. Os pesquisadores afirmam, inclusive, que o método pode ser útil para estudos semelhantes em outros planetas.

"Este método, particularmente no contexto da exploração de outros planetas e luas geladas, pode ser usado para identificar planetas com núcleo, incluindo aqueles que não possuem placas tectônicas ou vulcões, bem como planetas que não sofrem terremotos, fornecendo dados valiosos para futuras explorações", disse um dos autores do estudo, Abhay Pandey, em comunicado oficial.

Tempestades e terremotos no núcleo da Terra

O fenômeno registrado pelos equipamentos é chamado de "ruído microssísmico", que ocorre quando a interação entre o oceano e a superfície sólida gera ondas sísmicas capazes de viajar até o interior da Terra. O método de detecção utilizou dois conjuntos de sismômetros com braços em espiral, instalados em regiões remotas da Austrália.

Os sinais microssísmicos não dependem apenas da presença de tempestades oceânicas, mas também da intensidade dessas tempestades, da profundidade do oceano, da distância, da faixa de frequência, entre outras variáveis.

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Apesar da dificuldade em registrar essas ondas sísmicas que reverberam até o núcleo da Terra, a tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores permitiu a captação desses sinais. (Fonte: Getty Images)

Pandey explica que foram analisados vários dias de dados para entender as ondas sísmicas mais intensas. Os resultados permitiram identificar a origem e o destino dessas ondas. Esse tipo de onda sísmica é chamado de PKP, um tipo que consegue atravessar até o núcleo da Terra.

Segundo os autores, esses sinais são difíceis de detectar, mas os conjuntos de sismômetros instalados em regiões remotas facilitaram essa captação — eles são muito mais fracos do que os gerados por terremotos comuns. Os dados coletados pelos equipamentos poderão ser utilizados para compreender melhor as características do núcleo da Terra.

“Nossas descobertas destacam a eficácia de arranjos espirais de pequena abertura na detecção de sinais sensíveis ao núcleo gerados por tempestades distantes, com possíveis implicações futuras para o estudo do interior da Terra”, o estudo acrescenta.

Ondas sísmicas provocadas por tempestades mostram que o interior da Terra ainda guarda muitos mistérios; inclusive, esses sinais podem carregar informações escondidas por décadas. Quer saber mais? Entenda como terremotos atuais podem ser ecos de tremores com mais de 100 anos. Até a próxima!


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Por Lucas Vinicius Santos

Especialista em Redator

Lucas Guimarães escreve sobre ciência e tecnologia há mais de dez anos.