Ato de presentear em excesso: o que isso diz sobre a personalidade neuropsicologicamente falando?
No Transtorno de Personalidade Narcisista, o presente pode não ser um ato de empatia ou altruísmo, mas um instrumento de controle.

Por Equipe TecMundo
27/04/2025, às 14:00

Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
O ato de oferecer presentes pode transcender a interpretação superficial de generosidade, funcionando como expressão de estratégias relacionais estruturadas por padrões de personalidade.
Quando a frequência e a intensidade do comportamento se destacam em contraste com o contexto relacional, torna-se relevante analisá-lo à luz dos transtornos de personalidade do grupo B do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, notadamente o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e o Transtorno de Personalidade Histriônica (TPH), cuja manifestação envolve teatralização afetiva e manipulação por reforço externo.

No TPN, o presente pode não ser um ato de empatia ou altruísmo, mas um instrumento de controle e manutenção do autoconceito grandioso. A entrega do presente visa o retorno emocional e simbólico, operando como mecanismo de retroalimentação do ego. Esse comportamento é sustentado por um perfil neurobiológico em que a conectividade do córtex pré-frontal medial com estruturas límbicas se mostra alterada, reduzindo a responsividade à empatia e à reciprocidade afetiva.
No TPH, o presentear aparece como comportamento de ativação emocional e de busca por atenção. A necessidade de constante estimulação e aprovação externa leva o indivíduo a gestos que aparentam generosidade, mas são modulados por baixa tolerância à inibição afetiva e pela dramatização de vínculos, típica de estruturas cerebrais hiperreativas ao julgamento social.

Em contraposição, sujeitos que não exibem esses padrões de dramatização e validação externa tendem a expressar seu valor social por meios imateriais, como ideias, escuta, presença estratégica ou produção simbólica. Esses comportamentos, frequentemente associados a altos níveis de consciência autorreferencial e autocontrole, sugerem perfis com maior integração funcional entre os sistemas límbico e executivo, favorecendo a internalização do valor das relações e a recusa à teatralização.
Portanto, o ato de presentear em excesso deve ser analisado não como um traço isolado, mas como expressão de uma arquitetura cognitivo-emocional que, em determinadas condições, pode sinalizar disfunções adaptativas no campo afetivo e social. A observação clínica exige cautela na interpretação e exige correlação com padrões de repetição, coerência narrativa e motivação relacional.
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Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós-PhD em Neurociências, é membro da Society for Neuroscience (EUA), Royal Society of Biology e Medicine (Reino Unido), entre outras. Mestre em Psicologia, licenciado em História e Biologia, tecnólogo em Antropologia e Filosofia. Autor de 300 estudos e 30 livros, membro de sociedades de alto QI como Mensa, Intertel, Triple Nine, IIS e ISI. Professor em PUCRS, UNIFRANZ e Santander, diretor do CPAH e criador do projeto GIP.